Adoção de práticas sustentáveis tornam a cafeicultura mais resiliente
Calor e seca registrados em agosto denotam a urgência da agenda climática de adaptação e mitigação voltada à agricultura
por Cecafé
em 13/09/2024 às 5h00
5 min de leitura
Os impactos das mudanças climáticas têm sido cada vez mais perceptíveis em nível global, com diferentes regiões do planeta enfrentando episódios meteorológicos extremos. Essa situação denota a urgência da agenda climática de adaptação e mitigação voltada a agricultura e segurança alimentar, com incentivo à adoção de boas práticas agrícolas que ampliam a resiliência dos sistemas alimentares frente às oscilações extremas do clima.
O mês de agosto de 2024 foi classificado pelo observatório europeu Copernicus1 como o mais quente globalmente (juntamente com agosto de 2023), com uma temperatura média do ar na superfície 0,71°C acima da média de agosto de 1991-2020. Esse resultado marcou o décimo terceiro mês, em um período de 14 meses, em que a temperatura média global superou em 1,5°C na comparação com os níveis pré-industriais.
Junto com as elevadas temperaturas, os cientistas do observatório Copernicus também registraram anomalias hidrológicas em agosto, com secas acima da média em algumas regiões do planeta, como Europa continental, América do Sul e África Austral.
No Brasil, o Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden2) quantificou que 963 municípios tiveram mais de 80% de suas áreas agroprodutivas afetadas pela seca, em agosto, concentrando-se principalmente em Minas Gerais (333), São Paulo (275) e Mato Grosso (86). Outros 284 municípios registraram entre 60% e 80% de área agroprodutiva potencialmente afetada, sendo 69 em Minas Gerais e 60 em São Paulo.
Entre as atividades agropecuárias mais impactadas está a pecuária, pois a estiagem é particularmente crítica para as pastagens. Porém, embora o café seja considerado uma cultura mais resiliente, a precocidade do déficit hídrico enfrentado por importantes regiões produtoras gera incerteza quanto a impactos na safra futura. Tal cenário denota a importância da adoção de forma consistente das práticas sustentáveis que promovem adaptação e mitigação dos impactos das mudanças climáticas.
Nesse contexto, práticas como a construção da fertilidade do solo em profundidade, com uso racional de fertilizantes para viabilizar o aprofundamento das raízes do cafeeiro; o maior aporte de matéria orgânica; a manutenção do solo coberto nas entrelinhas; a adoção de sistemas integrados de produção; a irrigação eficiente; entre outras, contribuem para maior resiliência do sistema produtivo e mitigação de perdas frente a eventos meteorológicos extremos, como o déficit hídrico prolongado.
Tais práticas aprimoram a saúde do solo, pois geram impactos benéficos nas suas propriedades: (i) físicas, melhorando a porosidade, aeração, capacidade de retenção de água, resultando em mais resiliência a períodos de estiagem; (ii) químicas, com impactos positivos na fertilidade, pois proporcionam aumento da capacidade de troca catiônica, diminuem o problema da imobilização do fósforo e a necessidade de calagem, pois reduzem a variação do ph do solo; e (iii) biológicas, favorecendo a atividade microbiana. Por isso estão incluídas em um conceito mais amplo de agricultura regenerativa e contribuem para a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.
A relação entre adoção das boas práticas e o sequestro de carbono da atmosfera foi avaliada no estudo promovido pelo Cecafé, com condução científica do prof. Carlos Cerri (Esalq/Usp) e do Imaflora, que avaliou o impacto da transição de práticas convencionais em fazendas de café de Minas Gerais para aquelas que aportam mais matéria orgânica no solo, mantém este sob cobertura vegetal e dão preferência à aplicação de fertilizantes organominerais. Como resultado, foi obtido um balanço negativo de carbono da ordem de 10,5 t CO2eq/ha de café cultivado. Isto é, com a adoção de boas práticas, a cafeicultura retém 10,5 toneladas de gás carbônico e equivalentes por hectare no solo e nos cafezais a mais do que emite para a atmosfera.
Mais Conexão Safra
A segunda etapa dessa pesquisa, realizada na cafeicultura de conilon do Espírito Santo, também avaliou o benefício dessas boas práticas. No cenário de mudança de uso do solo de pastagem para a produção tradicional de conilon, o balanço é negativo em 3,01 t CO2eq/ha/ano e este valor salta para menos 8,24 t CO2eq/ha/ano na transição de pastagem para produção de conilon com práticas sustentáveis.
No cenário de alteração do manejo agrícola, partindo do cultivo tradicional para a atividade cafeeira com adoção de práticas mais conservacionistas, o conilon capixaba também registra balanço negativo de carbono, da ordem de menos 1,36 tonelada de CO2eq por hectare ao ano.
A quantificação desses benefícios apoia a comunicação com produtores e técnicos de campo sobre a importância da adoção das boas práticas para a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.
Essa comunicação e essa conscientização, visando incentivar a adoção de práticas sustentáveis, também é trabalhada no Programa Produtor Informado do Cecafé. Na Plataforma EAD do Programa, está disponível um curso de sustentabilidade, criado em conjunto com a Plataforma Global do Café, que aborda as práticas descarbonizantes analisadas nas pesquisas de Minas Gerais e Espírito Santo.
As práticas sustentáveis, além de estarem alinhadas com as demandas dos mercados mais exigentes em termos de ESG, são fundamentais para a cafeicultura brasileira avançar em resiliência frente aos eventos climáticos extremos, que tendem a se tornar mais frequentes diante do aquecimento do planeta.
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