Na zona rural de Nova Venécia, na Região Noroeste do Espírito Santo, a cerca de 10 minutos do Centro da cidade, o agricultor familiar Geraldo Bueno sai de casa todos os dias, antes do sol nascer, e anda por cerca de 10 minutos, até chegar ao lugar que, para ele, é o paraíso. “Temos esse pedaço de terra desde 1988. Para mim é um privilégio. Aqui eu planto milho, planto café, planto abacaxi e várias outras coisas que garantem o sustento da minha família. Tenho orgulho de tudo o que fizemos aqui”, conta o homem, de 49 anos.

Geraldo compartilha seu pequeno paraíso com a esposa Berenice e o filho Davi, de 11 anos, que já ajuda os pais quando chega da escola. Enquanto um limpa a horta, o outro colhe abacaxi. Enquanto um confere o crescimento do milho, o outro confere as sacas do café colhido dias atrás. “Nosso sustento vem de tudo o que produzimos aqui. Uma vez por semana trabalhamos vendendo alguns desses produtos na feira e também fornecemos alguns alimentos para merenda escolar do município”, completa Geraldo.

Esse exemplo de trabalho em família é visto em todo o território capixaba. O Espírito Santo tem cerca de 108 mil propriedades rurais, das quais 75% são de agricultura familiar, segundo um levantamento da Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (SEAG).

Uma grande novidade é que nos últimos meses, a Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales) também está contribuindo diretamente para o crescimento e fortalecimento da economia familiar rural. Em 2023, a Casa dos Municípios da Ales, em parceria com o Governo do Estado e apoio das prefeituras, iniciou o Projeto Arranjos Produtivos. Desde então, mais de um milhão de mudas foram entregues e cerca de vinte e cinco mil agricultores foram beneficiados.

Além de visar ao aumento da produção e da renda, o projeto pretende reduzir o êxodo rural. A expectativa, com os investimentos oferecidos, é que especialmente os jovens, optem por permanecer em suas comunidades de origem, contribuindo com o trabalho familiar. Em muitos casos, são esses filhos, como Davi, que buscam a especialização oferecida pelo projeto, implementando soluções inovadoras e as melhorias necessárias nas propriedades de suas famílias.

“É importante mostrar a essa juventude que o campo oferece oportunidades de crescimento e melhoria de vida tão significativas quanto as encontradas nos centros urbanos. Quando proporcionamos condições adequadas e o estímulo necessário, é possível não apenas garantir a continuidade do trabalho no campo, mas também o desenvolvimento a longo prazo”, contou a diretora da Casa dos Municípios, Joelma Costalonga.

Para alcançar seus objetivos de crescimento e fortalecimento, o projeto trabalha conscientização nas propriedades e opera em diversas áreas estratégicas, incluindo o associativismo, a coordenação de projetos, a coordenação técnica e o desenvolvimento da agroindústria. Segundo o presidente da Ales, Marcelo Santos (União), a próxima meta, apesar de ambiciosa, é expandir a atuação para abranger os 78 municípios capixabas.

“Essa é a grande riqueza do Arranjos Produtivos, que não é só entregar uma muda, não é só entregar o calcário, nem entregar o equipamento. O principal ativo que levamos para o homem e a mulher do campo é conhecimento”, avalia o deputado estadual Marcelo Santos.

O deputado também destaca o importante papel da diversificação. “Sabemos que o preço da saca do café está muito bom, mas é importante que o produtor pense além da monocultura. Cultivando uma coisa só, ele corre riscos no caso de uma crise. Diversificando a produção, o homem e a mulher do campo terão mais alternativas de renda”, completou o chefe do Legislativo capixaba.

A última grande entrega do projeto aconteceu em Nova Venécia, no dia 9 de maio, onde mais de 20 mil mudas foram entregues para cerca de 60 agricultores. No município, será utilizada uma técnica de cultivo batizada de “pomar vivo”, na qual os agricultores recebem cinco tipos diferentes de fruta para diversificar a produção e ter possibilidade de colheita durante todo o ano. Serão mudas de goiaba, cajá, coco, abacate e frutas cítricas (como laranja, limão, pomelo ou tangerina ponkan).

A família Bueno – do Geraldo, Berenice e Davi – foi uma das beneficiadas. “A técnica já está visitando nossa propriedade e passando orientações. Já estamos com tudo pronto para fazer o plantio e temos certeza que essas mudas vão fazer muita diferença na nossa vida”, disse a produtora Berenice Bueno.

Todos os serviços do projeto são gratuitos e o tipo de cultura adotada em cada município é escolhido após avaliação técnica, dependendo do solo e do clima da região. Nenhuma escolha é por acaso e sem ouvir a comunidade. “Em Águia Branca e São Domingos do Norte, por exemplo, o destaque é para o trabalho com as mudas de cacau. Em Itapemirim, por causa do clima e estilo de solo, o cultivo de acerola foi um dos escolhidos”, explica Joelma Costalonga.

Entregas vão além das mudas

O Projeto Arranjos Produtivos vai além do fomento econômico e social, impulsionando também a adoção de práticas sustentáveis que beneficiam o meio ambiente. Ao mesmo tempo em que os agricultores familiares cultivam a terra para garantir o sustento e impulsionar a economia local, são incentivados a implementar técnicas de manejo que conservem os recursos naturais. A diversificação de culturas, o uso de sistemas agroecológicos e a recuperação de áreas degradadas são exemplos de como a produção agrícola pode coexistir harmoniosamente com a preservação ambiental, garantindo um futuro mais verde e próspero para as comunidades rurais.

Outra frente de atuação do projeto é a entrega de equipamentos agrícolas. Em Mantenópolis, na Região Noroeste, agricultores familiares receberam kits para a criação de abelhas exóticas e produção de mel. Composto por itens como macacão, fumigador, luvas, botas e 10 caixas para a produção de mel, o conjunto entregue gratuitamente aos produtores tem custo estimado de R$ 6 mil no mercado tradicional.

Em Vila Valério cinco produtores receberam kits para a montagem de hidroponia. Nessa técnica, as plantas são cultivadas sem solo e suas raízes recebem uma solução nutritiva balanceada que contém água e todos os nutrientes essenciais. O kit entregue tem equipamentos como tubos PVC, bomba centrífuga, caixas d’água brita, telhas e estacas.

Além dos kits para cultivo, o projeto também disponibiliza equipamentos como Secadores de Café, Tratores e Micro Tratores, Caminhões Baú, Basculantes, Carrocerias, Arados, Torradores, Roçadeiras e Tanques. É importante ressaltar que as associações e os agricultores que recebem esses equipamentos também são devidamente orientados sobre o uso correto e a conservação dos bens, garantindo a durabilidade e a eficiência dos implementos.

Agroindústrias e agroturismo

O projeto ainda incentiva e dá condições para a regularização de agroindústrias. A consultora responsável pelo atendimento das agroindústrias, Alessandra Vasconcelos explicou que a consultoria é gratuita e os interessados recebem orientações sobre quais caminhos devem seguir para, por exemplo, receber as licenças necessárias para construção e funcionamento. “Cada empreendimento que a gente chega tem uma demanda diferente. A gente consegue atender toda a cadeia produtiva, independente da natureza do produto”, disse Alessandra.

Em alguns casos, o tipo de cultivo escolhido tem como objetivo incentivar o agroturismo. No Noroeste do Estado, na região mais alta de Colatina, foram entregues estufas para cultivo de morango. Em Brejetuba, na Região Serrana, foram entregues mudas de uva. Dois tipos de cultivo que atraem muitos visitantes na época da colheita.

Prêmio nacional

Em dezembro de 2024, o projeto Arranjos Produtivos foi campeão do prêmio “Assembleia Cidadã”, concedido e realizado pela 27ª Conferência da União dos Legisladores e Legislativos Estaduais (Unale), no Rio de Janeiro.

Governo Estadual valoriza iniciativa

O governador Renato Casagrande (PSB), durante a entrega do projeto Arranjos Produtivos em Nova Venécia, falou sobre a importância da iniciativa. “É um trabalho importante, porque é uma ação concreta. As mudas já estão aí, os insumos já estão aí e os técnicos já estão trabalhando. Tudo isso muda a vida de quem mora no campo, muda a vida de quem quer diversificar (a produção) e buscar outra renda. É uma oportunidade que a gente está ofertando à população capixaba e aos produtores rurais”, disse o Governador.

O vice-governador Ricardo Ferraço (MDB) destacou que a ação gera desenvolvimento para as famílias atendidas. “O que nos interessa é a geração de renda, de oportunidade e de trabalho para as pessoas. Nós estamos conseguindo colocar de pé, sob a liderança do governador Renato Casagrande, um projeto de desenvolvimento que inclui pessoas, que gera oportunidade para que as pessoas possam levar dignidade para suas famílias. A certeza é que nós estamos no caminho certo”, avalia Ferraço.

*Fotos: divulgação ALES

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