Agrometeorologia

Sul de Minas colhe cafés miúdos após seca e calor acima da média

Com altas de temperatura e seca acima da média histórica ao longo da safra, os relatos são de cafés de peneira baixa e quebra na safra em cidades da região do Sul e Sudoeste de Minas

Foto: Tamires Ribeiro.

Em 2024, as temperaturas na região cafeeira do Sul e Sudoeste de Minas foram superiores à média história. É o que aponta Margarete Volpato, pesquisadora de Agrometeorologia aplicada à cafeicultura da Epamig (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais).

“Os meses de maiores temperatura foram março, abril, maio, julho e setembro (média 1˚C maior que histórica). Outro fato que tem ocorrido é a variação de ondas calor, com temperaturas máximas diárias acima 30 ˚ C seguidas de ondas de frio, fato que estressa o cafeeiro fisiologicamente”, explicou a pesquisadora.

Cafés miúdos

Outro ponto importante são as chuvas irregulares na região. A combinação desses fatores resultou em alguns problemas para os produtores, como desfolhamento e frutos menores. As peneiras menores foram relatadas por agricultores de diferentes cidades, como é o caso de Tamires Ribeiro, que tem cafezais em Andradas (MG).

“Essa safra foi muito desafiadora. As lavouras sofreram com o déficit hídrico e as temperaturas elevadas. Esses eventos prejudicaram muito a florada, em outubro de 2023, e o enchimento de grãos, de janeiro a março de 2024”, contou a produtora.

Com a colheita finalizada no sítio, a agricultora já observa o que clima causou no café. “A seca resultou em uma quebra da produção e também em peneiras menores. Este ano tivemos que inserir as peneiras 14/15 no mercado de cafés especiais. Isso nunca havia acontecido anteriormente”, revela ela.

Apesar de a qualidade não ter sido afetada, Tamires aponta que a quebra foi 27% na produção da safra 2024 frente ao que colheu em anos anteriores. “As peneiras caíram absurdamente. Quase não tivemos peneiras 16 acima”, destacou Ribeiro.

Foto: Tamires Ribeiro

Produtores precisam de mais café para honrar compromissos

Na região do Sudoeste de Minas o período de estiagem se estendeu por mais de 150 dias de seca entre abril e outubro, afirmou Fernando Barbosa, produtor e presidente da Associação dos Cafeicultores do Sudoeste de Minas.

Barbosa tem lavouras no município de São Pedro da União e explicou que a seca somada ao calor extremo impactou significativamente a colheita safra do café 2023/2024. “Muitos produtores relataram preocupação com a predominância de grãos de menor peneira, tem aumentado o volume de cafés classificados como miúdos, dificultando o preenchimento das sacas de 60 quilos”, afirmou.

Com grãos menores, Barbosa explica que os produtores estão precisando usar mais litros de café para compor uma saca. “A dificuldade foi para cumprir contratos antecipados de travas tipos 4/2 na Bolsa de café (que regula a commodity, em Nova Iorque)”, alertou o cafeicultor.

O clima parece, contudo, não ter comprometido a qualidade do café e, com as chuvas que vem sendo registradas neste mês de outubro, os produtores estão observaram com mais otimismo as floradas que vão gerar a próxima safra.

Queimadas também prejudicam o café

Se por todo o País foram registradas queimadas em 2024, nas lavouras produtoras de café o cenário se repetiu. “As queimadas registradas afetaram a florada nesse período que queimou as ramas. Além das altas temperaturas que acabam afetando queimaduras das folhas em áreas mais baixas e arenosas”, explicou Barbosa.

Os prejuízos não foram maiores, porém, já que os próprios cafeicultores se prepararam organizando brigadas de incêndio e a manutenção de aceiros, o que reduziu muito os danos em cafezais, explicou a pesquisadora da Epamig, Volpato.

Em Andradas, na área onde produz, Tamires explica que não tiveram problemas com queimadas. Mas ouviu de muitos produtores da região que eles tiveram áreas afetadas por incêndios.

A questão ambiental é uma preocupação da produtora há alguns anos, quando ela decidiu investir em reflorestar parte de sua propriedade. “Nós trabalhamos com o reflorestamento em muitas áreas do no sítio. Com essa ação pretendemos trazer a fauna local e oferecer um ambiente seguro e com alimentos diversos disponíveis em todas as épocas do ano. Também pretendemos proteger as nascentes e os córregos que passam dentro da nossa propriedade. Evitando assim o risco de redução ou até mesmo da extinção das nascentes nos períodos de secas prolongadas”, explica a agricultora.

Os desafios para superar as mudanças climáticas também são vistos por Barbosa. “Temos programas que vem buscar a diminuição de altas temperaturas e um deles é um grupo de estudos que trabalha o Comitê de Cafeicultura Consciente que a Associação dos Cafeicultores do Sudoeste de Minas implementou”, explica ele. Entre os programas citados estão um de conscientização sobre o manejo do solo, promovendo o uso de plantas de cobertura, e a rotação de culturas, para proteger solo e plantas.