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Fundão muito além do ‘Shopping das Mexericas’

Aproveitando a proximidade entre mar e montanha, agroindústrias locais investem em produtos diferenciados para cativar os turistas

por Leandro Fidelis

em 16/11/2023 às 6h00

6 min de leitura

Fundão muito além do ‘Shopping das Mexericas’

Gabriela Fosse administra o Laticínio Lorena, inaugurado em 1993 pela sua família. (*Fotos: Leandro Fidelis/Imagem com direito autoral. Proibida reprodução sem autorização)

*Matéria publicada originalmente em 14/06/2021

A venda de mexericas à beira da BR-101 é uma cena que se repete há mais de 25 anos em Fundão. O aglomerado de barraquinhas às margens da rodovia ficou conhecido como “Shopping das Mexericas”. Mas, se depender de alguns moradores, a fama da cidade não se restringirá ao comércio da fruta. Aproveitando a proximidade entre mar e montanha, agroindústrias locais investem em produtos diferenciados para cativar os turistas.

Representada por um rebanho estimado em 2.000 vacas ordenhadas (segundo estatísticas de 2019 divulgadas no “Anuário do Agronegócio Capixaba”), a pecuária leiteira reflete na produção de queijos, iogurtes, ricota, manteiga e requeijão. E as novas paradas obrigatórias vão além do eixo central de Fundão, a exemplo da Rodovia Josil Espíndula Agostini, que liga a cidade a Santa Teresa, na região serrana do Espírito Santo.

É o caso do Laticínio Lorena, no km 03, inaugurado há 28 anos pela família Totola Fosse. Os queijos são todos de fabricação própria, com destaque nas vendas para os tipos Minas, Frescal, Parmesão, Provolone e o Minas Premium, com cura diferenciada. Filha do casal pioneiro, Gabriela Fosse (38) afirma que os principais clientes são os “passantes”, pessoas a trabalho, mas a maioria ainda são turistas a caminho das montanhas.

A pandemia mudou essa rotina e o ritmo de produção no laticínio. “O fluxo ficou bem instável neste período por conta dos decretos. Antes da pandemia, era possível trabalhar com programação para as próximas semanas, hoje, esse trabalho é feito semanalmente”, conta Gabriela.

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Apesar de pertencer à Grande Vitória, a empresária considera Fundão um município agro. “O município conta com muitas propriedades rurais que produzem os mais variados produtos”.

A apenas 500 metros do Laticínios Lorena funciona a Queijaria Canto da Roça, no km 2,5. Dentre os mais variados queijos, a “menina dos olhos” da família Vescovi Rosa é o Minas Curado. “Adoramos trabalhar com inovação. Os derivados como manteigas, iogurtes e ricota também são muito queridos”, diz Bruna Rosa (25).

O pai da jovem, Marcos Tadeu Rosa (57), já produzia leite e conta que teve ideia de criar a queijaria há 30 anos quando conheceu os sítios de agroturismo de Venda Nova do Imigrante. Ele foi orientado a procurar o Sebrae, que o encaminhou para cursos em Nova Friburgo (RJ) e Juiz de Fora e Viçosa, em Minas Gerais. “Sempre fui aprimorando, estudando e trabalhando até chegar onde chegamos”.

Para o queijeiro, a proximidade de Fundão com centros maiores ajuda muito nos negócios, que também enfrentaram dificuldades na pandemia.

“Fundão é um interior dentro da capital. A tendência quando comecei era visando o turista que vai para Santa Teresa. Não podemos reclamar do movimento. É fé em Deus e muito trabalho”, finaliza Marcos Tadeu.

A produção agropecuária no município metropolitano se distribui conforme os acessos, aponta o Incaper. Além das queijarias, a saída para a região serrana conta com plantações de café conilon e banana, enquanto a pecuária de leite e de corte se concentra no sentido das praias. Em toda Fundão ainda existem agroindústrias familiares com fabricação de tapioca, pães, doces e polpas de fruta.

Embutidos

A expressão em italiano “famiglia allargata” serve para definir uma família formada por casais vindos de outros casamentos e que trazem os filhos para conviver no mesmo núcleo como irmãos, mesmo sem laços sanguíneos.

No Sítio Morada Nova, no bairro Orly Ramos, dois descendentes de italianos viram suas famílias dobrarem de tamanho quando decidiram se unir há três anos. O casal Adriano Ramos (50) e Adriana Colli Lima (42) soma quatro filhos e conta com a prole na produção de embutidos e defumados de carne de porco.

A família toca a agroindústria “Morada Nova”, uma referência à casa que Adriano e Adriana construíram para abrigar a nova família. Ele tinha o sonho de abrir negócio próprio após fazer curso de defumados e embutidos pelo Senar-ES. A pandemia adiou os planos e, ansioso, começou a produzir linguiça de porco dentro de casa e a vender por encomenda na região.

A iniciativa deu certo e foi preciso um espaço mais adequado para produzir artesanalmente linguiças tradicional e calabresa, com versões recheadas com queijo e apimentada, linguiça de frango com cheiro verde, codeguin, banha de porco, além de cortes especiais de carne suína, como costelinha, copa lombo, picanha e outros e o kit feijoada.

A produção mensal é de 250 kg, mas em maio passou de 600 kg com o aumento da divulgação da agroindústria. Além dos atendimentos no sítio e das encomendas, os produtos são vendidos nas feiras livres de Fundão e ecológica do Shopping Boulevard, em Vila Velha.

Os produtos são fiscalizados pelo Serviço de Inspeção Municipal (SIM) e Cointer, por isso têm comércio licenciado em feiras, supermercados e mercearias dos municípios capixabas que aderiram ao Consórcio Público Intermunicipal para o Fortalecimento da Produção e Comercializacão de Produtos Hortigranjeiros.

“Também estamos nos credenciando para participar de outras feiras em Vitória, pois nosso interesse é a venda direta ao cliente para poder contar nossa história e mostrar nosso diferencial e qualidade, revivendo a história de nossos pais, avós e bisavós”, diz Adriano.

O próximo projeto da família é abrir um ponto de vendas no centro da cidade, próximo à BR-101 e ampliar a produção de embutidos para linguiças de churrasco toscana (massa toda moída) e calabresa mais rústica, recheada com pedaços maiores. Outra ideia é um tira-gosto que pode ser degustado cru.

O produtor aposta no crescimento econômico de Fundão a partir do agroturismo. “Nossa economia gira em torno da cafeicultura, principal economia do município, mas temos potencial para crescer no campo do agroturismo. Temos praia e montanha que podem ser visitadas com pouco mais de quarenta minutos de carro, sem contar a proximidade com a Grande Vitória”.

Adriano e Adriana comemoram o sucesso com os embutidos e defumados. Atrás dele, os filhos Felipe, que administra a agroindústria e faz as vendas nas feiras, e Raíssa. Ao lado da Adriana, os filhos Arthur (de óculos) e Danilo. A moça ao lado do Adriano é a nora Roberta, com a filha Maitê, de apenas oito meses. “Nossa garota propaganda”, derrete-se o avô. (*Foto: Andreia Fink)

 

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