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Cafés especiais

Primos cafeicultores de Brejetuba superam inacessibilidade ao crédito

por Leandro Fidelis

em 27/01/2020 às 10h05

3 min de leitura

Primos cafeicultores de Brejetuba superam inacessibilidade ao crédito

Vista da propriedade em Alto Vargem Grande. (*Fotos: Divulgação)

A rotina na roça já não é simples. Agora imagine como é viver num lugar desacreditado pelos bancos na hora de liberar o crédito?

Foi isso que aconteceu com a família Dias, de Alto Vargem Grande, a localidade produtora de café mais alta de Brejetuba, na região serrana capixaba. Devido às altitudes elevadas da localidade- com lavouras entre 1.100m e 1.250m- os produtores não conseguiam financiamento porque as instituições financeiras consideravam impossível a família tirar renda da propriedade.

E hoje o “trunfo ” dos Dias é justamente produzir café nas alturas. Por conta do clima e da terra boa em meio ao relevo acidentado do Sítio Sagrada Família, os cafeicultores mudaram de vida com a produção de cafés especiais.

Matheus e Pedro durante a SIC 2019, em Belo Horizonte. (*Foto: Leandro Fidelis)

Os trabalhos começaram há pouco mais de um ano por iniciativa dos primos Pedro (20) e Matheus Dias (22). A reportagem da Safra ES conheceu a dupla na Semana Internacional do Café (SIC 2019), em Belo Horizonte.

Representando a origem “Montanhas Capixabas ”, os jovens foram ao evento para buscar informações e se conectar com o universo dos cafés especiais.

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Segundo os primos, a história da família com a cafeicultura começou com o avô João Timóteo. A propriedade só tinha mata quando ele chegou à região.

Atualmente, os proprietários são José Eraldo Dias (pai do Matheus) e João Valter Dias (pai do Pedro), mas quem toca os negócios são os filhos. Os jovens contam que a família sempre fez bebida dura, mas só atestou a qualidade a partir de 2018 quando os cafés foram levados para testes.

“Em quatro lotes, a pontuação oscilou entre 86 e 89,5. Foi um choque para nós. E de lá pra cá, nossos cafés estão sempre acima de 86 pontos ”, afirma Matheus.


Os produtores fecharam o ano de 2019 com safra de 60 sacas de cafés especiais. Por conta da altitude elevada, os Dias colhem o ano todo- variando entre duas e três colheitas seletivas, até mesmo quando a temperatura chega a 5º C em Alto Vargem Grande.

O resultado são cafés com aroma mais chocolatado e de melado de rapadura que fizeram os Dias campeões do concurso promovido pela empresa Bourbon. Uma saca do microlote, pontuado em 91,5, foi vendida a R$ 2.000,00.

“É raro um café que dá problema para nós ”, diz Matheus.

As lavouras da família Dias estão situadas entre 1.100m e 1.250m de altitude.

Criatividade para despolpar café

Diante da falta de recursos para começar os negócios, os primos Pedro e Matheus Dias desistiram acessar financiamento e usaram a criatividade para produzir cafés especiais. A dupla criou um despolpador que dispensa o uso do desmucilador.

Pedro explica que o equipamento improvisado conta com uma caixa para onde o café é lançado primeiramente. Nesta etapa, os cafés boia, folhas e pedaços de pau boiam, e os grãos bons vão direto para o descascador.

Sem o desmucilador, o café selecionado vai para outra caixa d’água, onde é retirada a goma dos grãos. Nesta etapa, outros defeitos vão boiar para uma segunda cata.

“No final do processo, temos apenas três por cento de cafés com defeito ”, diz Pedro.

Outros implementos estão no Sítio Sagrada Família há décadas, a exemplo do lavador e da piladeira com 40 anos de idade, ainda da época do avô dos jovens. Além disso, os cafeicultores utilizam o terreiro suspenso.

“Fomos adaptando o que tínhamos. Nunca guardamos os segredos com a gente. Nossa iniciativa irradiou para a vizinhança, onde pelo menos quatro produtores já começaram a produzir cafés especiais ”, conclui Matheus.

Ouça Matheus explicando o sistema!


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