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Meio Ambiente

“Daniel Nepstad: “”Blairo Maggi é uma oportunidade para agenda ambiental”””

por Redação Conexão Safra

em 16/05/2016 às 0h00

5 min de leitura

“Daniel Nepstad: “”Blairo Maggi é uma oportunidade para agenda ambiental”””

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Para o pesquisador, referência em ecologia da Amazônia, Blairo entendeu que a agricultura moderna do Brasil não pode se associar ao desmatamento ilegal


O anúncio da nomeação de Blairo Maggi para o Ministério da Agricultura provocou, como esperado, fortes reações. Admirado pelos empresários do agronegócio, Blairo causa rejeição entre a maioria dos ambientalistas. Seu nome é associado ao desmatamento e ao descaso com a legislação ambiental. Surpreendentemente, nem todos corroboram essa visão negativa do novo ministro. O pesquisador americano Daniel Nepstad, uma das referências mundiais em ecologia da Amazônia, está otimista com a chegada de Blairo ao governo federal. “Vejo como uma oportunidade para a agenda ambiental brasileira ”, diz. “Blairo Maggi, como muitos produtores com visão moderna no Brasil, tem receio de os mercados se fecharem devido à preocupações ambientais. Eles não querem se associar ao desmatamento ilegal. ”

Muitos conhecem o Blairo inimigo dos verdes. Como maior produtor de soja do Brasil, seu nome ficou associado ao cultivo acusado de puxar o desmatamento ilegal na Amazônia. No primeiro mandato como governador do Mato Grosso, Blairo continuou dando alimentando a antipatia dos ambientalistas. Defendeu agrotóxicos proibidos no exterior. Acabou ganhando o troféu “Motosserrra de Ouro ” do Greenpeace. A partir dali, a fama internacional começou incomodou e Blairo começou a trabalhar para mudar sua imagem. “Blairo falou besteira, provocou ambientalistas, virou alvo de campanhas interancionais. Mas depois ele mudou e fez as coisas corretas ”, diz Daniel Nepstad.

“A gente precisa lembrar que em 2007 na COP (conferência para acordo do clima) em Bali ele levou uma delegação de 35 pessoas. Em 2009, anunciou um plano ambicioso para reduzir em 87% o desmatamento no Mato Grosso. A meta realmente foi alcançada em 2012 ”, diz Daniel. “Além disso, também é importante saber que sem a participação ativa do Grupo Amaggi (da família Maggi), não teria saído a moratória da soja. ” A moratória é um acordo dos grandes produtores da região para não plantar em área de desmatamento e abrir suas terras para monitoramento e verificação independente das ONGs. Por um lado, isso é possível porque a atividade diretamente responsável pelo desmatamento na região é em maior parte a pecuária.

Daniel Nepstad (Foto: divulgação)

Como pesquisador, Daniel está bem posicionado para avaliar a virada de Blairo Maggi. Depois de décadas à frente do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), sediado em Belém, Daniel foi convidado a coordenar um experimento ambicioso para desenvolver técnicas de agricultura sustentável na fazenda Tanguro, da família de Blairo. “Ele queria dialogar sobre a viabilidade do Código Florestal. Queria saber se era possível recuperar áreas de preservação permanente. Meu papel era o de cientista, explicando. Deu para sentir que ele estava fazendo tudo para evitar o caos. Naquele momento, havia uma ala ruralista que queria acabar com o Código Florestal. Ele estava tentando achar um meio campo ”, conta Daniel. “Blairo realmente quer uma agenda de sustentabilidade que garanta mercado e incentivos para produtores que buscam redução no desmatamento. ”

Daniel coordenou diretamente o projeto de pesquisa em Tanguro entre 2004 e 2008 como cientista do Ipam e do Woods Hole Research Center, nos EUA. Os estudos prosseguem até hoje. Daquele experimento saíram vários artigos internacionais. Entre as principais descobertas, foi possível mostrar como muitas florestas da Amazônia são vulneráveis à substituição permanente por capim. Se você queima a floresta de três em três anos, ela fica seca. Se ocorre um evento com baixa umidade, calor forte e vento, o fogo queima a noite toda em vez de apagar às 18h . “Conseguimos comprovar a ideia de eventos extremos onde grande parte da Amazônia pode sofrer ”, diz Daniel Nepstad.

Outra descoberta da pesquisa em Tanguro foi que a qualidade da água que sai do campo de soja é boa se o campo for bem manejado. “O produtor tem interesse em manter as APPs (áreas de proteção permanente exigidas por lei) que conservam a qualidade da água. Eles têm interesse em água limpa para misturar as substâncias químicas que aplicam na agricultura. Se a água vier cheia de matéria orgânica ou sedimentos, os defensivos perdem a eficácia. Por isso, o sojicultor gosta de evitar a erosão do solo ”, afirma . “Foi uma boa notícia. ”

Durante sua fase de pesquisas em Tanguro, Daniel ficou surpreso com a quantidade e a qualidade da fauna nas áreas de mata da fazenda. “Encontramos antas, macaco-prego e até cachorro vinagre. Animais cuja ocorrência não conhecíamos naquela região ”, diz. “Os bichos aparecem quando você tem uma área bem preservada onde a caça é proibida. ”

A partir da experiência direta em Tanguro e do que acompanhou depois no Mato Grosso, Daniel Nepstad se diz otimista com a chegada de Blairo ao ministério. “Náo que ele seja ambientalista. Mas é um empresário inteligente. Sabe que centenas de empresas deram declarações públicas de que não vão se associar ao desmatamento ilegal. É um sinal forte para o mercado. Blairo entende esse lado internacional para um produto pilar da economia brasileira ”, afirma Daniel.

Hoje Daniel é diretor executivo do Earth Inovation Institute, sediado em San Francisco, nos EUA. O grupo promove agricultura e conservação nos trópicos, inclusive no Brasil.


Blairo Maggi na sessão de impeachment no Senado. O empresário e senador virou o novo ministro da Agricultura (Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil)


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