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Na última semana, o Espírito Santo foi palco do maior e mais significativo evento nacional do ano para discussões e implementações de práticas sustentáveis e ESG no país. Durante cinco dias de uma programação intensa e plural, o evento Sustentabilidade Brasil reuniu uma variedade de autoridades, especialistas, cientistas, empresários e líderes dedicados ao desenvolvimento sustentável, tanto nacional quanto global. Os participantes incluíram desde jovens destacados na lista Forbes Under 30 e um diretor de Compliance de clube futebolístico, até governantes, líderes indígenas e representantes internacionais de organizações focadas no combate às mudanças climáticas.
O evento que aconteceu entre os dias 24 e 28 deste mês, na grande Vitória, trouxe discussões e iniciativas práticas acerca de temas centrais: Mudanças Climáticas; Transição Energética; Mercado de Carbono; Agronegócio Sustentável e Ecoansiedade. Em sua primeira edição nacional, a conferência marcou a história da sustentabilidade do país, trazendo nomes de peso na esfera climática e ambiental como o climatologista reconhecido mundialmente pelo seu trabalho acadêmico sobre clima e aquecimento global, Carlos Nobre.
O cientista que desenvolveu, praticamente, toda a sua carreira no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), protagonizou a palestra “ O Estado Atual das Mudanças Climáticas Globais” e nela trouxe questionamentos sobre como podemos lidar com o realidade das mudanças climáticas já ser um fato e estar colocando em risco, não apenas a dinâmica das estações e temperaturas mas, também, o abastecimento alimentar do planeta. Uma vez que o planeta encontra-se em sua maior temperatura em 125 mil anos, assemelhando-se com a dinâmica do período Interglacial, o cientista sênior no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo pontuou que necessitamos recalcular a rota da maioria dos segmentos do mercado. Seguindo esse raciocínio, sinalizou que uma das principais e mais potentes estratégias setoriais é a revisão da condução do agronegócio, a fim de garantir segurança e liberdade alimentar para as nações nas próximas décadas.

A preocupação do pesquisador deriva do fato de quando o planeta esteve diante dessa temperatura atual no período Interglacial, aumentou-se assustadoramente a escala da ocorrência de eventos extremos. Olhando para isso, o que mais o preocupa é que naquele período quase não havia humanos no planeta: “Estamos vivendo uma realidade que a ciência já mostrou, há muito tempo, se continuarmos jogando esses gases -carbono, metano- que absorvem calor, eles vão segurar a temperatura e não deixar a Terra resfriar. E por que é que não estamos tomando ações para combater a emergência climática? Esse é o maior desafio que temos.”
Apesar de todo o alarme real e fatídico, Nobre trouxe possibilidades práticas e otimistas para a realidade brasileira. O professor afirmou que o Brasil tem total capacidade e oportunidade de tornar-se o 1º país do mundo a zerar as emissões de gases causadores do efeito estufa, uma vez que somos o 5º maior emissor responsável por 4% das emissões globais, mas que falando da emissão de 2022, por exemplo, 50% advieram do desmatamento e 25% da agropecuária. Nesse cenário, podemos zerar o desmatamento e com rigor de políticas públicas podemos criar grandes projetos de restauração florestal. “A floresta crescendo ela remove o gás carbônico da atmosfera e melhora o clima, protegendo, também, a biodiversidade.” afirma.
Ainda otimizando as possibilidades práticas, o primeiro brasileiro a fazer parte do grupo Planetary Guardians traça que, até 2040, o Brasil, através da transição energética e da compensação no reflorestamento, pode zerar todas as emissões líquidas sem deixar diminuir a produtividade da agropecuária no PIB nacional: “Ainda vamos ter muitas emissões, porque temos muita pecuária -e o boi arrota metano, um gás muito poderoso para o efeito estufa-, mas aí recompensamos através do recrescimento das florestas, tornando-se um grande líder mundial!.”
Durante sua participação no Podcast oficial do evento, o pesquisador do clima linkou a capacidade do estado capixaba de liderar a produção do hidrogênio verde e usar do seu potencial de fauna biodiversa no norte do estado para protagonizar essa transição ambientalmente responsável.
Além de Carlos Nobre, a agenda da semana também contou com a presença e grandes contribuições do engenheiro agrônomo e membro do Comitê do Rio Doce, Henrique Lobo e do coordenador de sustentabilidade da Confederação de Pecuária e Agricultura do Brasil, Nelson Ananias. Ambos desenvolveram palestras dentro das Trilhas Temáticas sobre agricultura e rios.
Em sua participação, Henrique destacou o fenômeno que acontece a cada 100 anos, chamado de “mínimo solar”. Ele abordou que as regiões que estão fora dos trópicos -abaixo ou acima- sofrerão com eventos climáticos extremos, como frio rigoroso, chuvas desproporcionais às estações e secas severas, por exemplo, como está acontecendo nas plantações da Índia e Arábia Saudita neste mês. “A probabilidade é que esses fenômenos sejam “normais” a partir de 2030.”, afirma.
Os especialistas acreditam que o crescimento social, levou a sociedade a uma busca desenfreada pelo desenvolvimento a qualquer custo, e que as leis e governanças tem de existir para ordenar a dinâmica do uso desses recursos, como a água, o uso e manejo do solo, das atividades de abastecimento público, principalmente da agricultura. Lobo, afirma que as leis vieram para ordenar o uso dessas práticas e para organizar o uso múltiplo dessas áreas.

Expondo as dificuldades dos processos de plantio, contou sobre as dificuldades de penetração e escoamento da água nas culturas agrícolas e apresentou algumas saídas e iniciativas que vêm sendo implementadas no território nacional, como é o caso dos subsoladores.
“Nós somos a geração do conhecimento! Estamos buscando alternativas para melhorar. Estamos restaurando os solos, restaurando as nascentes, estamos fazendo subsoladores […] nossos solos, durante várias gerações, ficaram muito compactados. Ficaram tão compactados que as sementes das plantações não conseguem romper a camada do solo para poder crescer […]”
Além disso, conta que o uso de técnicas do exterior não pensadas para a nossa realidade, nem sempre é um bom negócio: “Em países temperados o intervalo de plantio é muito curto. Por isso, quando criaram o trator com o arado de disco, eles o usavam para tombar a neve e virar água. Algum brasileiro olhou para isso e enxergou a possibilidade de aplicar o maquinário na nossa realidade, trocando o trabalho animal. Ao tombar a terra as partículas do solo são desestruturadas e com a chuva, os componentes férteis são levados com a chuva até os rios gerando problemas de assoreamento, por exemplo.”
Assim, Henrique traz os conhecimentos geracionais como aliados de um futuro promissor, afirmando que pertencemos à geração da “mudança de chave”, e que podemos executar as práticas com ordenança. Dessa forma, o professor afirma que com a preservação de 50 metros das nascentes para não haver pisoteamento -por parte do gado de corte- e a fonte secar, e a preservação dos topos de morros -para garantia de armazenamento de água subterrânea- são exemplos de ações práticas que estão ao alcance dos ruralistas e que já contribuem, e muito, para uma agricultura mais responsável e duradoura.
Nelson Ananias, membro da CNA, trouxe a ideia de que o agronegócio fala de sua importância e capacidade sustentável por si só. O especialista contou que o mercado agrícola investiu fortemente na sustentabilidade, pois os agricultores enxergam esse viés não apenas como uma tendência, mas sim como uma garantia de maior produção, de maior competição no mercado, e garantia de segurança alimentar no Brasil. “ O Agro vem investindo a pelo menos 10 anos em uma agricultura consagradamente menos emissora de gases de efeito estufa -a agricultura ABC- e há mais de 65 anos o agro é o maior detentor de vegetação nativa do Brasil. Isso representa mais que unidades de preservação e terras indígenas somadas.”

Ananias apresenta dados que expõem que 33% do território brasileiro atual está dentro de propriedades privadas. Portanto, isso faz com que o agronegócio tome conta de grande parte da extensão nacional. Assim, cita que enquanto alguns países prometem reduzir as emissões, o Brasil já a faz através da agricultura: “[…] o agro já faz isso há 10 anos -com agricultura ABC- e há 65 anos com o código florestal brasileiro. Não falo pelo Agro, o Agro fala por si só!”
O especialista, durante sua, também, participação no Podcast Sustentável, discorre sobre como a agricultura brasileira foi competente quando foi chamada a produzir mais, num país que há 50 anos atrás passava fome. Apontou que a produção foi maior -garantindo a segurança alimentar do povo brasileiro – e aumentou seus horizontes, exportando cada vez mais.
Quando questionado em entrevista sobre a eficiência e qualidade dessa produção, Ananias enaltece a funcionalidade do modelo nacional.“Hoje o Brasil produz agricultura em 7,5% do seu território. Toda essa riqueza e garantia de segurança alimentar mundial é produzida em apenas 7,5% do território brasileiro. Se comparado com um país concorrente, esse número é muito maior, e a pecuária é cerca de 20%. Ou seja, 30% do território é destinado à produção agropecuária. E temos 66% de vegetação nativa no país, dos quais metade está dentro de propriedades rurais.”
O coordenador de sustentabilidade da Confederação de Pecuária e Agricultura do Brasil finaliza sua participação afirmando que a presença do agronegócio e pautas do mercado agrícola em eventos como o Sustentabilidade Brasil quebra preconceitos e expõe o potencial do ramo em garantir a biodiversidade, reduzir as emissões e a aumentar segurança alimentar como nenhum outro setor da economia brasileira. Dessa forma, afirma que mostrar isso para o povo brasileiro gera uma valorização e reconhecimento de um aliado.
“É importante que o povo brasileiro valorize aquele que todo dia, de manhã, põe sua fé em seu solo, põe sua fé no campo, produz e leva comida à mesa do brasileiro com um valor agregado à sustentabilidade como nenhum outro no país e no mundo!”




