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A pandemia da Covid-19 e o comportamento do consumo mundial do café

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em 18/04/2020 às 14h56

4 min de leitura

A pandemia da Covid-19 e o comportamento do consumo mundial do café

Recentemente, a Organização Internacional do Café (OIC) divulgou um estudo sobre o comportamento da demanda (consumo) do café em escala global, frente à pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Dentre vários pontos, o que mais chama a atenção é a projeção de queda no consumo mundial dos cafés da ordem de 1,6 milhão de sacas para retração de cada ponto percentual (1%) no PIB.

Essa, e várias outras projeções diante da crise da saúde e da economia mundial, têm tirado o sono dos cafeicultores capixabas e brasileiros, justamente no momento em que a colheita se aproxima. O mercado se utiliza dessas informações para formar preços, que já estão consensualmente baixos, segundo o setor de produção.

A OIC não divulgou a metodologia do estudo. Mas, como detém um poderoso banco de dados, deve ter feito essa projeção a partir do comportamento do mercado em outras crises. Contudo, o estudo da OIC e de outras fontes pode sim ser questionado, pois a visão sobre o futuro sempre tem várias faces.

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É óbvio que a pandemia vai impactar de alguma forma o consumo de cafés e de todos os produtos comercializados em dimensão planetária, só que de forma diferenciada. São muitas as variáveis a serem consideradas numa projeção de mercado, tendo em vista a escala dessa crise. Há fatos que podem até favorecer o consumo e outros que retraem. Deve-se, numa análise, levar em consideração o maior número de fatores.

Os consumidores dos países com maior consumo de café
estão levando mais a sério a pandemia, em termos de isolamento e distanciamento social, até por uma questão educacional e cultural. Na Europa, por exemplo, grande consumidora de cafés, o hábito e a forma de consumo são diferentes do mercado brasileiro. Por lá, é muito significativo o consumo fora do lar.

Há estudos que apontam, de imediato, um aumento de estoque e de consumo no Velho Continente, pois enquanto cafeterias, restaurantes e outros locais de consumo fora do lar estão sendo muito afetados pela pandemia, há um aumento substancial do consumo nas residências. E essas fontes afirmam que esse aumento de consumo supera o déficit das demais formas de consumo fora do lar. Registra-se que o consumo no lar sempre está acompanhado de desperdício. O café que esfria não é bebido, mas jogado fora.

Assim, os aspectos metodológicos são relevantes para se calcular com maior precisão o impacto sobre a demanda atual e futura. Quanto tempo vai levar a pandemia no mundo? Alguém tem essa resposta? E ainda, como será o comportamento do consumidor no pós-pandemia? Tudo isso dificulta uma projeção e, por consequência, confere um alto grau de imprecisão em estudos com essas características.

Nenhuma outra crise foi igual a essa que estamos vivenciando, fato que dificultam ainda mais as estimativas. Os cafeicultores, que passam por dificuldades no mercado há alguns anos, devem ficar atentos à recessão econômica que vai afetar de alguma forma o comportamento de todos os mercados, inclusive o de café. Não podem e nem devem subestimar esse fato.

Após a colheita, se os preços estiverem dentro de um patamar que cubram minimamente os custos, a recomendação é que os cafeicultores vendam na quantidade para, pelo menos, cobrir as despesas e dívidas de curto e médio prazos. Não devem ofertar de maneira desenfreada e nem estocar para especulações. Calma e prudência são as palavras do momento. Afinal, a nossa centenária cafeicultura já passou por tantas crises, e vai passar por essa também.

*O autor
é pós-graduado em Administração e Socioeconomia Rural, engenheiro agrônomo do Incaper e ex-secretário de Agricultura do Espírito Santo.


*Foto: Divulgação


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