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Agricultura familiar

Feliz Lembrança: jovens transformam a vida de comunidade rural em Alegre

por Coordenação de Comunicação e Marketing do Incaper

em 19/08/2019 às 20h06

6 min de leitura

Feliz Lembrança: jovens transformam a vida de comunidade rural em Alegre

Paulo Junior (de vermelho), atual presidente da Associação de Produtores e Moradores de Feliz Lembrança, ao lado de João Abreu, um dos primeiros presidentes da Associação. (*Fotos: Divulgação Incaper)

Foi depois que o grupo de jovens da igreja resolveu recolher o lixo das propriedades rurais e reativar a associação de produtores que a comunidade de Feliz Lembrança, na zona rural de Alegre, virou exemplo de sucesso. Com 57 famílias distribuídas em 26 alqueires de terra, a comunidade é uma ilha de agricultura familiar com produção diversificada, cercada pela pastagem de uma propriedade criadora de gado.

Com atitude e perseverança, os jovens conseguiram evitar o êxodo rural e promover ações voltadas para a conservação do meio ambiente, a movimentação da economia e a melhoria da qualidade de vida das famílias que vivem em Feliz Lembrança. Tudo com o apoio do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), a Prefeitura de Alegre e outros parceiros.

“A nossa comunhão com o Incaper é forte. A extensão atinge todo o processo de organização, e mudou até a nossa fala. A gente não usa ‘eu’. A gente fala ‘nós’. Tudo o que conquistamos é fruto de um esforço coletivo ”, disse Fabio de Souza Silva, um dos jovens envolvidos no grupo que ganhou status de porta-voz tamanha é sua desenvoltura em apresentar a ações desenvolvidas na comunidade.

Além da organização dos jovens, o trabalho integrado de pesquisa, assistência técnica e extensão rural prestado pelo Incaper contribuiu na diversificação das culturas, nas ações de preservação do meio ambiente, no acesso a políticas públicas e a novas tecnologias. “Nós queríamos plantar abacaxi, porque a região é propícia para o cultivo. O extensionista falou que o Incaper tinha desenvolvido um abacaxi sem espinho, resistente à fusariose, e nos levou para a Fazenda de Pacotuba para conseguirmos as mudas ”, disse o agricultor.

Hoje mais velho, Fábio Silva era um dos integrantes do grupo de jovens da igreja pioneiro nas ações em prol do desenvolvimento sustentável da comunidade. Atualmente, os jovens representam 70% dos moradores locais. E a maioria faz parte da Associação de Produtores e Moradores de Feliz Lembrança, cujas atividades estavam paralisadas desde a década de 1990 mas foram retomadas pelo grupo. Atualmente, a Associação possui 40 membros, todos trabalhando dentro dos princípios da agroecologia e da sustentabilidade.

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Paulo Junior ingressou no grupo aos 18 anos e hoje, aos 22, preside a Associação. “Quando eles começaram, eu era bem novinho. Hoje sou presidente da Associação. A gente sente as consequências do trabalho deles. Hoje temos uma grande responsabilidade, mas seguimos firmes para dar exemplo para outros jovens rurais ”, diz. “Para nós, é um orgulho que nossas ações sirvam de exemplo para outras comunidades. Nosso diferencial é justamente esse: o protagonismo da juventude na vida da sociedade. ”, acrescentou Fábio.

O empreendedorismo é característica marcante dos jovens de Feliz Lembrança. Com a ajuda da esposa e da irmã, Fábio administra a Frumel, uma agroindústria que produz sucos naturais. A matéria prima é plantada, colhida e processada dentro do pequeno território da comunidade. Atualmente, são quatro agroindústrias em Feliz Lembrança, que oferecem produtos diferenciados da agricultura familiar ao mercado local. “Onde tem uma política pública, a gente entra ”, disse Fábio.

O impacto econômico da atuação dos jovens é significativo. O próprio grupo fez um censo comunitário e constatou que, em 10 meses, a juventude rural de Feliz Lembrança movimentou recursos na ordem de R$ 1,5 milhão na comercialização de produtos. “A comunidade sabe produzir, sabe beneficiar. Eles fazem isso muito bem. São unidades familiares independentes, mas que mantém a unidade e a identidade, e levam sempre o nome da Associação ”, disse Aline Chaves Pereira, extensionista do Incaper de Alegre que assiste a comunidade.

As ações desenvolvidas pelos jovens de Feliz Lembrança

A história de protagonismo da juventude rural de Feliz Lembrança é contada com emoção e alegria pelos próprios personagens. O grupo de jovens da comunidade tinha nas reuniões da igreja um dos poucos momentos de lazer. Até que um dia eles decidiram ir a campo para tentar resolver alguns dos problemas enfrentados pelos moradores.

“Conseguimos juntar 22 jovens rezando. Mas só rezar não resolve, tinha que colocar a mão na massa ”, brincou Fábio de Souza Silva, um dos jovens envolvidos no grupo. “Nós discutimos e vimos que a palavra ‘oração’ significava ‘hora da ação’. Nós conseguimos trazer a comunidade para dentro da igreja, mas tinha que levar a igreja até a comunidade ”, acrescentou.

Mas a saga dos jovens estava apenas começando. Logo de saída, eles enfrentaram a primeiro obstáculo: a resistência dos vizinhos e familiares. “O povo achava que era conversa de adolescente. As pessoas não acreditavam que iriamos adiante ”, lembrou Fábio Silva.

Mas eles teimaram: queriam cuidar do meio ambiente. Foi quando num sábado bem cedinho, se encontraram na pequena igreja e seguiram adentrando as propriedades rurais pra recolher o lixo que estava espalhado pela comunidade. “A gente morava num lixão e não sabia. Era lata de óleo no meio do cafezal, garrafa de refrigerante… ficamos o dia inteiro. Juntamos tudo em três pontos e ligamos para a Prefeitura de Alegre fazer o recolhimento. Tiramos 14 caminhões de lixo da comunidade ”, lembrou Fábio. Desde aquele dia, a coleta de lixo é feita regulamente na comunidade de Feliz Lembrança.

A iniciativa ajudou na conscientização dos moradores e aumentou a credibilidade do grupo de jovens junto aos vizinhos. A partir de então, as ações foram ganhando mais peso e novos focos: o esgoto deixou de correr a céu aberto depois que os jovens trabalharam na construção de fossas sépticas. Os anciãos sentiram-se mais valorizados depois que os jovens inventaram a Tarde de Lazer com os Idosos. “A gente buscava o idoso em casa e levava para passear. A pessoa mais vivida tem mais experiência, e isso encurta o nosso caminho. Nós aprendemos muito com eles ”, afirmou Fábio Silva.

O que os jovens não esperavam é que o próximo desafio que enfrentariam era relacionado a eles próprios. “O jovem não se identificava com o campo. Nós íamos para as festas em Alegre e tínhamos vergonha de dizer que morávamos na roça. As moças estavam indo embora, só estavam ficando os homens na roça. E o pai falava para estudar. O campo te manda embora. E foi aí que nós resolvemos reativar a associação de produtores rurais da comunidade ”, lembrou o jovem agricultor.

As atividades da associação de produtores estavam paralisadas desde a década de 1990. “Tinha uma dívida de mais de mil reais no CNPJ da Associação. Começamos a fazer festas com rifa para juntar recurso, quitar a dívida e reestruturar a Associação ”, pontuou Fábio. “Foi desse jeito que a gente mostrou para o jovem que o campo é importante para ele, que ele precisa se dedicar e lutar pelo seu espaço. A mudança tem que acontecer primeiro na cabeça das pessoas. Aí a gente muda o mundo todo. Mas tem que começar em cada um ”, emocionou-se.

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