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Paula Cristiane Oliveira Braz

Colunista Conexão Safra.

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Sustentabilidade em xeque: o Brasil diante de um mundo dividido

por Paula Cristiane Oliveira Braz

em 13/04/2025 às 5h00

4 min de leitura

Sustentabilidade em xeque: o Brasil diante de um mundo dividido

Foto: divulgação

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Por Paula Cristiane Oliveira Braz

A crescente preocupação ambiental tem moldado o comércio internacional, principalmente nos mercados mais exigentes, como a União Europeia e os Estados Unidos. Para que os produtos brasileiros tenham acesso e competitividade nesses destinos, é essencial que atendam a critérios ambientais rigorosos, como neutralidade de carbono e rastreabilidade. Porém, enquanto a pauta ecológica se fortalece na Europa, os EUA vivenciam um movimento político que desafia diretamente essas práticas, podendo gerar impactos globais.

Nos Estados Unidos, a polarização ideológica gerou um movimento contra a agenda ESG — conjunto de práticas ligadas à sustentabilidade, responsabilidade social e governança. Com o fortalecimento da influência do presidente Donald Trump, políticas ambientais vêm sendo enfraquecidas, o que influencia negativamente empresas e investidores. Em 2024, instituições como JP Morgan Chase e BlackRock se retiraram da aliança Climate Action 100+, pressionadas por setores conservadores que veem as pautas ambientais com desconfiança.

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Segundo Gustavo Loiola, especialista em sustentabilidade e professor, além de atuar no PRME (iniciativa da ONU para educação executiva), essa reação política tem feito empresas abandonarem ou ocultarem práticas ligadas à inclusão e à diversidade, temendo processos judiciais. Em alguns estados, práticas de equidade têm sido classificadas como discriminatórias, o que levou empresas a reverem suas estratégias por receio de sanções legais.

Loiola observa que o termo ESG, inicialmente utilizado para orientar investimentos e avaliar riscos corporativos, acabou se tornando alvo de disputas ideológicas. Para evitar polêmicas, muitas organizações optam por adotar uma postura mais discreta sobre essas ações, fenômeno que vem sendo chamado de greenhushing. Ele avalia que o contexto brasileiro é diferente e que não há, por aqui, um movimento político tão estruturado contra a sustentabilidade empresarial.

No Brasil, embora haja uma tendência em substituir a sigla ESG pela palavra “sustentabilidade”, a adesão a práticas ambientais permanece significativa, sobretudo no agronegócio. Loiola ressalta que os impactos das mudanças climáticas atingem diretamente o produtor rural, afetando safras por conta de chuvas irregulares ou estiagens severas. Além disso, o setor financeiro, responsável por financiar a produção agropecuária, também passa a considerar o risco climático nas decisões de crédito.

Nesse cenário, o Brasil tem buscado reforçar sua posição como referência ambiental. Avanços como a regulamentação do mercado de carbono e políticas voltadas à bioeconomia sinalizam esse esforço. Porém, o país ainda precisa se adaptar às novas exigências internacionais, como o regulamento antidesmatamento da União Europeia, que pode afetar exportações de produtos ligados ao uso da terra.

Para se destacar, o país deve investir em diferenciais como certificações reconhecidas internacionalmente, sistemas digitais de rastreamento, práticas agropecuárias regenerativas e uma comunicação mais clara com os mercados consumidores. No entanto, há incertezas no cenário global. Mesmo na Europa, algumas grandes companhias de energia, como Shell e BP, estão reduzindo seus compromissos com energias limpas. A BP, por exemplo, decidiu aumentar investimentos em petróleo e gás, após pressão de seus acionistas.

Portanto, é fundamental que o Brasil saiba equilibrar competitividade comercial com responsabilidade socioambiental. A capacidade de se adaptar às novas exigências será decisiva para o sucesso das exportações, sem renunciar à sustentabilidade — que, mais do que uma tendência, é uma necessidade urgente para o futuro do planeta e da economia.

*Paula Cristiane Oliveira Braz é Administradora, especialista em Agronegócios e tutora dos cursos de pós-graduação na área de Agronegócios do Centro Universitário Internacional Uninter.

 

 

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