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Colagua e Veneza fazem campanha para o retorno de agricultores

por Redação Conexão Safra

em 05/10/2013 às 0h00

8 min de leitura

Colagua e Veneza fazem campanha para o retorno de agricultores


Um respirar mais aliviado depois da crise que se abateu na Cooperativa de Laticínios de Guaçuí – Colagua, no ano de 2012. A cooperativa do Caparaó não anda mais sozinha há algum tempo. A Veneza, cooperativa de Nova Venécia, no norte do Espírito Santo, assumiu uma parceria na captação do excedente do leite, ainda no auge da crise e, recentemente, passou a dividir o parque industrial de Guaçuí com a Colagua. Diariamente, 70% da captação de leite é transformada em queijo mussarela, com a marca da Veneza, mas com a produção da Colagua. Juntas, as cooperativas estão retomando a economia local, aumentando o número de associados, oferecendo cursos e adquirindo novos equipamentos.

Não é fácil convencer o pequeno agricultor de que o pior já passou, os meses de salários atrasados e muitas parcelas de dívidas com os cooperados foram pagas. Um montante de cerca de R$ 100.000,00 (cem mil reais) estão sanados, mas ainda existem algumas dívidas junto aos agricultores que não mandam mais leite para a Colagua. Quem voltou, tem recebido o valor fracionado, junto com o pagamento em dia do leite. A cooperativa começa agora a fazer uma grande campanha para que a confi ança volte a reinar e a captação aumente, junto com a renda e o crescimento.

A Colagua já passou dos 300 associados e, na safra, chegou a captar 26 mil litros por dia. A capacidade ainda é de 50 mil, tendo uma larga missão pela frente para agregar mais pessoas ao quadro. A tendência é que na entressafra, no inverno rigoroso que já começou, a redução chegue a 40%. Por isso, a preocupação em ter mais cooperados continua, para que a baixa do leite não refl ita na queda de produção. Visitas diárias ao campo estão acontecendo com funcionários da Colagua e da Veneza, em um processo de convencimento e recuperação de confi ança.

“Agora cabe apenas ao produtor entender e voltar para a Colagua. Não somos uma cooperativa só de Guaçuí, mas de toda a região do Caparaó. Temos uma função econômica e social. Aqui, nosso cooperado tem um preço de leite compatível com o mercado, em contrapartida, estamos oferecendo alguns cursos e temos planos para outros que vão ensinar o pecuarista a aumentar a produção no campo. São técnicas simples que mudaram muitas histórias em várias partes do estado. Conheci um agricultor que produzia 100 mil litros por dia, agora produz 400 mil. Podemos fazer aqui também esse processo ”, lembra o presidente da Colagua, Burthon Moreira de Oliveira, que está viabilizando parcerias com Governo do Estado, Sindicato Rural de Guaçuí, Senar e Sebrae para aplicação de cursos com os cooperados.


Tratado de intercooperação também inclui Parque Industrial

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No Parque Industrial da Colagua é fácil ver as mudanças feitas desde a parceria com a Veneza. Foram investimentos em câmaras frias e laboratórios, visando a qualidade do leite. Assim que a nova gestão assumiu a cooperativa, eram 32 produtos que estavam fora da margem de custo, somados a um baixo faturamento e uma administração desacreditada.

A empresa trabalha agora com seis itens e 16 subitens. Destaque para o queijo frescal, leite pasteurizado, manteiga, requeijão, bebidas lácteas e iogurtes.

A Colagua têm distribuídos pela região 80 tanques de resfriamento de leite, que dão apoio a centenas de pequenos agricultoresna qualidade do produto, além de facilitar a
distribuição. Poucas empresas dão esse suporte, principalmente as privadas do setor, que começaram uma briga acirrada para conquistar o produtor através do preço do leite.

“Nosso projeto é voltado para as áreas de gestão e melhoramento. Os produtores não sabem o custo da matéria prima e estamos, nos últimos 16 meses, com índice superior aos preços praticados no mercado. Pagamos o produtor com base na qualidade e produtividade, conceito justo, prudente e sensato na hora de remunerar
o leite. Nós fazemos balanço, mostramos resultado, demonstramos preocupação social e econômica com a região ”, destaca Burthon.


Veneza aposta em parceria mais sólida

É com um ar de preocupação que o presidente da Veneza, José Carnieli, fala sobre a Colagua. Depois do apoio no pagamento de algumas dívidas, na reestruturação
do parque industrial e no trabalho de produção, Carnielli acredita que o fortalecimento da parceria aconteça mais no final deste ano, principalmente porque o crescimento das cooperativas está efetivamente ligado ao aumento da captação do leite, o que não acontece neste período, principalmente por causa do rigor da entressafra.

“Estamos com muitas dificuldades por conta de dois fatores: custo e volume de leite. Precisamos reduzir custo e aumentar o volume de matéria prima. Esse é um grande desafio. Apenas quando ultrapassarmos esse período faremos de fato um balanço da situação. Reduzimos o custo do frete do leite que era mandado para Nova Venécia, isso já foi muito importante, mas toda tentativa que aparecer vemos de forma positiva ”, lembra José Carnieli, presidente da Veneza.

Desde junho a Veneza produz o queijo mussarela de corte. Foram processadas mais de 32 toneladas, feitas na embalagem de 2 e 3 quilos. Da gordura que sobra é feita a manteiga. Da captação diária, 70% segue para a produção dessas peças da cooperativa do norte do estado. Hoje, a Veneza é a segunda maior cooperativa de laticínios do Espirito Santo, atrás apenas da Selita, de Cachoeiro de Itapemirim.


Agricultores ainda resistem em voltar

A Colagua tem hoje pouco mais de 300 cooperados, o número era bem menor no momento de crise e vem aumentando gradativamente no decorrer dos meses. Mas a captação de leite ainda é pequena para o tamanho dos planos das duas cooperativas. É na roça, mais precisamente no curral, que essa história pode ser mudada. Por medo de ficarem sem receber, muitos agricultores ainda não retornaram com o leite para a cooperativa de Guaçuí.

Na localidade de Córrego das Pedras, em Guaçuí, o agricultor José Moreira de Faria, de 85 anos, agora só manda o leite excedente para a Colagua, quantidade 70% abaixo do que a família costumava mandar. O filho passou a produzir queijo em uma pequena agroindústria da família e somente encaminha para a cooperativa de Guaçuí o leite excedente.

“Eles estão me pagando e da dívida passada falta apenas R$ 1 mil, mas como meu filho passou a produzir queijo, ricota e outros produtos, prefiro enviar para ele. Só mando mesmo o que sobra. Não é que seja medo, mas o leite dentro da família gera mais renda pra gente. Não tenho nada a reclamar da Colagua ”, lembra o agricultor José.

O agricultor Antônio Gomes de Carvalho que mora em Guaçuí, mas tem propriedade na localidade de Rancho do Sauá, em Ibitirama, deixou de mandar o leite no auge da crise para a Colagua. Ele e outros quatro agricultores dividem um tanque de leite na localidade e agora enviam tudo para uma empresa privada de Dores do Rio Preto. O tanque é da Secretaria Municipal de Agricultura, mas é usado pelos agricultores.

De acordo com Antônio, a vontade de voltar para a Colagua é grande, mas nem todos os agricultores concordaram ainda com essa decisão. Juntos, a cada dois dias, eles mandam para a empresa privada mil litros de leite. A variação de preço entre a cooperativa e a empresa não é muito diferente.

“Estou com R$ 4 mil para receber da Colagua. Não quero voltar só por causa do dinheiro, mas porque a Colagua é nossa, da nossa terra, do lugar da gente. Acredito que, se a administração da cooperativa fizer uma reunião e conversar com todos os agricultores, vai acontecer o retorno. Falta muito pouco para isso. Muita gente deixou de mandar porque sobrevivia do dinheiro do leite e não estava recebendo, faltava tudo em casa ”, afirma Antônio.


Crise

Depois de receber denúncias de funcionários e cooperados, o Ministério Público resolveu investigar a antiga administração da Colagua, no início de 2012. Foi constatado,
então, o desvio de uma grande quantia em dinheiro, cerca de R$ 7 milhões de reais. Junto a isso, o enriquecimento de alguns funcionários e a falta total de equipamentos
para o trabalho no parque industrial da Colagua. Os cooperados já estavam sem receber e os funcionários também. Quatro pessoas foram presas, acusadas de formação de quadrilha e desvio de verba. Todas hoje respondem pelo processo em liberdade. Não houve retorno do dinheiro do desvio para a Cooperativa.


Entenda mais sobre a Colagua

– A história começa em 25 de fevereiro de 1958, sua fundação.
– Atualmente a Colagua industrializa 16 produtos.
– São 361 cooperados no quadro da Cooperativa.
– A atuação chega a nove municípios no noroeste do estado do Rio de Janeiro e na região do Caparaó.
– A cooperativa conta com seis veículos que dão suporte ao produtor.
– O faturamento médio da cooperativa é de R$ 900 mil reais mensais.
– A arrecadação de leite/dia gira em torno de 22 mil litros (na safra).
– São 49 empregos diretos ofertados pela Colagua.
– Indiretamente a cooperativa está na vida de três mil pessoas.


Veneza

Fundada em 1953 no município de Nova Venécia, por apenas 17 produtores rurais, a Cooperativa Veneza completou, em abril deste ano, 60 anos de história no setor lácteo. Criada com o intuito de resolver os problemas de comercialização de leite em uma região controlada pela pecuária de corte, a Veneza tornou-se a segunda maior Cooperativa de Laticínios do Estado do Espírito Santo. Após todos esses anos de atividades, com mais de 1.200 fornecedores cadastrados, a cooperativa chegou À marca de 70 milhões de litros de leite captados no último ano.

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