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Fruticultura

Agricultores de Montanha empreendem com fruticultura

A partir do segundo semestre, fazendas antes só dedicadas à pecuária bovina e ao café conilon voltam a colher uvas finas e maçã e, pela primeira vez, pera.

por Redação Conexão Safra

em 22/06/2017 às 0h00

7 min de leitura

Agricultores de Montanha empreendem com fruticultura

Quando o cenário climático e o relevo parecem tornar impossível a diversificação no Extremo Norte capixaba, produtores rurais do município de Montanha, na divisa com Minas Gerais e a poucos quilômetros da Bahia, voltam a surpreender aqui nas páginas da Safra ES, dessa vez na fruticultura. A partir do segundo semestre, fazendas antes só dedicadas à pecuária bovina e ao café conilon voltam a colher uvas finas e maçã e, pela primeira vez, pera.


Os plantios começaram nos últimos sete anos como alternativa de renda nas propriedades, localizadas na zona rural de Montanha. A convivência com a seca,
hoje realidade comum a todo o território capixaba, estimulou o empreendedorismo de agricultores familiares, que abastecem o mercado interno, fornecem frutas para a merenda escolar e ainda abrem suas porteiras para receber turistas no auge da colheita.


A uva é uma das apostas com resultados satisfatórios nesse período. Na comunidade de Santo Antônio, no Córrego do Café, a dez quilômetros da sede do município, a família de Genildo Pancieri, de 71 anos, colhe a fruta duas vezes por ano (junho e dezembro) na Fazenda Vista Alegre. Só para se ter uma ideia, em regiões mais frias ocorre apenas uma safra anual.


O agricultor e os filhos Odair Dalmásio Pancieri (47), Odir (46), Luciano (40) e João Paulo (34), além do genro, Erivaldo Pereira, dedicam apenas um hectare da área total de 450 ha para os cultivos de uva de 15 variedades, entre rústicas e finas. A produtividade é alta: oito toneladas por safra.


Segundo o primogênito, Odair, o plantio de uvas começou há sete anos com o acompanhamento do professor Márcio Czepak, pesquisador do campus da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) de São Mateus. O agricultor conta que viu pela TV o professor apresentando um plantio experimental na sua propriedade. Os Pancieri fizeram contato com o pesquisador e acompanharam o experimento durante um ano e meio. “Nós observamos que, se em São Mateus, onde o clima é semelhante ao nosso, a viticultura deu certo, poderia ocorrer o mesmo em Montanha. A gente adora trabalho, desafio ”, diz Odair.


Para implantar o cultivo inédito de uva no município, a família investiu, na época, cerca de R$ 60 mil. Em valores atualizados, algo em torno de R$ 90 mil, calcula o agricultor. A partir do investimento inicial no parreiral, a primeira safra só ocorreu depois de dois anos e meio, e os Pancieri recuperaram o valor investido com apenas três anos após essa colheita.


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“Não temos período frio e, ao contrário do que pensam, uva gosta de temperatura alta. O nosso clima garante fruta mais doce e índice baixo de doenças, uma vez que tem menos umidade, consequentemente menos fungos. Sem contar que diminui muito a necessidade de pulverização ”, destaca Odair.


Venda garantida


A saída para as uvas é garantida na região. A produção atende os programas de Aquisição de Alimentos (PAA) e Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), o Centro de Comercialização ligado à prefeitura, onde os servidores municipais realizam compras com ticket disponibilizado pela administração, além de supermercados e feiras livres no município vizinho de Pinheiros e em Nanuque (MG).


Ainda de acordo com Odair Pancieri, cerca de 30% da produção é vendida na porta do parreiral. A cada safra, a propriedade recebe média de 200 carros de visitantes, que curtem a propriedade para tirar fotos, colher uvas do pé e levar o produto em caixinha para casa com a marca “Montanha Fruit ”.


Para a família, a diversificação agrícola garante renda em outras épocas do ano. “Não ficamos dependentes somente da cultura cafeeira, ainda o carro-chefe da fazenda, e o trabalhador não fica ocioso na entressafra. Com uma cultura em crise, a outra ajuda na renda familiar ”, afirma Odair.


Maçã e pera colhem os primeiros resultados


Na comunidade de Limoeiro, a 18 km do centro de Montanha, a família Anacleto é pioneira no município nos cultivos de maçã e pera, iniciados há cerca de dois anos. A produção, ainda não
expressiva, atende o mercado interno com variedades de agregado valor comercial para consumo in natura.


A iniciativa é do agricultor Luiz dos Santos Anacleto, os três filhos e os três netos. Em 16 alqueires da propriedade adquirida em 1995, a família dedica 1 hectare às maças Eva, Julieta e Princesa e acompanha o desenvolvimento de 300 pés de pera da variedade Triunfo.


Segundo o filho do meio, Abel Anacleto, a diversificação já faz parte da cartilha da propriedade desde o início. As lavouras de café conilon dividem espaço com pés de bananas da terra e prata, além dos plantios de feijão e tomate para consumo próprio da família durante o ano.


A ideia de iniciar a produção de frutas de mesa para atender o mercado local surgiu da vocação própria dos agricultores para empreender no meio rural. De acordo com Abel, além de pesquisar o assunto pela Internet, conheceram dois engenheiros agrônomos especialistas na área de fruticultura, que tiveram bons resultados em regiões de clima seco semelhante a Montanha, como Bahia e Minas Gerais. “Somos corajosos, tivemos a ideia de fazer, pesquisamos por conta própria. A terra é a gente que tem que cultivar. E se a gente quer sobreviver encima dela, tem que ter vontade, gosto de produzir, ter alimento para o consumo próprio e para atender o mercado ”, afirma Abel.


Segundo Abel, ainda não há uma previsão de safra para este ano, uma vez que tratam-se de culturas perenes e ainda em fase de experimentação, na base dos erros e acertos. “O mercado local ainda não está acostumado a consumir frutas produzidas no município. Ainda não somos um polo de maçãs e peras, mas os resultados prometem ser satisfatórios, não vamos desistir. ”


Os plantios são todos irrigados por sistema de gotejamento e uma parte por microaspersão, cuja água vem de poços artesianos e pequenas represas instaladas recentemente na propriedade. Abel destaca que as áreas nunca dispuseram de nascentes ou represas, e o cenário encontrado há 21 anos na compra da fazenda não era nada favorável.


“As áreas eram todas drenadas por máquinas para a água ir embora mesmo. Nem trator entrava de tão seca que era a vegetação para cortar. Nós fechamos as áreas de vala e reflorestamos para garantir água. E durante esse tempo, procuramos ter água e preservá-la ”, explica o agricultor.


Barragens sustentáveis


O secretário Municipal de Agricultura, Bruno Pancieri, diz que o poder público incentiva a diversificação e faz sua parte com disponibilização de máquinas agrícolas para preparo de solos e terrenos. Segundo Pancieri, desde o início da atual administração, em janeiro deste ano, a secretaria vem estimulando outros agricultores com opções de culturas rentáveis para gerar renda na entressafra do café.


“A primeira coisa que fizemos foi um seminário com objetivo de gerar o plano de desenvolvimento da
agricultura local. Foi a partir dele que surgiram alternativas para diversificação ”, afirma Pancieri.


Paralelamente a isso, a Prefeitura criou o projeto “Barragens Sustentáveis ”, para dar suporte aos produtores rurais com técnicas de armazenamento da água da chuva. A ideia é disponibilizar água suficiente para potencializar os arranjos produtivos diversificados.


A parceria com os produtores consiste em ceder maquinário e, em contrapartida, os moradores atendidos arcam com o custo do óleo. De acordo com o secretário, a meta é beneficiar, inicialmente, 300 grupos familiares de Montanha.


“Nossa iniciativa se inspira nos trabalhos pioneiros de Montanha, a exemplo dos Pancieri e dos Anacleto. Por meio de dias de campo, estamos levando informação até as propriedades, firmando parceria com os agricultores e mostrando a eles que essas experiências são possíveis dentro do município ”, finaliza Bruno Pancieri.

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