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Meio Ambiente

Ciclo hidrológico e Crise hídrica

Vivemos em uma sociedade que tem enfrentado sérios problemas...

por Redação Conexão Safra

em 02/04/2015 às 0h00

10 min de leitura

Ciclo hidrológico e Crise hídrica

Vivemos em uma sociedade que tem enfrentado sérios problemas relacionados a água, ou a sua possível escassez.

Estranho usar esse termo: escassez. Desde que a vida apareceu sobre a Terra a quantidade de água existente no planeta é praticamente mesma, ou podemos constatar que mais de 65% do mundo é coberto por água. Então, por que imaginar que a água está acabando?
Vamos aos fatos.
Cientistas hidrológicos atestam que a quantidade de água no planeta tem permanecido praticamente inalterada nos últimos milhões de anos. O que mudou, foi apenas a forma como essa água se encontra disponível e a sua utilização.

A água é encontrada distribuída no planeta em três estados físicos: sólido, líquido e gasoso. Durante o processo que chamamos de “ciclo da água ” ou “ciclo hidrológico ” ela passa pelos estados líquido e gasoso de forma que vai sempre se renovando à cada ciclo completo. Em alguns lugares muito frios do planeta ela pode ser encontrada em estado sólido, como nas geleiras, ou ainda, se solidificar depois de cair na forma de chuva ou neve como, por exemplo, no Pico da Bandeira, na região do Caparaó, em alguns dias extremamente frios no inverno.

No início da formação da Terra, a superfície do planeta era muito quente e toda a água que havia estava na forma de vapor. Por isso, certamente afirmamos que o ciclo da água começou com um processo chamado de condensação, que é a passagem do estado gasoso para o estado líquido. Nesse caso, a água se condensou devido à diminuição de temperatura ocorrida na superfície do planeta, que possibilitou que o vapor de água passasse para o estado líquido. Para que possa entender melhor, é o mesmo esquema que ocorre quando enchemos um copo com água gelada: em poucos instantes ele começa a “suar ” por fora, molhando inclusive a superfície na qual ele está apoiado. Isso ocorre porque a água gelada faz a temperatura em volta do copo diminuir, com isso o vapor de água que está neste entorno sofre a condensação, volta ao estado líquido.

Com a chuva é o mesmo processo, quando o vapor de água chega a certa altura. A temperatura cai e a água condensa, passando para o estado líquido em pequenas gotículas que vão se juntando e movimentando por causa da ação dos ventos e das correntes do ar e formando as nuvens. Por fim, elas caem na forma de chuva (precipitação).

Ao cair, a água escorre para os rios, ou para lençóis subterrâneos e depois para os rios e mares, oceanos e lagos. Então ela fica novamente exposta à ação do sol que a esquenta transformando-a novamente através do processo de evaporação: passagem do estado líquido para o gasoso.

Esquema do ciclo da água


Acontece também a água da chuva ser absorvida pelas plantas. Nesse caso ela irá evaporar por um processo conhecido como evapotranspiração: transpiração + evaporação.

Todos esses processos ocorrem de forma natural há muitos milhares de anos garantindo a distribuição da água por todo o planeta. Mas esse processo vem sendo alterado de forma muito rápida pela ação do homem.

A construção de barragens, usinas hidrelétricas, abertura ilegais de poços, a capina química e a poluição da água em geral afetam consideravelmente o ciclo hidrológico do planeta causando transformações que podem ser prejudiciais. No caso de usinas hidrelétricas muito grandes (como a de Itaipu, entre o Brasil e Paraguai) a alteração se dá na quantidade de água que passa a evaporar naquela região onde se encontra o reservatório. O processo de evaporação mais intenso no local pode alterar sua temperatura e umidade, alterando consequentemente as correntes de ar que passam por ele e o microclima da região. Nesse caso, a melhor saída tem sido a construção de PCH’s &ndash, Pequenas Centrais Hidrelétricas &ndash, que tem um tamanho e um impacto reduzidos. Essa experiência já é utilizada no sul capixaba, como a PCH Alegre (em Alegre), a PCH Fruteiras (em Cachoeiro de Itapemirim) e a PCH São João (entre Castelo e Conceição do Castelo).


PCH São João. Fonte: EDP Escelsa


Entretanto, a maior inimiga das águas atualmente á a poluição. Menos de 3% de toda a água presente no planeta é doce e se encontra disponível para consumo humano e é essa parte que estamos poluindo. Isso quer dizer que de cada 100 litros de água que existe no mundo, apenas 3 litros estão disponíveis para tratamento, o restante são águas salgadas (cujo custo de dessalinização é altíssimo), águas em geleiras (em locais muito distantes dos principais centros consumidores) ou águas subterrâneas (apesar de eficiente, há dificuldade na sua retirada e os riscos de perder a densidade do solo).

Normalmente o ciclo hidrológico conseguiria recuperar a qualidade da água por si só. Mas a quantidade de poluentes que jogamos na água é tão grande que isso não é mais possível, ocasionando o transporte de poluentes pelas chuvas fazendo com que eventos como a chuva ácida (aumento da acidez da água da chuva pela quantidade de poluentes e partículas sólidas no ar) se tornem cada vez mais comuns.

Mas se a quantidade de água é a mesma há séculos, e o ciclo hidrológico acontece, por que ficou tanto tempo sem chover? Pra onde foi a água?

Segundo meteorologistas, a origem do problema está bem longe do nosso país. A resposta para o sumiço das chuvas, principalmente entre julho de 2014 a meados de fevereiro de 2015, está no resfriamento da porção norte do Oceano Pacífico. A cada 50 ou 60 anos, a queda da temperatura do Pacífico afeta o padrão climático em praticamente todo o mundo, com consequências diferentes em cada região, como a irregularidade das chuvas no Brasil.

O fenômeno se caracteriza pela alternância entre fases quentes e frias na área tropical e subtropical do Oceano Pacífico, principalmente no Hemisfério Norte. Cada ciclo dura de 25 a 30 anos e afeta cada parte do planeta de forma diferente.

Atualmente, o oceano está no auge da fase fria. Na última fase fria, entre o fim dos anos 1950 e início dos anos 60, o Brasil enfrentou quatro anos seguidos de verões secos. Caso o padrão se repita, as chuvas só voltarão ao normal em 2016.

Desde 2012, quando começou o auge da fase fria do Pacífico, o Brasil enfrenta verões com chuvas abaixo da média. O fenômeno no Oceano Pacífico, ainda de acordo com os meteorologistas, está associado a manifestações fracas do El Ni&ntilde,o, como é conhecido o aquecimento do Oceano Pacífico próximo à Linha do Equador. Para este ano, estava previsto um El Ni&ntilde,o que provocaria chuvas um pouco acima do normal nas regiões Sul e Sudeste do Brasil neste começo de 2015. No entanto, a temperatura do oceano na região equatorial ainda está em condições neutras. Com isso, as chuvas seguem abaixo do previsto em diversas regiões do Brasil. Em resumo: a água que evapora aqui, não obrigatoriamente “chove ” aqui, ela pode se deslocar para outras partes do mundo pela ação de fatores atmosféricos.

Na região sul capixaba, há um ponto positivo com relação a oferta de água: a presença das bacias dos rios Itapemirim e Itabapoana que criam uma teia de rios que podem abastecer com qualidade nosso território. As bacias devem ser tratadas como algo de mais importante que existe em uma propriedade, pois são elas as responsáveis pela existência das nascentes que, por sua vez, são a fonte da vida hídrica da Terra.

Uma nascente, também conhecida como mina, cabeceira ou fonte, é o ponto da superfície do terreno de onde brota a água armazenada debaixo da terra, dando origem a cursos d’água (rio, ribeirão, córrego). As nascentes são facilmente encontradas no meio rural.


Nascente preservada

Vários são os meios para proteger as nascentes: controle da erosão do solo, preservação da mata ciliar (que fica às margens dos rios), não desmatar em áreas próximas as nascentes ou replantar nesses locais, diminuição da contaminação química.

O grande problema é que em todas as atividades realizadas pelo homem, a falta da água terá consequências graves. Especificamente na agropecuária, em que a água é usada em praticamente tudo, o resultado será ainda mais severo, pois é daí que vem o alimento diretamente para as residências da população.


Abertura ilegal de poços




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Barragem irregular




Então, o que devemos urgentemente deixar de fazer para proteger nossos mananciais?

* Diminuir o desmatamento, principalmente da mata ciliar,
* Eliminar queimadas desenfreadas, elas destroem a camada orgânica do solo,
* Diminuir a criação extensiva de animais, o gado circulando livremente compacta o solo diminuindo a infiltração da água,
* Construção em locais inadequados, principalmente perto de nascentes e margens de rios,
* Caso venha a construir poços artesianos, o que é uma ótima opção para contornar problemas de abastecimento, é fundamental contar com assessoria especializada para que a abertura do poço não cause problemas futuros na propriedade.


Esquema de mata ciliar


Uma situação curiosa tem ocorrido nos últimos dias. As chuvas voltaram com boa intensidade, mas em alguns municípios o abastecimento de água ainda não está normal. Falta água tratada na cidade e água para a produção agropecuária. Mas por quê?

&Eacute, importante ressaltar que as chuvas de fevereiro e março são as chamadas “chuvas de verão ” e essas são desiguais, provocadas por nuvens com poucos quilômetros quadrados de área. Dependendo do tamanho da nuvem, chove mais ou menos. Podemos perceber que são chuvas fortes, causando até alguns problemas como alagamentos e quedas de árvores. Porém, são chuvas de pouca duração, rápidas. Como, durante os últimos meses, a seca foi intensa, e os níveis de desmatamento são
consideráveis, o solo está exposto em boa parte da região. Durante a seca, o solo exposto perde a umidade nas camadas superficiais. Se houvesse mais vegetação, ela ajudaria a reter a umidade do solo.

Do jeito que está, as primeiras chuvas que caem são absorvidas pelo solo rachado, como se ele fosse uma esponja. Será preciso chover muito para encharcar o solo e aí sim a água começar a correr pela superfície e alimentar os rios. São os prejuízos causados pela ação humana.
Outro prejuízo sério é a falta de eletricidade. Imagina ficar sem água e sem luz? Seria um caos. O pior, é que essa possibilidade é real.

Sem eletricidade, não temos água. Sem água, não temos energia. Isso ocorre porque a forma como o Brasil escolheu para gerar eletricidade está ligada a oferta de água nos rios, o país optou pela construção de usinas hidrelétricas. Cerca de 65% de toda eletricidade gerada no país vem de hidrelétricas. &Eacute, uma energia mais barata e polui pouco em termos de gases poluentes. Por outro lado, as usinas causam impacto onde são construídas pois suas barragens alagam áreas ocupadas pelas plantas e animais. Outra crítica: em período de seca, a sua capacidade diminui.

Apesar do Brasil, desde o apagão e o racionamento de energia de 2001, ter investimento na construção de novas usinas e de usinas termelétricas, o risco de um novo apagão, mesmo que pequeno, é real.


Usina Três Marias/MG




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