pube
Geral

Agricultura familiar movimenta a economia de Guaçuí

"Famílias que constroem sonhos e aprendem que são mais fortes juntas.São 1400 Pequenos Agricultores Familiares em Guaçuí"

por Redação Conexão Safra

em 04/10/2013 às 0h00

14 min de leitura

Agricultura familiar movimenta a economia de Guaçuí

Só na região do Caparaó mais de 10 mil propriedades são de pequenos agricultores

Foi se o tempo em que a distância das grandes cidades era sinal de pobreza. Sessenta e sete mil propriedades agrícolas do Espírito Santo são de agricultores familiares. Isso mesmo, a família que resolveu trabalhar junta em busca de conforto, estudo e qualidade de vida. Deixar o campo para ir morar na cidade não é mais a única opção para futuro. Jovens continuam no campo, fazendo cursos, ajudando os pais, abrindo os próprios negócios e fortalecendo a agricultura do Espírito Santo. Só na região do Caparaó mais de 10 mil propriedades são de pequenos agricultores, o que isto significa para a economia dos 11 municípios? Que quase não há grandes fazendas na região, 81% das propriedades são pequenas e geram empregos para os municípios. O que mais a gente encontra no campo são histórias que se confundem entre empreendedorismo e agricultura. O casal Gilson Rodrigues Quinelato e Ivone Maria Barbosa são exemplos de pessoas que acreditaram e conseguiram ter um negócio vindo do campo, do trabalho da agricultura familiar e sem medo de investir em uma cultura nova. Trocaram o café com leite por morango, quebraram uma tradição de família e buscaram o novo.


O casal morava na zona rural de Muniz Freire, investia em café conilon e a família sobrevivia da renda dos cafezais e da retirada do leite, mas depois de conhecer a cultura do morango por intermédio de uma cunhada e dos sogros, Gilson não pensou duas vezes e resolveu investir na fruta. O agricultor deixou o município de Muniz Freire, comprou um sítio na localidade de Santa Marta, em Guaçuí, e agora mantém a família apenas com a renda dos morangos. “Nossa lavoura tem quatro anos, deixei o gado leiteiro e o café conilon para investir em algo que não conhecíamos muito: o morango. Trabalhamos só a família mesmo, eu, minha mulher e meus dois filhos. O morango nos trouxe conforto e perspectiva. Em 2011, a safra foi tão boa que conseguimos comprar um carro no ano passado ”, lembra Gilson, que faz planos para a safra de 2013. A propriedade que margeia uma estrada de chão tem a casa sede, uma tulha e bem ao lado, as lavouras de morangos. Quase 10 mil mudas estão cobertas e protegidas para um cultivo melhor. Parte da área é de experimento do Incaper com mudas vindas do Chile, que prometem ampliar a safra para os agricultores e dar novas possibilidades. Ao todo no sítio existem quatro diferentes variedades, a mais nova é a Festival. Em 2011, a safra chegou a 4.500 quilos. No ano passado houve uma ligeira qued


para 3.000 quilos. A expectativa é que esse ano a produção seja melhor. “É uma cultura que está se dando muito bem na nossa região. Falta morango no mercado e conseguimos escoar a produção na cidade mesmo. O clima do Caparaó também é bom para o plantio. Sou muito feliz por ser um pequeno agricultor. É melhor trabalhar na minha roça, em terras menores, do que trabalhar de empregado em grandes fazendas ”, lembra o agricultor. Mas o toque todo especial da propriedade vem das mãos da esposa Ivone Maria Barbosa. Além de cuidar dos dois filhos, da casa e do marido, Ivone é o braço forte na cultura dos morangos. Do plantio, aos cuidados e até na colheita, Ivone trabalha em todas as etapas. O sorriso e o entusiasmo contagiam e é um exemplo forte de que o campo tem qualidade de vida e novas perspectivas. “Não é fácil viver da agricultura familiar, mas a gente mora aqui e cria nossos filhos na terra. Eles falam que não querem sair, então temos que buscar meios para que fiquem e construam suas vidas nesse lugar. Eu sou mulher e tenho muitas jornadas no sítio, mas sou muito feliz no meu lar ”, afirma Ivone Barbosa, agricultora.


Associação de são Miguel do Caparaó – Assim Caparaó


há três anos eles fundaram a Associação de Produtoras e Produtores de são Miguel do Caparaó


Se dá certo sozinhos, em pequenas propriedades, imagine juntos? Cerca de 100 agricultores descobriram que juntos são mais fortes no distrito de São Miguel do Caparaó, em Guaçuí.


Há três anos eles fundaram a Associação de Produtoras e Produtores de São Miguel do Caparaó. Com a união eles compram produtos para a lavoura, podem receber verbas governamentais, fazem cursos, receberam 11 computadores do Governo Federal, uma pequena biblioteca para crianças, as mulheres fazem artesanato e agora, falta apenas uma sede para o trabalho crescer ainda mais.


E as mulheres mostram que não tem medo da luta. Há quase dois meses elas participaram de um curso de vaqueiro oferecido pelo Senar. Cleonice Palmeira, que trabalha com mais quatro pessoas no sítio da família, conta que teve a oportunidade de aprender mais que apenas a lida com o gado: também aprendeu maneiras de administrar as contas da casa.

pube


“Lá em casa a gente mexe com a lavoura de café, milho, feijão e trabalhamos juntos. É importante não fi car só na roça, importante aprender outros cursos. O curso não foi só sobre o gado, a professora me ensinou também a detalhar tudo o que foi gasto durante a colheita e relacionar com o que ganhamos. Isso foi muito importante pra mim e tenho certeza que para minhas companheiras também ”, conta a agricultora Cleonice, que mora no Assentamento Luiz Taliuli Neto.


Os computadores ganhados pelo Governo Federal ainda estão intactos e nem foram ligados. Com a falta da sede, as máquinas fi cam no sítio da vice-presidente, Maria José de Paula. A sala de televisão vai virar, em poucos dias, sala de aula para centenas de pessoas que nunca tiveram acesso a computadores e muito menos à internet.


“Estou na expectativa e confesso que não sei mexer no computador, mas pretendo chegar lá e com certeza aprender. A gente tem vontade e isso prevalece no dia a dia ”, disse Josélia Maria Lima, agricultora que faz parte da associação e vive com a família no distrito.


Ainda nascendo nas mãos das mulheres das famílias da associação está o artesanato. Uma vez por semana, elas se reúnem para bordar toalhas e peças para casa. Muitas nem sabiam como fazer os trabalhos artesanais, mas resolveram aprender, e mesmo no início estão conseguindo vender as peças e faturar com as encomendas.


“Nenhuma de nós sabemos tudo e estamos dispostas a aprender mais, procurar um jeito da gente ter um ganho maior, aqui mesmo no lugar onde moramos. Não queremos viver só do café e da fl or. Queremos criar novos negócios para gerar um lucro melhor ”, afi rma a agricultora Maria Lúcia Azevedo.


O doce mel de São Felipe: Casal vive da terra e coloca duas filhas na universidade


A história de Tânia Gravel eJosé Henrique Apostólico Gravelque moram na localidade de SãoFelipe, é totalmente diferentedo comum. O casal morava emVila Velha e depois de 35 anosna cidade grande resolveram iratrás de tranquilidade e de umavida melhor. Foi então que elescomeçaram a trabalhar comagricultura. O início foi com aslavouras de café e a produçãode leite. Mas, hoje, a diversifi -cação predomina na pequenapropriedade, a renda sustentaa família e fez o casal realizar osonho de ter as duas fi lhas estudandoem uma universidade.


“Começamos mesmo nalavoura de café e aos poucosfomos também fazendo o queijocom o leite da roça. Com opassar dos anos a diversifi caçãovirou regra. Hoje, 90% dasfl ores fornecidas para casamentosem Guaçuí são nossoscopos de leite. Temos tambémbanana, abacate, leite e o mel.O mel agora é o nosso carrochefe, o que gera mais rendana casa ”, afi rma Henrique.


A produção de mel em parceriacom outros apicultoresdeu certo, a família conseguiuo selo municipal e agora recebeuum selo da agriculturafamiliar, do Ministério da Fazenda,novidade que quase nãohá no estado. As vendas vêmcrescendo, são supermercadosde Guaçuí e também fazemparte da merenda escolar empelo menos quatro municípiosda região. A produção chega auma tonelada e meia por ano.



“Nosso maior orgulho é saberque tudo que temos veio daterra. Minha fi lha se forma emAssistência Social, pela UFESagora. Temos outra fi lha, elaestá cursando o 5° período demedicina na UFES. Estamosmuito felizes e as coisas estãodando certo ”, fi naliza Gravel.



Nem tudo são flores nas pequenas propriedades

Mesmo com os investimentos e com a união, as famílias de pequenos agricultores não estão livres de problemas. Maria José de Paula, moradora do distrito de São Miguel do Caparaó, sofreu com as últimas chuvas de fevereiro e os estragos na propriedade da família ainda estão do mesmo jeito depois que a chuva passou. O temporal destruiu a produção de copos de leite, estufas e deixou em boa parte do sítio o mato alto, hoje não há quase flores nos pés e também falta mão de obra para o trabalho. “O prejuízo foi só mesmo aqui na minha propriedade, mais ninguém foi atingido na redondeza. Ganhávamos por mês com a produção de flores cerca de R$ 3 mil. O dinheiro está fazendo falta porque ainda não conseguimos nos recuperar. Outro problema é que nosso empregado nos deixou e está difícil conseguir outro ”, lembra Maria José. E não é só a queda na produção de flores que atingiu a família. O marido Edmar de Paula conta que no sítio existem seis açudes, neles estavam 11 mil alevinos e não há nada mais. O que ganhavam na produção de flores investiram nos tanques de peixes, mas o negócio não deu muito certo, os peixes foram praticamente doados e os açudes estão vazios.


“Ficamos sem orientação e acabamos perdidos mesmo em relação aos peixes. Temos os açudes ainda e investimos na época para isso, as promessas eram grandes e agora está tudo seco. Quem sabe com a união da associação podemos nos recuperar desses prejuízos ”, destaca Edmar. Mas não é só prejuízo incerto vindo das tempestades como aconteceu com as flores de Dona Maria, nem a falta de informação no caso da piscicultura do seu Edmar. É também a questão econômica internacional que afeta os pequenos agricultores. Os pequenos sofrem com a reviravolta no mercado de exportação no Brasil, como é o caso do que vem acontecendo com o preço do café. Às vésperas da colheita tem agricultor se perguntando o que fazer esse ano. A resposta, o agricultor Isaías Lobato, que tem 45mil pés de café ainda não tem. Com a saca custando 40% do salário mínimo em média, o pequeno agricultor não sabe como vai ser a safra deste ano, dos 12 meeiros que tinha na propriedade, dois já abandonaram o contrato e a colheita começa em junho.


“Já tive orgulho em dizer que era um pequeno agricultor, mas o preço do café está lá embaixo e tenho certeza que essa safra vou fechar as contas no vermelho se continuar assim. O governo precisa tomar alguma iniciativa como fez com as montadoras de carro. Nós pegamos empréstimos para investir na lavoura, mas se o preço está lá embaixo como vamos pagar? ”, explica Isaías. O agricultor nos últimos 10 anos começou a investir também na pecuária leiteira, o que rende cerca de 80 litros por dia. Toda a produção é escoada para a Colagua – Cooperativa de Laticínios Guaçuí. A intenção agora é tentar tirar da pecuária o que as lavouras de café não estão oferecendo. “Já passei por crises fortes no café, mas hoje, além do preço baixo outro problema é a mão de obra que não é suficiente na região. Estamos à beira de um grande problema. Pode ser o início de uma grande crise ”, desabafa Isaías


Famílias recebem suporte técnico


As famílias precisam estar constantemente assistidas com projetos e ações para que elas consigam gerar renda no campo e porque praticamente não têm conforto. O Incaper vem dando suporte a esses pequenos produtores junto com outras ações previstas pelo Governo do Estado. Para a economista doméstica do Incaper de Guaçuí, Ana Carvalho Pereira, o desestímulo do setor durante alguns anos fez com que a produção despencasse provocando também o êxodo rural há algumas décadas.


“O município de Guaçuí, como a maioria dos municípios da região do Caparaó, tem sua economia baseada na cultura do café e na pecuária de leite. Nas últimas décadas, o setor sofreu com a queda da produtividade, tanto na agricultura quanto na pecuária, desestimulando o produtor a investir na atividade, o que gerou queda na produção, êxodo rural, empobrecimento da área rural, inchaço nas periferias da cidade, entre outros problemas ”, afirma Ana.


Mas foi junto à diversificação das lavouras, com mais informação e tendo a coragem para estudar, que muitas famílias estão dando “a volta por cima ” e encontrando na agricultura familiar uma economia forte. O Incaper vem oferecendo em parceria com o Senar diversos cursos gratuitos na região do Caparaó, ação que vem mudando a realidade dessas propriedades.


“Algumas famílias buscam diversificar a produção, estão entregando verduras, legumes e frutas para programas como o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar). O município é forte na produção de queijo, mel, morango e flores, entre outras atividades. Em busca de novos horizontes, algumas associações estão se fortalecendo, assim como o grupo de mulheres está se organizando para montar seu próprio negócio e melhorar a renda no meio rural ”, finaliza a economista.


De acordo com a Secretária de Agricultura de Guaçuí, Christiany Fitaroni, o município possui aproximadamente 1.400 propriedades rurais e a agricultura familiar é a base da economia. Novos projetos e antigos estão sendo feitos para atender os agricultores da cidade.


“Estamos estruturando a Secretaria Municipal de Agricultura no sentido de apoiar e desenvolver programas que venham fortalecer a agricultura familiar com ações direcionadas para capacitação, fortalecimento do associativismo e cooperativismo e diversificação da atividade agrícola como proposta de novas oportunidades de geração de renda. No cenário atual observamos a necessidade de trabalhar com a juventude rural, desenvolvendo ações que despertam o empreendedorismo na atividade agrícola familiar através dos jovens, para que eles possam ter diferentes oportunidades de negócios no campo e desta forma obter melhor qualidade de vida para suas famílias ”, declara a Secretária.


Estado investe em agricultura familiar


Para atender a cerca de 70 mil propriedades que investem em agricultura familiar no Espírito Santo, o Governo do Estado vem realizando projetos para atender esses agricultores e dar mais suporte e qualidade de vida no interior do Espírito Santo. O principal projeto que engloba o pequeno agricultor é o Vida no Campo. Ao todo, são 13 ações que já começam a chegar nos 78 municípios capixabas. Em três anos, a previsão é que o Governo invista R$ 2,5 bilhões na agricultura familiar. Mais da metade desse dinheiro vem do crédito rural.


As ações previstas são: infraestrutura produtiva, habitação rural, crédito rural, crédito fundiário, assentamentos rurais, titulação de terras, juventude rural, empreendedorismo e agroindústria familiar, compra direta da agricultura familiar, certificação orgânica e produção agroecológica e segurança alimentar. De acordo com o Secretário Estadual de Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca, Enio Bergoli, os resultados aparecem com o trabalho conjunto da família, tanto que ano após ano o Espírito Santo bate recordes em produção de café e de leite.


“Além do Vida no Campo, nosso Governo tem diversos programas que contribuem para a melhoria da qualidade de vida das pessoas que atuam no rural. Na área de infraestrutura rural, temos o Caminhos do Campo, que consiste na pavimentação de estradas rurais, o Comunicação do Campo, que em breve disponibilizará sinal 3G de telefonia móvel para os principais distritos rurais, e o Energia Mais Produtiva, em que o Governo do Estado investe no reforço de rede elétrica, de mono para trifásica, para que máquinas e equipamentos auxiliem nossos produtores no processo de produção, melhoria da qualidade e agregação de valor de seus produtos.

Clique aqui e receba as principais notícias do dia no seu WhatsApp e fique por dentro do que acontece no agronegócio!