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Cervejas

O poder das collabs: a essência colaborativa no universo cervejeiro

As colaborações especiais entre cervejarias artesanais ajudam a ampliar a visibilidade das marcas e produtos, além de fomentar o turismo

por Leandro Fidelis

em 21/07/2023 às 17h13

9 min de leitura

O poder das collabs: a essência colaborativa no universo cervejeiro

Em Venda Nova do Imigrante, uma parceria entre as cervejarias Grecco e Tarvos culminou com o lançamento da primeira bock da região, no inverno de 2022. (*Leandro Fidelis/Imagem com direito autoral. Proibida reprodução sem autorização)

A colaboração entre cervejarias independentes nas Montanhas Capixabas e no Caparaó não apenas geram produtos únicos e saborosos, mas também contribui para o desenvolvimento das respectivas regiões. O fortalecimento das parcerias entre pequenos negócios, como as cervejarias artesanais, impulsiona a economia local e gera empregos e renda para a comunidade.

A onda de “collabs” entre os cervejeiros resultou em mais dez cervejas inéditas no último ano, segundo o blog “Rota da Cerveja”, e em eventos como o “IPA Day”, em sua segunda edição neste sábado (22), em Venda Nova do Imigrante. As colaborações especiais ajudam a ampliar a visibilidade das marcas e produtos, além de fomentar o turismo na região. É um grande atrativo para os consumidores, que buscam novas experiências e produtos diferenciados.

Além disso, essas parcerias também podem gerar uma troca de conhecimentos entre os cervejeiros, promovendo a capacitação e o aprimoramento dos processos produtivos.

“Trata-se de criar uma cerveja especial, que não faz parte da linha tradicional na qual a cervejaria normalmente atua. É um processo de compartilhamento de conhecimento, no qual as cervejarias estudam e desenvolvem a cerveja em conjunto. Além disso, a dimensão social também é importante: você aprende com seu parceiro e ele aprende com você. E consequentemente, as empresas se tornam parceiras mais próximas”, analisa Tedesko Almeida, sócio-proprietário da Piwo Cervejaria Rural, de Venda Nova.

Isso leva a uma melhoria na qualidade dos produtos, o que pode contribuir para a fidelização dos clientes e, consequentemente, para o crescimento do negócio. É a oportunidade para os empreendedores ampliarem suas redes de contatos e se conectarem com outros profissionais do mercado.

Para Carlos Eduardo Rodrigues, da Panzert (Ibatiba), as collabs ajudam a aumentar a visibilidade e a conscientização das cervejarias independentes envolvidas, o que pode levar a um aumento na demanda e ajudar a construir uma base de fãs mais ampla.

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“E ainda podem ajudar a promover a ideia de que as cervejarias independentes são uma comunidade unida e colaborativa, em vez de concorrentes diretos. Ajudam a construir um senso de camaradagem e respeito mútuo, o que pode levar a mais colaborações no futuro”, afirma Rodrigues, que neste ano lançou a Hop Lager Maracujá, em parceria com a Ronchi Beer, de Pedra Azul (Domingos Martins).

Cássio e o irmão, Carlos Eduardo Rodrigues, sócios da Panzert (Ibatiba).

Nas collabs, os cervejeiros utilizam equipamentos e instalações de ambas as cervejarias, e a colaboração de suas equipes de produção para garantir que o processo seja eficiente e eficaz. “A maturidade e a experiência dos cervejeiros convergem para a melhor forma de executar a receita, sempre debatendo os porquês de cada escolha”, destaca Fábio Schneider, da Bello Monti, também de Domingos Martins.

Ainda segundo o cervejeiro, a união de duas ou mais pessoas no processo de elaboração e produção das receitas acabam, por sinergia, potencializando a capacidade criativa dos envolvidos.

“Gera produtos melhores e/ou únicos, ajudando a alavancar o mercado com um novo produto de qualidade. Sem falar que também acaba atraindo o cliente que até então não era fiel ou conhecedor das cervejarias em questão”, complementa.

Além disso, algumas cervejarias artesanais já usam ingredientes locais, como lúpulo da região, o que pode ajudar a promover a agricultura local. Os municípios de Viana, Alfredo Chaves e Venda Nova contam com cultivos experimentais, com destaque para o metropolitano, cujo projeto é o primeiro do Brasil de iniciativa do poder público.

Em Domingos Martins, um sítio é pioneiro no Estado na produção de lúpulo de diferentes variedades e com mudas certificadas pelo Ministério da Agricultura (Mapa). Logo na primeira colheita, em abril de 2021, os proprietários fizeram “collab” com a cervejaria Barba Ruiva para a produção de dois rótulos usando lúpulo in natura. As cervejas foram uma Pilsen lupulada, com o amargor tradicional, típico da cidade de Pilsen (República Tcheca), e uma Double Ipa.

Moretina: A cerveja que une tradições italianas e cervejeiros artesanais- A Moretina foi a primeira cerveja colaborativa de Venda Nova do Imigrante, cidade conhecida pela influência dos imigrantes italianos. Em 2021, a Piwo e a Tarvos uniram-se para criar uma cerveja típica local em homenagem aos 130 anos da imigração na região. Inspirados pela cena cervejeira artesanal americana, os cervejeiros desenvolveram a Italian Pilsner, um estilo de cerveja que se popularizou nos Estados Unidos. O nome “Moretina” foi escolhido em uma enquete nas redes sociais e faz referência a um jogo tradicional praticado em Venda Nova, transmitido pelos descendentes de italianos. Após a produção, as cervejarias idealizadoras compartilharam a receita com outros cervejeiros da cidade, que a ofereceram durante a Festa da Polenta, em outubro daquele ano.

Empregos

As micro e pequenas empresas (MPEs) desempenham um papel fundamental no desenvolvimento econômico e social, gerando empregos e impulsionando a renda da comunidade. No Espírito Santo, entre abril de 2022 e abril de 2023, um total de 47.527 mil empregos foram criados, com as MPEs sendo responsáveis por 71,5% dessas oportunidades, o equivalente a 34 mil empregos.

Os dados foram revelados em um levantamento realizado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), com base nas informações do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Os números destacam a importância desses pequenos negócios na geração de empregos e no fortalecimento da economia local.

O Sindicato dos Restaurantes, Bares e Similares do Espírito Santo (Sindbares) não soube informar a quantidade de postos de trabalho oferecida pelas cervejarias no eixo da BR-262 entre as regiões do Caparaó e Viana, já na Grande Vitória. No entanto, um levantamento junto a 30 cervejarias em atividade ao longo da rodovia dá conta de 90 empregos diretos e 450 indiretos.

Proprietário da Tarvos, Ricardo Feitosa destaca que o turismo na região representa boa parte da renda das famílias e gera empregos.

“A partir do momento que o dinheiro circula, as cervejas artesanais vieram fortalecer ainda mais a região com hotéis, restaurantes, propriedades de agroturismo e rotas com bom atendimento. Somos parte disso. Além de toda a oferta, hoje o turista pode experimentar um universo de vários gostos, estilos e acaba tendo uma experiência diferente”.

Fábio Schneider (Bello Monti) disse acreditar que a paixão leva os cervejeiros a oferecerem o melhor para os clientes. (*Foto: Leandro Fidelis)

Paixão

A paixão dos cervejeiros pelo que fazem é uma das forças motrizes por trás dessas colaborações especiais. Ao trabalharem juntos, eles conseguem criar algo único e especial que vai além do simples lucro financeiro, mas também se conecta com a cultura e o estilo de vida da região.

Segundo Carlos Eduardo (Panzert), numa produção colaborativa, quando a cerveja está pronta, as cervejarias podem trabalhar juntas para promovê-la e distribuí-la. Isso pode envolver o uso de rótulos especiais e embalagens únicas para destacar a colaboração e a exclusividade da cerveja, e a organização de eventos especiais para apresentar a cerveja ao público.

Para ele, outro aspecto importante é o papel que as cervejarias artesanais podem desempenhar na construção de comunidades locais fortes. “Elas podem servir como locais de encontro para os moradores, eventos, festivais e atividades sociais. Isso pode ajudar a criar uma sensação de comunidade e pertencimento, e promover a cultura local”, afirma.

Fábio Schneider (Bello Monti) disse acreditar que a paixão leva os cervejeiros a oferecerem o melhor para os clientes. Esse combo inclui: produtos de qualidade, atendimento humanizado e encantador e oferecer não apenas uma cerveja e, sim, uma história, um sentimento e uma experiência. “Nada disso acontece sem paixão. Produtos colaborativos, via de regra, são o ápice do saber e do sentimento de duas mentes apaixonadas por cerveja. Quando a intensão é oferecer ao cliente algo único, o sucesso é garantido”.

O cervejeiro afirma ser o público de cerveja artesanal no Brasil em torno de 5% de todo o mercado, mas o setor ganharia se as cervejarias locais focassem em qualidade e fidelizassem cada vez mais consumidores. Além disso, ele julga ser necessário maior aproximação entre os cervejeiros, principalmente para fomentar o desenvolvimento seja com cursos, simpósios e outras ações para ganho coletivo, não só financeiro, como também técnico.

A colaboração é fundamental no cenário cervejeiro atual. Na década de 1970, na Inglaterra, quando surgiu o movimento em busca da ‘cerveja de verdade’ como alternativa à massificação da indústria cervejeira dominada pelas lagers, os cervejeiros já queriam ressuscitar as Ales. Naquela época, os cervejeiros costumavam visitar uns aos outros para produzir cervejas juntos. A questão das colaborações vai além do aspecto financeiro; é uma oportunidade de aprender em conjunto, compartilhando esse momento de aprendizado. Neste segundo semestre, faremos colaborações com cervejarias nacionais, processo que começou em maio durante o Festival ISO, em Belo Horizonte”. (Tedesko Almeida, Piwo Cervejaria Rural). (*Foto: Leandro Fidelis/Arquivo)

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