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Desde o primeiro dia de negociações da COP30, o agronegócio brasileiro ocupa um espaço visível na agenda paralela e nas salas de evento — com cientistas, ex-ministros e representantes setoriais defendendo que a agricultura tropical seja tratada como parte da solução climática, ao mesmo tempo em que críticos reclamam sobre o risco de influência indevida de grandes interesses do setor.
A estratégia do setor tem três frentes claras: mostrar inovações tecnológicas e práticas de baixa emissão desenvolvidas no país; apresentar propostas consolidadas do setor às negociações; e garantir representação técnica nas mesas de debate.
O ex-ministro e enviado especial do setor, Roberto Rodrigues, tem sido porta-voz desse bloco. Ele afirmou, em conversas com a imprensa, que a COP30 é uma “oportunidade para mostrar ao mundo que a agricultura tropical é sustentável de fato” e defende que o modelo brasileiro seja difundido como solução para países tropicais.
Paralelamente, a Embrapa e pesquisadores reconhecidos ocupam espaço na chamada Agrizone, exibindo sistemas produtivos adaptados ao trópico, tecnologias para restauração de solos e propostas para reduzir a pegada de carbono da produção.
A pesquisadora Mariângela Hungria, recentemente premiada internacionalmente e presente nas ações da Embrapa na COP, defende o uso de produtos biológicos como caminho para substituir agroquímicos, mitigando emissões e ampliando o acesso a alimentos de qualidade.
Ela também aponta para um problema de imagem: “A COP30 deve melhorar nossa imagem. Somos vistos como… demônios”, disse em entrevista antes do evento, pedindo mais comunicação sobre ciência e práticas sustentáveis.
Propostas e documentos
Grupos do agro reuniram e entregaram documentos com propostas — um esforço para harmonizar demandas de produtores, indústrias e centros de pesquisa e levá-los às mesas oficiais e aos painéis técnicos. Relatos e notas oficiais indicam que essas propostas foram organizadas em relatórios entregues a parlamentares e delegações, com o objetivo de colocar a agenda da agricultura tropical nas decisões da COP.
Os debates e os pontos de atrito
Nem tudo é consenso. Organizações ambientais, movimentos sociais e alguns jornalistas têm alertado para o risco de que o protagonismo do agro nas ações paralelas — e a presença de lobistas — possa deslocar o foco de medidas mais incisivas sobre desmatamento, cadeias de abastecimento e responsabilidade corporativa.
Cobertura e análises internacionais apontam para preocupações sobre influência de grandes cadeias produtivas e agências de relações públicas com histórico ligado a interesses econômicos; protestos em Belém e notas de alerta reforçam o tom crítico.
Do lado técnico, as discussões no pavilhão do agro giram em torno de restauração de áreas degradadas, intensificação sustentável, uso de inoculantes e bioinsumos, manejo de nitrogênio (redução de emissões de N2O), e mecanismos de financiamento para transição de práticas. Já nas negociações formais da ONU, há tensão sobre prioridades: mitigação e controle de desmatamento vs. promoção de modelos de produção com aumento de produtividade.
Como o setor tenta responder às críticas
Líderes do agronegócio e pesquisadores têm respondido com duas linhas de argumentação: a primeira, de que o Brasil tem tecnologia e experiência para produzir alimento sem expandir a fronteira agrícola (uso de áreas já abertas, intensificação sustentável); e também que soluções tropicais — variedades, manejo, sistemas agroflorestais e biofertilizantes — são escaláveis e merecem ser parte do “pacote” de ações climáticas.
Roberto Rodrigues enfatiza que a legitimação técnica do agro é condição para participar das soluções, enquanto pesquisadores como Hungria destacam medidas concretas (bioinsumos) que reduzem emissões.
O que está em jogo
A COP30 é vista pelo setor como oportunidade para atrair investimentos, influenciar indicadores de implementação (por exemplo, critérios de restauração e financiamentos) e garantir que a agricultura tropical seja reconhecida nos próximos instrumentos e programas climáticos.
Por outro lado, para ambientalistas e parte da sociedade civil, o risco é que o discurso sobre “soluções do agro” neutralize exigências sobre cadeias produtivas, responsabilização por desmatamento recente e transparência nas emissões reais do setor.
A presença ativa do agronegócio brasileiro na COP30 evidencia uma disputa simbólica e prática sobre o papel da agricultura nas soluções climáticas globais. Entre a busca por reconhecimento internacional de um modelo produtivo de baixa emissão e as críticas sobre influência e transparência, o debate expõe o desafio de equilibrar desenvolvimento e sustentabilidade em um país que é, ao mesmo tempo, potência agroexportadora e guardião de vastos biomas. O desfecho dessa discussão, em Belém, poderá redefinir não apenas a imagem do agro brasileiro no cenário internacional, mas também o grau de compromisso do país com uma transição efetivamente verde e inclusiva.




