Mercado de trabalho

Negócios no ar: drones agrícolas geram oportunidade de emprego e boa remuneração

É crescente no país a busca por profissionais habilitados para operar drones, e o agronegócio é um dos setores que mais impulsiona essa demanda

Foto: Imagem criada por IA / ChatGPT

O mercado de drones agrícolas, usados principalmente para pulverização aérea, deu um salto a partir de 2021, ano em que o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) publicou a Portaria nº 298, regulamentando o uso. De acordo com o órgão, naquele ano estimava-se a venda de 3 mil drones, e hoje calcula-se que existam 35 mil unidades em operação.

Após deixar de ser uma novidade no Brasil, o equipamento, usado no setor agrícola para atividades como mapeamento aéreo de lavouras, aplicação de defensivos e fertilizantes e monitoramento de pragas e falhas no plantio, transformou-se também em oportunidade para o mercado de trabalho.

É crescente no país a busca por profissionais habilitados para operar drones, e o agronegócio é um dos setores que mais impulsiona essa demanda. De acordo com representante da Itarc, escola de formação de pilotos de aeronaves remotamente pilotadas, a procura por pilotos agrícolas cresce cerca de 30% ao ano, segundo os principais players do mercado.

“Para se ter uma ideia, a cada dez profissionais que buscam formação conosco, pelo menos sete já saem empregados ou prestando serviços em até três meses após a conclusão do curso. O setor está carente de mão de obra qualificada, e a tendência é de crescimento acelerado nos próximos anos”, explica Felipe Calixto, coordenador da Itarc.

Um dos principais atrativos do setor, além da oferta de vagas, é o salário. “Um piloto formado pode receber entre R$ 6 mil e R$ 12 mil mensais, dependendo da região e da quantidade de operações realizadas”, conta Calixto.

Ex-aluno da Itarc, o piloto agrícola remoto Anderson Silva fez o curso de formação em 2023 e, já no primeiro mês após a conclusão, fechou os primeiros contratos. Anderson não ganha menos do que R$ 8 mil mensais.

“Eu era técnico agrícola e sempre dependi de empresas terceirizadas para fazer o mapeamento e a pulverização na fazenda. Depois que fiz a formação, comecei a operar os drones agrícolas por conta própria. No primeiro mês já fechei serviços para outras propriedades da região e, hoje, além de aplicar defensivos de forma muito mais precisa, consigo uma renda que varia entre R$ 8 mil e R$ 12 mil por mês só com as operações de drones agrícolas”, relata o piloto.

Robert dos Santos, de Goianápolis, em Goiás, fez a formação na área de drones entre 2021 e 2022. Após concluir o curso de manutenção agrícola e piloto de aeronave remotamente pilotada, a inserção no mercado foi praticamente imediata. Hoje ele atua em seu estado e em Minas Gerais.

Robert dos Santos fez a formação de piloto de drone entre 2021 e 2022. Foto: arquivo pessoal

“Ainda no último trimestre de 2022, eu já atuava na manutenção de drones agrícolas e como piloto freelancer em serviços de aplicação e dispersão de sólidos. Faltam pilotos profissionais no mercado, e o segmento é promissor, com grande potencial de crescimento, especialmente aqui em Goiás”, conta Robert.

Quanto à remuneração, ele diz que varia conforme a região e o modelo de contratação. Os ganhos, segundo Robert, “podem incluir salário fixo, benefícios e comissão, ou apenas comissão por produtividade, com valores que giram entre R$ 6 mil e R$ 8 mil, podendo chegar a cerca de R$ 12 mil mensais”.

A escassez de profissionais foi percebida por Eduardo Goerl, gerente de suporte de uma distribuidora, instalada no Rio Grande do Sul, que representa uma empresa dos Estados Unidos na América Latina. A situação ficou evidente com a chegada ao Brasil de uma aeronave autônoma de asa fixa fabricada pela empresa norte-americana. “Os clientes que compraram a aeronave tiveram dificuldade para encontrar profissionais com o perfil adequado para operar esse tipo de drone”, explica.

Lucas Honorato Pani é piloto de drone há cerca de um ano. Foto: divulgação

Diante dessa realidade, a empresa decidiu estruturar um programa de capacitação para formar pilotos específicos para essa tecnologia. “Resolvemos oferecer treinamento teórico e prático e criar um banco de currículos para indicar profissionais já qualificados aos clientes no momento da compra das aeronaves”, afirma.

A primeira turma, com 20 alunos, formou-se em novembro. Lucas Honorato Pani, de Jaguaré, no norte do Espírito Santo, fez parte do grupo. Lucas já era operador de drone havia quase um ano e resolveu investir em mais essa formação de olho na rentabilidade. Ele conta que investiu cerca de R$ 4 mil no primeiro curso, e o retorno foi imediato.

“É rentável, basta ter vontade de trabalhar. No meu caso, o retorno do primeiro curso veio já no segundo mês após a conclusão. Por isso, resolvi aproveitar essa oportunidade e investi R$ 8 mil em mais esse curso”, afirma.

Destaque
Segundo dados do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag), o mercado de drones agrícolas no Brasil cresce, em média, 30% ao ano, impulsionado pela busca global por soluções de agricultura de precisão. A projeção é que, até 2030, o setor movimente cerca de US$ 6 bilhões e que o uso desses equipamentos se torne tão comum quanto o de tratores, transformando a rotina do campo.
O Brasil é destaque mundial nesse mercado. Segundo o Mapa, mais de 35 mil drones agrícolas estão em operação no país, número que cresceu fortemente após a regulamentação publicada em 2023.
E o Espírito Santo não fica para trás. O estado já é o sétimo do Brasil com maior número de drones registrados, segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). No total, são 75 empresas especializadas, dois agricultores, duas cooperativas e 163 drones agrícolas registrados.

Formação
Com todo esse potencial de crescimento, especialistas alertam que a profissionalização do setor é fundamental. Cursos de capacitação são obrigatórios. O profissional deve concluir o curso de Aplicador Aéreo Agrícola Remoto (Caar), regulamentado pela Portaria nº 298 do Ministério da Agricultura.
Além disso, a legislação brasileira exige que a operação de drones pulverizadores passe por diferentes órgãos: a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), responsável pelo registro da aeronave; o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), que libera o espaço aéreo; o Mapa, que qualifica o operador; e o Ibama, que regula o uso de defensivos químicos. Também pode haver orientações específicas regidas pela legislação de cada estado.

Sobre o autor Rosimeri Ronquetti Rosi Ronquetti é jornalista, formada em 2009 e pós-graduada em gestão em assessoria de comunicação. Repórter do agro, sua atuação se concentra na produção de reportagens do setor (incluindo perfis e histórias). Algumas de suas reportagens conquistaram premiações regionais e nacionais de jornalismo. Ver mais conteúdos