Ingrid Saur: a empresária gaúcha que fortalece os laços entre RS e ES
Presidente de empresa referência tecnológica em equipamentos florestais revela nascimento da mãe em cidade capixaba
por Leandro Fidelis
em 11/10/2023 às 6h00
6 min de leitura
Aos 67 anos, a empresária gaúcha Ingrid Saur personifica uma tradição familiar de quase um século no Brasil. Ela é a terceira geração da família Saur, com raízes alemãs e à frente da Penz Saur. Com 97 anos de história e sede em Panambi (RS), a empresa é referência tecnológica em equipamentos florestais e sucateiros e participou, em setembro, da feira “Espírito Madeira-Design de Origem”, em Venda Nova do Imigrante. Mas o que pouca gente sabe é da ligação especial dos Saur com o Espírito Santo.
Ingrid compartilha sua história com um toque de orgulho e nostalgia. A mãe dela, Doroteia Bachimont, nasceu em 1930 no distrito de Serra Pelada, no município de Afonso Cláudio, região Serrana capixaba. O avô materno da empresária, Georg Adolf Bachimont, era pastor da Igreja Evangélica Luterana e veio da Alemanha com a mulher e a filha primogênita para atuar naquela comunidade.
Quando Doroteia tinha apenas dois anos, a família voltou para o país de origem e, posteriormente, mais uma vez o pastor foi transferido para o Brasil, dessa vez incluindo períodos em Curitiba e Santa Catarina até se estabelecer em Panambi, na região Noroeste colonial gaúcha. Ingrid conta que foi naquela cidade que a mãe conheceu o homem que se tornaria seu marido, Ernesto Otto Saur, quando ambos tinham apenas 22 anos e estudavam violino na mesma escola. Juntos, eles formaram uma família com cinco filhos, incluindo a presidente da Penz Saur.
Em uma ocasião especial, a família fez uma viagem surpresa para visitar Afonso Cláudio mãe na comemoração das Bodas de Ouro do casal Doroteia e Ernesto Otto. “Meu pai sempre dizia que se fosse mudar de Estado viria para o Espírito Santo”.
A visita à cidade trouxe memórias emocionantes e fortaleceu os laços da família com o Estado.
“Só meu pai sabia do plano. Quando chegamos ao Aeroporto de Vitória, minha mãe disse: ‘nasci aqui próximo, em Afonso Cláudio, quem sabe não vamos lá?’. E eu: mãe, nós temos outros programas, queremos ir à praia. Embarcamos num ônibus e meu pai revelou que estávamos a caminho de Afonso Cláudio, onde fizemos fotos incríveis na igreja onde meu avô foi pastor. Todos com lágrimas nos olhos”, relata Ingrid, que voltou à cidade natal da mãe na ocasião da ‘Espírito Madeira’ antes de regressar ao Rio Grande do Sul. Doroteira e Ernesto já são falecidos.
História
A história da Penz Saur começa em 1926 com o avô paterno de Ingrid, Richard Saur (foto abaixo), um imigrante alemão que desembarcou no Brasil pelo Porto de Santos três anos antes. Após quarentena devido a uma doença contraída na viagem, ele partiu para Porto Alegre e, posteriormente, para outras cidades, até chegar a Panambi. Lá, ele se estabeleceu como serralheiro (profissão já exercida na Alemanha) e começou a reformar equipamentos agrícolas e fabricar grades ornamentais para janelas.
A empresa ficava no centro da cidade e cresceu gradualmente. Após a morte da avó de Ingrid, em 1952, e de uma tia, na mesma época, em 1955 o avô passou o negócio para seu pai e seu tio. Ernesto acabou especializando-se na fabricação de dobradiças para sofás-cama, um item essencial na época, vendendo milhares delas para fábricas em todo o Brasil. “Com isso, ele cresceu muito e aí começou a fazer estruturas e passarelas metálicas”, lembra.
Em 1975, Ernesto Saur comprou uma área maior, de três hectares, fora do centro de Panambi. Três anos depois, quando Ingrid entrou para a administração da companhia, a nova fábrica já estava pronta. “Eu tinha acabado de me formar em administração em Santa Maria e, quando cheguei, meu pai tinha reservado uma mesa na frente da dele. Ele era uma pessoa incrível”.
Atualidade
A Penz Saur é fruto de uma parceria entre a empresa austríaca Penz e a família Saur. De acordo com Ingrid, a “joint venture” foi selada em 2000, quando ambas as partes concordaram em fundar a Penz Saur. O fundador da primeira chegou ao Brasil em 1998, instalando diversas máquinas importadas no Espírito Santo e na Bahia. No entanto, a Penz buscava um parceiro brasileiro.
Mais Conexão Safra
“O presidente da Penz visitou diversas empresas, mas o que o encantou na Saur é que sentamos à mesa e conversamos em alemão”, conta.
Desde então, a empresa tem produzido gruas florestais de diversos tamanhos, incluindo modelos estacionários e outros montados em tratores e caminhões, com presença em todo o Brasil. Atualmente, é líder nacional em soluções logísticas para movimentação de cargas e materiais, atendendo às demandas do mercado industrial, agrícola e florestal.
Além da ligação pessoal, a Penz Saur mantém negócios no Espírito Santo, fornecendo diversas máquinas, incluindo gruas florestais e equipamentos acoplados a empilhadeiras, para empresas como a Suzano e a Portocel, em Aracruz. Nesta última, em um projeto conjunto com a Fortemar, foi desenvolvido um “spreader” automático para transporte de celulose.
Liderança
A liderança de Ingrid na PenzSaur é um testemunho de sua dedicação à empresa e visão de longo prazo. Quando seu pai faleceu, em 2016, o conselho decidiu que ela seria a presidente da companhia. Atualmente, está treinando a quarta geração da família, incluindo as próprias filhas, para assegurar a continuidade e o crescimento da empresa.
Além disso, a Penz Saur contratou um diretor-superintendente independente para fortalecer ainda mais a gestão da empresa, que conta com 750 colaboradores só na fábrica em Panambi.
“Continuei à frente quando houve a pandemia. Agora, depois de 45 anos, não quero estar tanto mais na operação. Eu me dispus apenas a viajar, visitar clientes, fornecedores e amigos”.
Ingrid Saur participou recentemente da primeira edição da ‘Espírito Madeira’, de 14 a 16 de setembro, em Venda Nova. A presença na Feira demonstra seu compromisso com o Estado e a vontade de apoiar iniciativas que promovam o crescimento e a troca de conhecimento na indústria, especialmente no setor de eucalipto, que é tão relevante na região.
“Quando fui convidada, disse: tô dentro! E falei à Paula (organizadora): me manda o mapa do evento, quando na realidade não havia nada. A Penz Saur foi a primeira expositora confirmada. Se alguém da família tivesse vindo, teria me hospedado em Afonso Cláudio na ocasião da Feira, mas voltarei”.
A empresária avalia a primeira edição da ‘Espírito Madeira’, que se configura como o maior evento do setor produtivo de madeira do Brasil e tem a segunda edição confirmada para 2024: “Vocês estão com uma bela iniciativa ao congregar pessoas para troca de experiências, de conhecimento. Isso é determinante para nós depois dessa pandemia maluca. A gente precisa voltar a conversar e trocar conhecimento para o bem desse país”, finaliza.
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