pube
#TBTConexãoSafra

‘Passione’ que vem do velho mundo

Italiano se torna porta-voz dos cafés especiais da Coopeavi com filosofia própria que respeita a origem dos grãos e valoriza a história dos cafeicultores das montanhas capixabas

por Leandro Fidelis

em 16/11/2023 às 6h00

8 min de leitura

‘Passione’ que vem do velho mundo

*Foto: Leandro Fidelis/Imagem com direito autoral. Proibida reprodução sem autorização)

*Matéria publicada originalmente em 17/10/2018

(De Treviso, Itália)

Os cafés especiais produzidos nas montanhas capixabas estão fazendo o caminho inverso da imigração italiana, que teve seu ápice em 1891 no Espírito Santo. Na província de Treviso (Vêneto), norte da Itália e origem de muitos descendentes, o empresário Michele Carisi é o porta-voz dos grãos de altíssima qualidade produzidos por pequenos produtores ligados à Cooperativa Agropecuária Centro Serrana (Coopeavi).

Aos 51 anos, esse italiano de Maserada Sul Piave é entusiasta de uma filosofia própria que combina comunicação, paixão e empreendedorismo no gancho da terceira onda do café. Surgido na Austrália e caracterizado por novos métodos de torra e filtragem e valorização das origens, o movimento é uma realidade recente na Itália.

E a sede desse projeto é a“Caffettin- microtorrefação e cafetria ”, que funciona na parte inferior da casa com mais de um século herdada por Carisi do bisavô. No balcão do empreendimento e pelas incursões no “Bel Paese ”, o empresário quer mostrar ao país tradicional consumidor e ao restante da Europa que “um bom café, mais que sabor, também pode comunicar coisas boas ”.

 

“O café pode mudar a visão das coisas, mudar o mundo. Meu pensamento vai além de mim. Não tenho objetivo de lucro, me concentro nas coisas bonitas do café. É a oportunidade de eu fazer algo bom, mostrar que enquanto o consumo do café se concentra no Ocidente, sua produção está na parte do mundo menos afortunada economicamente ”, define o empresário.

O interesse por cafés especiais começou há nove anos. Carisi diz que nasceu barista, mas quis aprofundar mais “essa matéria tão complexa, interessante e ampla ” que é a cafeicultura. Em 2016, conheceu a Coopeavi através do exportador Roberto Pagotto. Ao saber do trabalho da cooperativa, logo desejou experimentar os cafés arábicas das montanhas capixabas em função dos aromas diferenciados e da questão social por trás da produção.

“Encontrei pessoas justas que fazem a diferença. A confiança com Roberto foi recíproca. Primeiro veio a relação de amizade, depois de lavoura. Eu me senti honrado com a credibilidade de uma cooperativa com mais de 12 mil associados, pois naquele momento não contava a quantidade, mas tudo que poderia vir depois ”, diz o empresário.

pube

Há dez anos na Itália, Pagotto(nafoto abaixo) afirma que a ponte dos cafés capixabas com os compradores do país contribui na renda dos produtores. “O café da Coopeavi merece projeção lá fora, porque sai diretamente dos produtores para quem vai torrar e consumir, valorizando o seu trabalho, pois geralmente é o que menos ganha na cadeia de café. O trabalho da cooperativa é importante, tem que ser valorizado ”, destaca.

 

Primeiro lote

A primeira compra dos cafés da Coopeavi pelo empresário italiano ocorreu em 2016 e contemplou a seleção do produtor José Leandro Romão, de Castelo, no sul do Espírito Santo. Grãos que, segundo Carisi, são de excelência na bebida, com pontuação média de 90 pontos (Clique aqui para conhecer ahistória do produtor). O valor pago por uma saca de especiais chega a ser o triplo de uma de arábica de bebida rio.

O microlote formado por seis sacas com notas sensoriais de fruta seca e chocolate chegou de avião na Itália. Na “Caffettin ”, o café verde foi torrado para ser vendido em pacotes com rastreabilidade (contendo informações completas da origem e condições de como foi produzido) e servido na forma de espresso.

 

Clique aqui para conferir a entrevista na íntegra!

 

“Eu me apaixonei pelos cafés das montanhas capixabas e vi potencialidade nessa ponte com a Coopeavi, porque todos bebemos café, principalmente na Itália. Quero mostrar aos meus clientes que este café vem de uma zona específica do Brasil, produzido por um pequeno produtor ligado à tal cooperativa, que há várias gerações produz este grão, dando valor agregado a tudo isto ”, explica Carisi.

O café de José Leandro Romão(foto abaixo)faz sucesso entre os frequentadores da cafeteria. “É particularmente perfumado, rico, muito diferente de outros brasileiros. Pretendo conhecer o cafeicultor ano que vem no Brasil ”. O produtor se diz surpreso com a repercussão. “É legal ver meu produto do outro lado do Oceano, uma vez que no Brasil as coisas andam difíceis ”, diz Romão, vendedor de vários prêmios de qualidade.

Com rastreabilidade e valorização das origens, cafés especiais garantem mercado diferenciado para produtos dos cafeicultores capixabas na Itália, onde a terceira onda da cafeicultura apenas começou (*Foto: Leandro Fidelis).

 

Novos negócios

No ano passado, Carisi fechou mais uma compra de microlotes da cooperativa, dentre eles com cafés especiais de Gilberto Brioschi, de Venda Nova do Imigrante (Conheça ahistória do produtor). Desta vez, o transporte foi todo feito de navio e carreta.

Sempre em busca de sabores exóticos no Brasil e em outros países produtores, a exigência do comprador é que os cafés sejam de pequenos lotes e produzidos por pequenos produtores. “O importante é que tenham histórias por trás, não somente o café. Se não tem energia, nada acontece. A um pequeno produtor não é interessante pertencer a uma cooperativa que só se interessa por negócios. Tem que ter alguma coisa de bom, de genuíno, são e limpo. É esta operação que me gratifica ”, define Michele Carisi.

Para o empresário, o cooperativismo é a saída para os pequenos produtores acessarem o mercado de cafés especiais. “O cooperativismo é fundamental no país de vocês, porque é o caminho para a sobrevivência no mundo da produção. Quando soube que a Coopeavi era formada por pequenos produtores que se unem para fazer qualidade, isto já era uma resposta importante para mim. A força só acontece quando são unidos. Quando conheci a cooperativa confirmei esta boa imagem da Coopeavi e dos seus produtos ”.

O gerente do Negócio Café da Coopeavi, Giliarde Cardoso, conheceu Carisi pessoalmente durante uma feira internacional em Milão (Itália), em 2017. Foi na oportunidade do evento que sentiu a terceira onda da cafeicultura inundar o país. “O interesse deles é brincar de alquimista, com curvas de torras diferentes para métodos diferentes ”.

Para Cardoso, a proposta de Michele Carisi “casa bem com o trabalho da cooperativa, que é representar os produtores. Michele é uma referência na terceira onda do café. O consumidor quer um pouco mais como o café é produzido. Tudo que as cafeterias lá fora precisam saber neste momento é a origem dos grãos. A relevância disso está na agregação de valor, pois estamos falando de qualidade do produto para um público específico ”, finaliza.

 

‘O mundo está querendo os nossos cafés’, diz degustador

Os cafés da Coopeavi transmitem a imagem das montanhas capixabas na Itália. Esta é a avaliação do degustador e coordenador da Pronova Coffee Stories, sede de análises e armazenamento dos cafés da cooperativa em Venda Nova, Carlos Altoé.

“Nossos cafés estão indo para um lugar que até então nunca tínhamos atuado. Hoje, os nomes dos nossos cooperados estão lá, e Michele é nosso carro-chefe na divulgação e na promoção do consumo do nosso café. É um orgulho muito grande para a cooperativa, pois agrega valor aos produtores ”, afirma Altoé.

No laboratório da Pronova, reformulado e reinaugurado em setembro, os produtores que estão inovando nos processos de colheita sentem o termômetro da qualidade dos seus grãos de arábica. “Quando encontramos um café conforme a preferência do comprador internacional, a gente separa, avalia e seleciona. Temos muitos cafés de excelência ”.

A Coopeavi mantém comércio com Suíça e Estados Unidos e este ano enviou pela primeira vez cafés para Austrália e China. Segundo Carlos Altoé, a Itália ainda consome muito café natural, sendo mais de 90% de grãos de Minas Gerais.

“Os contêineres fechados ainda contam com maioria de cafés de Minas, mas a tendência é aumentar a demanda pelos das montanhas capixabas. O produtor que faz qualidade será escolhido, não ficará de fora, porque o mundo está querendo os nossos cafés ”, ressalta o coordenador da Pronova.

E de acordo com Altoé, o cooperativismo ainda é o caminho mais seguro e justo para os pequenos produtores garantirem venda de microlotes especiais no exterior. “Em qualquer área hoje não se faz nada se atuar sozinho. No café, se os produtores tiverem a consciência de que a união é fundamental, todo mundo sai ganhando, tanto financeiramente como a parte de conhecimento e apoio que a cooperativa fornece ”, conclui.

Somente em 2017, a Coopeavi produziu 32 mil sacas de café especial e exportou 8.500 mil. Um crescimento de 8% em relação a 2016, quando foram exportadas 7000 sacas.

O interesse dos italianos pelos cafés da Coopeavi só cresce. No dia 21 de setembro, uma comitiva da Itáliavisitou a sede da cooperativa, em Santa Maria, e localidades produtoras em Vila Valério e Venda Nova e em Caratinga (MG). O grupo foi formado por clientes e potenciais compradores dos cafés especiais da cooperativa. Já no dia 1º de outubro, Michele Carisi recebeu especialistas italianos, dentre microtorrefadores, baristas e empresários do ramo de máquinas para espresso, para um evento na “Caffettin ”, na Itália. O empresário foi escolhido como referência em todo o país para uma operação de marketing que visa promover regiões produtoras de café para a Europa, dentre elas as atendidas pela Coopeavi. 

 

Clique aqui e receba as principais notícias do dia no seu WhatsApp e fique por dentro do que acontece no agronegócio!