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Irrigação: O futuro da cafeicultura capixaba no Caparaó

por Redação Conexão Safra

em 07/10/2013 às 0h00

8 min de leitura

Irrigação: O futuro da cafeicultura capixaba no Caparaó


O futuro da cafeicultura do arábica no Espírito Santo pode estar na irrigação das lavouras. Pelo menos é o que pensa o engenheiro agrônomo do Instituto Capixaba de Pesquisa e Extensão Rural (Incaper), Onofre Rodrigues, que, junto com o técnico agrícola do Incaper, Cláudio Deps de Almeida, estão realizando um trabalho de irrigação em uma lavoura de café de Iúna, há quase quatro anos.


Segundo Onofre, tudo começou no Simpósio de Cafeicultores da Região do Caparaó, em Iúna, realizado no ano de 2008, quando o evento recebeu a palestra do professor André Fernandes, que falou sobre a irrigação de lavouras de café em Varginha (MG). E as informações se juntaram a uma predisposição do escritório do Incaper, de Iúna, em experimentar os benefícios que a irrigação do café arábica pode trazer para os produtores, quanto à produtividade e qualidade. “E existe um paradigma de que lavoura de café arábica não precisa ser irrigada ”, afirma Onofre. Mas as mudanças climáticas no planeta que também têm trazido consequências para a cafeicultura do arábica no Caparaó Capixaba e diante dos resultados das pesquisas em Minas Gerais e Bahia, Onofre Rodrigues e Cláudio Deps resolveram trazer a experiência para a região, mais precisamente para Iúna, um dos maiores produtores de café arábica do Espírito Santo e do Brasil.


A propriedade escolhida foi a da produtora rural Ivanete Maria Lima, da comunidade do Barro Branco, em Iúna, que estava pensando em renovar sua lavoura &ndash, dentro do Programa Renovar Arábica &ndash, e aceitou o desafi o apresentado pelos dois profi ssionais do Incaper. Desta forma, a propriedade já se transformou em um polo de divulgação do trabalho, recebendo a visita de produtores de outras localidades, que têm fi cado impressionados com os resultados.


Onofre Rodrigues lembra que, nesse período de implantação, o projeto contou com o apoio do Banestes, que fi nanciou a iniciativa inédita na região. E, para dar prosseguimento, o Incaper buscou o quadro técnico da Secretaria Municipal de Agricultura de Iúna, onde encontrou o engenheiro agrônomo João Marcos, que recebeu o treinamento adequado no Estado e também no sul de Minas Gerais, para poder se especializar em irrigação. Desta forma, o projeto começou a ser implantado.


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Variedades


Este ano, o primeiro talhão de pés de café que foram plantados completou três anos. As 1.200 covas de café, da variedade Paraíso, é só uma parte do projeto que tem o total de um hectare e está produzindo com irrigação em sistema de malha, onde cada talhão pode receber água de forma independente dos outros. No meio da lavoura podem ser encontrados cafés das variedades Paraíso, Obatã e Tupi, além do Catuaí que já existia na propriedade.


O projeto, depois de adaptado para a realidade de Iúna e do Caparaó, onde existem propriedades menores, foi implantado no mês de abril, geralmente, período de pouca chuva, e as lavouras das diversas variedades foram plantadas com maior adensamento (meio metro) entre as plantas, mas deixando um espaçamento de 3 a 4 metros nas ruas. “Este espaçamento das ruas é importante para os agricultores da nossa região que podem buscar maior produtividade de café e usar as ruas da lavoura para plantar outras culturas, que também são benefi ciadas pela irrigação ”, explica Onofre. Na propriedade do Barro Branco, foram plantados caqui, feijão, milho, mandioca, amendoim e inhame, o que também está promovendo a diversifi cação da produção de alimentos e que acabam entrando no Programa de Aquisição de Alimentos, indo para a merenda escolar do município.


Onofre também explica que o sistema usado na irrigação da lavoura não provoca erosão do terreno, já que é utilizado baixo volume de água. E, segundo ele, os resultados estão sendo surpreendentes, porque a irrigação pode ser feita nos momentos mais críticos para a planta, não deixando que falte água, principalmente, durante a granação (formação do grão). Desta forma, a planta está sempre produzindo.


Nova tecnologia para granação mas uniforme


Além dos benefícios da irrigação, em outra fase do projeto implantado na lavoura do Barro Branco, em Iúna, Onofre Rodrigues e Cláudio Deps resolveram aplicar uma nova tecnologia, desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que é usada nas lavouras de café em outras regiões do Brasil, onde a irrigação é algo natural para a produção.


De acordo com Onofre, o sonho de todo produtor de café é ter uma fl orada mais uniforme, para ter mais frutos maduros na hora da colheita. Pensando nisso, o pesquisador da Embrapa, Antônio Fernandes Guerra, desenvolveu e implantou a indução da fl orada, que consegue concentrar de 80% a 90% de fl ores abertas, no mesmo período.


A técnica consiste em provocar um défi cit hídrico na planta, ou seja, o pé de café fi ca sem água durante 70 dias, mais precisamente entre o dia 24 de junho e 2 de setembro. No fi nal deste período, de uma vez só, são aplicados 40 milímetros de água, o que provoca uma reação no metabolismo da planta e faz com que as fl ores abram de uma só vez.


Na lavoura do Barro Branco, em Iúna, os resultados da nova técnica podem ser vistos com facilidade. Andando entre os pés de café, Cláudio Deps mostra a produtividade de cada variedade, com suas características peculiares. No entanto, o que chama a atenção é a maturação dos frutos bastante uniformes, sem a presença de grãos verdes,.


Para Cláudio Deps e Onofre Rodrigues, a irrigação é o futuro da cafeicultura do arábica, mas alertam que esta nova tecnologia só dará certo se os produtores não deixarem de realizar todas as boas práticas agronômicas para ter produtividade e qualidade. “É preciso que os produtores mantenham as boas práticas, que vêm antes da irrigação, como adubação e calagem correta, depois da análise de solo, e o controle fi tossanitário ”, alertam os dois profi ssionais do Incaper de Iúna. E Onofre completa: “Pé de café é igual a atleta, porque precisa estar bem nutrido, turbinado, para poder produzir ”.


Gerente da embrapa destaca importância da irrigação para cafeicultura


gerente geral da Embrapa/Café, Gabriel Bartolo, recentemente esteve em Iúna, para participar do Simpósio de Cafeicultores da Região do Caparaó. Ele explica que a empresa coordena o Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café, composto de 10 instituições fundadoras, entre as quais está o Incaper, e realiza pesquisas em todas as áreas de desenvolvimento sobre fertilidade, controle de doenças, novos cultivares e irrigação, entre outros estudos, mantendo sempre as características das regiões.


Desta forma, a Embrapa tem desenvolvido pesquisas e está entrando num programa de transferência de tecnologias, que consiste em pegar todas as que foram geradas e colocálas à disposição dos produtores.


Bartolo destaca a importância da cafeicultura capixaba no cenário nacional, tendo em vista que o Estado, hoje, é o segundo maior produtor de café do País. Além de declarar estar impressionado com o programa Renovar Arábica, do Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Agricultura (SEAG), “por se mostrar ser um programa bastante agressivo e de fácil utilização pelo produtor, com toda orientação dada pelo Incaper ”. “Levando em conta que existem várias cultivares que podem se adaptar às condições de ambientes nas diferentes regiões do Espírito Santo, desde 1.100 metros até o nível do mar ”, afirma. Com isso, segundo ele, até 2020 a 2025, a produção de café arábica poderá ser dobrada, no Estado.


Quanto à irrigação, Gabriel Bartolo afirma que não resta dúvida de que é o futuro da cafeicultura do arábica na região do Caparaó e em todo o Estado. Ele destaca o trabalho que vem sendo realizado pelo Incaper de Iúna, que está realizando um projeto que utiliza uma tecnologia desenvolvida pela Embrapa para as condições do Cerrado Brasileiro, “que foi extrapolada e ajustada para a região do Espírito Santo ”. “Se nós fizermos a aplicação da água no momento certo e em condições adequadas, com a suspensão hídrica por 70 dias, quando retornamos a irrigação, há um estímulo de um florescimento muito uniforme e, com isso, promove uma maturação uniforme e, em consequência, uma melhor qualidade do café que vai ser colhido ”, explica.


Por isso, Bartolo acha que a irrigação é o futuro e que é preciso trabalhar essa tecnologia mesmo em regiões em que não seja exigida a irrigação suplementar, porque é um dos fatores para o aumento de produtividade e da qualidade do café.

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