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Elas Podem nas Criações das Abelhas: projeto inclui mulheres na cadeia produtiva do mel

por Rosimeri Ronquetti

em 12/10/2023 às 6h00

7 min de leitura

Elas Podem nas Criações das Abelhas: projeto inclui mulheres na cadeia produtiva do mel

Fotos: divulgação

*Matéria publicada originalmente em 16 de maio de 2022*

 

O projeto “Elas Podem nas Criações das Abelhas” começou em 2021. E, apesar das restrições impostas pela pandemia da Covid-19, que impossibilitou a realização de atividades coletivas, já é uma realidade para 22 mulheres, conectando indiretamente cerca de 70 pessoas, dos municípios de Linhares, Aracruz e Sooretama.

O coordenador do projeto e extensionista do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), Alex Fabian Rabelo Teixeira, conta que o grupo surgiu com o objetivo de apoiar e dinamizar o acesso das mulheres na criação das abelhas e que tudo começou a partir do interesse delas.

Com a vivência dentro do Incaper, na área de apicultura e meliponicultura, percebi que as mulheres começaram a se interessar, despertar o desejo de iniciar uma criação, buscar conhecimento, saber como faz, e a maioria delas já atuava de alguma forma nessa cadeia, ajudando o marido. Elas estão presentes nos eventos, ajudam, inclusive, no manejo, mas o homem está sempre na frente. O projeto vem para criar um ambiente em que mulher fique mais à vontade para seguir no que quiser na criação das abelhas. Esse foi o objetivo de formar um coletivo de mulheres que ‘podem com as abelhas’ e, assim, apoiar e dinamizar o acesso delas”, explica o coordenador.

Coordenador do projeto e extensionista do Incaper, Alex Fabian

Um exemplo é a Elisangela Azeredo da Silva, de Barra do Riacho (Aracruz). Esposa de apicultor profissional, ela sempre esteve com o marido em todos os eventos, congressos e reuniões do setor. “Eu atendia o marido dela, mas fui lá para atendê-la, para saber, dentro desse universo das abelhas, o que ela gostaria de fazer. Imediatamente, ela disse que gostaria de fazer sabonetes e xampus, mais dentro do artesanato. Vamos trabalhar o desejo dela naquilo que o projeto pode trabalhar”.

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O passo a passo do projeto

Um dos primeiros passos foi a criação dos planos de trabalho, de acordo com as necessidades e desejos de cada apicultora. O planejamento abrange o aumento dos planteis de colônias de abelhas sem ferrão e africanizadas; melhoria da estrutura e dos materiais; produção de mel; educação ambiental com crianças e adolescentes; qualificação nos conhecimentos de manejos e de produção de artesanatos, relacionadas às abelhas, e assistência técnica permanente.

Também fazem parte dos objetivos: viabilizar uma rede solidária, fortalecer os espaços de troca de experiências e construção dos saberes e tecnologias relativas às abelhas; capacitar e ampliar a qualificação, no que diz respeito ao manejo e produtos apícolas e artesanatos vinculados às abelhas e auxiliar no processo de comercialização dos produtos e artesanatos apícolas.

Cada mulher que entra para o coletivo recebe três caixas de abelha. Com o passar do tempo e o crescimento no número de colmeias, ela devolve três caixas para o grupo, para ser doada para outra mulher iniciante.

No projeto desde o início, Clecilda Muniz de Azevedo, de Regência, litoral de Linhares, conta que já trabalhava com meliponicultura ao receber a visita do extensionista do Incaper, somente pelo prazer de lidar com as abelhas, porém com pouca estrutura ou visão de que poderia ser uma fonte de renda.

Clecilda já tem 23 colmeias

Tinha algumas dificuldades com o manejo, condições estruturais, assim como obter uma visão mais ampla da criação de abelhas no sentido de geração de renda. O projeto ‘Elas Podem’ me fez obter uma visão mais específica dos subprodutos daquilo que posso colocar para vender no mercado, de como gerar renda mesmo através da meliponicutura”, afirma Clecilda, dona de 23 colmeias.

Para dar visibilidade aos produtos e ajudar na comercialização, estão previstos pontos de exposição na Estação das Abelhas da Fazenda Experimental de Linhares, na Vila de Regência e nas feiras da Associação dos Meliponicultores do Espírito Santo (AME-ES), além de uma rota das mulheres criadoras de abelhas de Regência, local com maior números de mulheres participantes do projeto.

O projeto “Elas Podem nas Criações das Abelhas”, também previsto para os municípios de Ibiraçu, João Neiva e Rio Bananal, é desenvolvido com recursos (cerca de R$ 157 mil), provenientes da portaria nº 002-R/2020, do Banco de Projetos de Pesquisa da Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), gerenciado pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes) e executado pelo Incaper.

 

Artesanato

Uma outra vertente do projeto é oferecer oficinas e cursos voltados para o artesanato usando o mel, própolis e a cera como matéria-prima, bem como as abelhas como inspiração. A primeira oficina, realizada no final de 2021, foi a de desenhos e pinturas de caixas decorativas para abelhas. Clecilda foi uma das 13 mulheres do projeto que participou.

Primeira oficina de desenhos e pinturas de caixas decorativas para abelhas

Atualmente estou aperfeiçoando a pintura de caixas de abelhas que aprendi na oficina, enquanto aguardo as próximas acontecerem. Quero fazer e me dedicar também ao artesanato”, diz. Segundo Alex Fabian, a oficina com cera de abelha será realizada em junho, mas também há previsão da oficina de sabonetes e xampus. Entre os produtos feitos com a cera estão os potes usados para as próprias abelhas. “São feitos potes de cera para ofertar nas colônias das abelhas sem ferrão e otimizar a reprodução e o crescimento das colônias. Elas perceberam que tem também esse mercado do artesanato, e tem mulheres interessadas em fazer as oficinas”, explica o extensionista do Incaper.

Coletividade e interação

Para facilitar a troca de experiências e o conhecimento, elas criaram um grupo de Whatsapp. No projeto há apenas dois meses, Maria Helena Rosário da Silva Premole, de Rancho Alto, interior de Sooretama, já percebeu a importância de fazer parte do coletivo. Ela diz que a família trabalha com abelha há muitos anos, porém sem conhecimento técnico. E assim como as orientações do Incaper, o grupo tem ajudado muito nesse sentido.

Temos uma troca grande dentro do grupo. Fico encantada com o que as mulheres com mais tempo sabem sobre o manejo, sobre tudo. Os posts delas nos ensinam muito, a troca é muito boa. Quando alguém tem dúvida é só perguntar que as mais experientes ajudam, explicam de forma clara, e isso é muito importante”, destaca Maria Helena.

Já para organizar as ações foram criadas as seguintes comissões: linha e agulha- arte com crochê, bordado, amigurumi e panos de prato; caixas decorativas: arte de fazer desenhos, pinturas e decorações em caixas de abelhas; uso de cera de abelhas: confecção de cera mista em placas, potes, impermeabilização e artesanato em geral; arte em biscuit; sabonetes e xampus; educação com crianças e adolescentes.

De acordo com Alex Fabian, dentro de cada comissão elas discutem e decidem a partir de uma responsabilização coletiva. “Cada grupo fica responsável por uma comissão, tanto na organização das atividades coletivas, quanto na listagem de materiais necessários”.

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