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Na tarde de terça-feira (7/10), o Espaço Ilha Conexões na 80ª Semana Oficial da Engenharia e da Agronomia (Soea), em Vitória (ES), reuniu profissionais que abordaram a valorização dos saberes indígenas, os desafios e as oportunidades do tema. O primeiro painel da tarde, moderado pela engenheira de pesca Alzira Miranda, presidente do Crea-AM, destacou o papel dos povos indígenas na construção de uma engenharia mais inclusiva, intercultural e sustentável.
A geóloga Cisnea Menezes Basilio, que coordena o Núcleo Estadual de Fronteira do Estado do Amazonas (NIFFAM), abriu a discussão com a palestra “Geologia dos lugares sagrados dos povos indígenas do Alto Rio Negro”. Ela destacou que sua pesquisa vai além do aspecto científico, representando um processo de reconexão cultural e de valorização da ancestralidade. “Antes, o conhecimento era passado pela fala. Hoje, os indígenas estão também na academia e na pesquisa científica, ampliando a compreensão das ciências geológicas a partir da visão ancestral”, afirmou, ressaltando a importância de metodologias participativas e decoloniais na construção do conhecimento.
Na sequência, Orome Otumaka Ikpeng, estudante de Engenharia Florestal, ativista e diretor da Rede de Sementes do Xingu, apresentou a palestra “Povos indígenas e a Engenharia Florestal: construindo pontes entre saberes tradicionais e ciência ambiental”. Orome destacou a importância dos povos indígenas como guardiões de vastas áreas de floresta e defendeu a integração entre o conhecimento tradicional e o científico como caminho essencial para o futuro da sustentabilidade.
“O que nós chamamos de floresta é mais do que um conjunto de árvores — é um ser vivo que nos ensina. Os engenheiros precisam entender isso para projetar com respeito à vida e à natureza. A Engenharia Florestal deve ser um instrumento de reconexão entre o ser humano e o meio ambiente”, afirmou. Ele apresentou exemplos de manejo sustentável realizados por comunidades indígenas, como o manejo do pirarucu no Médio Solimões, a certificação FSC em áreas comunitárias e os sistemas agroflorestais tradicionais usados na recuperação de áreas degradadas.
Quebrando barreiras: Indígenas e a Engenharia
Orome também chamou atenção para a necessidade de se formarem engenheiros capazes de dialogar com os povos indígenas, reconhecendo seus protocolos e valorizando suas práticas de manejo sustentável. “Os povos indígenas não são contra o desenvolvimento. Queremos, sim, o desenvolvimento do país — mas de forma que respeite o nosso espaço e o meio ambiente. Se a Engenharia quer inovar de verdade, precisa ouvir quem está na floresta há séculos cuidando dela”, concluiu.
Encerrando o painel, a engenheira florestal e professora da UFSCar Fátima Piña-Rodrigues trouxe a palestra “Quebrando barreiras: o papel da universidade pública”. Fátima apresentou dados sobre a presença indígena nas universidades brasileiras — dos 9,9 milhões de matriculados no ensino superior, apenas 70 mil são indígenas, e desses, somente 16% cursam Engenharia. Ela destacou que as principais barreiras à permanência e conclusão estão ligadas a fatores socioeconômicos, culturais e linguísticos.
“A inclusão não termina na entrada da universidade. É preciso garantir permanência e conclusão, com acolhimento, formação intercultural e políticas de apoio”, diz. Além disso, a professora destacou a importância do saber dos indígenas para as universidades e a formação dos profissionais. “Incorporar o conhecimento indígena na academia é essencial para atingirmos as metas nacionais de reflorestamento e conservação”, afirmou.
Fátima, assim como Orome, propuseram mudanças curriculares nos cursos de Engenharia Florestal, incluindo disciplinas sobre etnociências, políticas públicas e direitos indígenas, além de metodologias de ensino baseadas em projetos comunitários, aulas de campo em terras indígenas e uso de tecnologias como SIG e drones em diálogo com os saberes tradicionais.




