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A Fazenda São Luiz da Boa Sorte foi estabelecida em 1835, em Vassouras. Hoje, ela é um dos grandes patrimônios históricos e culturais da região do Vale do Café. Seu nome deriva da unificação das antigas propriedades São Luiz e Boa Sorte, fundadas pelos irmãos Paulo e Quintiliano Gomes Ribeiro de Avellar.
Em 2004, Nestor Rocha e sua esposa, Liliana Rodriguez, souberam que a fazenda estava abandonada e à venda. Encantados com a propriedade e suas possibilidades, compraram o local de “porteira fechada”. O desafio era enorme: devido ao abandono, as condições da casa principal estavam tão precárias que permitiam a livre entrada de animais. De 2004 a 2012, o casal dedicou-se à restauração completa do imóvel e dos móveis encontrados, além de garimpar peças de época em antiquários para restabelecer a grandeza original do casarão.
Ao fim do primeiro ciclo de restaurações, convidaram o curador Claudio Lobato para criar o evento Casa Real. A iniciativa reuniu 21 arquitetos, além de decoradores e paisagistas, para reformular cada cômodo da sede, criando uma exposição no modelo da Casa Cor, porém ambientada na arquitetura colonial do século XIX. O evento Casa Real foi um sucesso e foi repetido mais duas vezes, em 2013 e 2014. Algumas empresas colaboraram neste processo com doações de tinta e restauro da igreja. Isso tudo gerou uma grande divulgação e visitação de pessoas buscando inspiração para suas propriedades, realização de eventos, festas e casamentos. Esse período foi ótimo, mas tiveram de interromper o ciclo de eventos, pois a casa nunca parava de ter mudanças, o que trazia naturais transtornos. No entanto, o casal percebeu o potencial para eventos e turismo na fazenda e começou uma nova fase.
A fazenda, desde 2017, é um hotel, oferece visitação e mantém um investimento constante na conservação, na melhoria do espaço e em novos projetos.
O retorno da produção de café
A retomada da produção de café vai de vento em popa. Em 2025, o casal comemorou o projeto de plantio de 5 mil mudas com a prefeita de Vassouras Rosi Silva. Para garantir a excelência, contrataram consultores especializados como Thiago Camilo (focado em fermentação e pós-colheita) e Emerson Freitas (Q-Grader). O resultado técnico apareceu rápido: em sua primeira avaliação pela EMATER, o café atingiu 86 pontos na escala SCA (Specialty Coffee Association).

Para fomentar essa cultura, em 2023, foi criado o projeto Replanta Vale. Já em sua terceira edição, o evento funciona como um ambiente de aprendizado, fórum de debates e promotor de conexões. A última edição contou com quatro palcos de palestras simultâneos, reunindo pesquisadores, professores, alunos, produtores, associações, baristas e avaliadores sensoriais. Em uma das palestras, João Domingos, atual presidente da Associação dos Cafeicultores do Vale do Café (ASCAV), comentou que a associação já conta com 62 produtores e a meta é chegar a 100 produtores de cafés especiais na região.

Um dos pontos fortes do Replanta Vale foi a sofisticação cultural, marcada pela apresentação do tenor Erick Herrero, diretor artístico do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, em uma das salas ambientadas da fazenda. O momento gerou uma experiência única para o público presente, repetindo o sucesso da união da música erudita com o cenário histórico da edição anterior.

Projetos ambientais, educacionais e culturais
Em 2014, a fazenda ainda não era tombada e o casal buscou esse ato de reconhecimento para que a obra e a história fossem preservadas para o futuro, torcendo para que as próximas gerações cuidem da propriedade com o mesmo amor. Hoje, a fazenda é tombada e aberta à visitação. Um dos diferenciais da visita é o conhecimento do guia Marcelo Miller, que apresenta a história do café e seus personagens ilustres, da região e do acervo com riqueza de detalhes impressionante. Essa atmosfera levou o designer Jair de Souza, em uma de suas visitas, a comentar que a Fazenda São Luiz da Boa Sorte é um “museu a céu aberto”. Confirmando essa vocação, a fazenda abriga ainda o Museu do Café, dedicado a preservar e contar a história da época com visitas guiadas e um vasto acervo de peças.”

No campo ambiental, além do “Replanta Vale”, foram criados projetos ecológicos como o Projeto Mata D’água (de reflorestamento e recuperação de nascentes), baseados no conceito de Agricultura Sintrópica proposto pelo suíço Ernst Götsch. Há também o projeto Mudas de Mata Atlântica, que combina o plantio de árvores frutíferas (para atrair pássaros) com o cultivo de raízes, como o aipim, que não são colhidos, para aumentar a porosidade do solo e contribuir para a manutenção da umidade e a recarga do lençol freático.
No âmbito educacional, a fazenda realiza um trabalho de turismo pedagógico recebendo turmas de escolas públicas. O espaço conta com um teatro onde são contadas histórias, colaborando com a Lei Federal 10.639/03, que revisou o ensino de história no país, definindo como fundamental a participação do povo Negro para a construção do Brasil. O projeto já recebeu mais de 13.500 crianças e treinou 500 professores, sendo agraciado em 2017 com o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, do IPHAN, como o melhor projeto de promoção e preservação do patrimônio cultural do Estado do Rio de Janeiro.
Nestor Rocha também atua além dos portões da fazenda: há 10 anos é presidente do Instituto PreserVale, que tem como missão contribuir para o fortalecimento e a valorização do Vale do Café nos campos do Turismo, Meio Ambiente, Preservação e Cultura.
Novos horizontes
Além do café, a produção de vinho “está em namoro”. Há dez anos, o amigo e professor de vinhos Reinaldo Paes Barreto sinalizou que a região tinha bom potencial — prova disso é que em Areal, cidade vizinha, já se produz vinho de qualidade. A fazenda pretende entrar nesse mercado aplicando as mesmas técnicas agrossustentáveis do café. Em 2025, durante o Replanta Vale III, Rodrigo Silveira, especialista em vinhos, realizou uma avaliação das melhores áreas e variedades para iniciar o plantio das uvas na fazenda.
Visão de futuro
O desejo do casal Nestor Rocha e Liliana Rodriguez é que essas iniciativas sirvam de inspiração para demais produtores do Vale do Café e de outras regiões. Assim, buscam colaborar para a preservação da cultura, da história e do saber do campo, tão importantes no passado e presente do Brasil.”

Plantio de mais uma muda de espécie da mata atlântica para simbolizar o plantio de 5 milhões de mudas pelo ITPA – Instituto Terra de Preservação Ambiental, que completou 27 anos, com seu fundador Maurício Ruiz.





