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Terreiro suspenso móvel é novidade no pós-colheita de café no ES

Produtores das Montanhas Capixabas testam eficiência da seca dos grãos na busca por agregação de valor a nanolotes de especiais

Luciano Dazilio Delpupo construiu três terreiros suspensos móveis em tamanhos diferentes. (*Fotos: Divulgação)

Matéria publicada originalmente em 05/06/2020

Quem produz cafés de qualidade sabe da dificuldade de controlar a temperatura no pós-colheita conforme as variações do tempo. Foi pensando nisso que cafeicultores das Montanhas do Espírito Santo desenvolveram terreiros suspensos móveis para a secagem dos grãos na safra de 2020. A ideia é testar a eficiência do sistema para obtenção de qualidade em nanolotes de café arábica.

Em Vila Pontões, distrito de Afonso Cláudio, Luciano Delpupo e Theodoro Stein investiram na novidade já implantada em Vieiras (MG). O modelo, que lembra um “beliche ”, com terreiros de até cinco andares, é semelhante ao sistema de gavetas usado por cafeicultores da América Central e também aos secadores de cacau nas regiões produtoras da Bahia. A facilidade está no deslocamento do terreiro para áreas sombreadas quando a temperatura a céu aberto estiver acima da desejada para a seca dos grãos.

Delpupo conheceu o sistema por meio de grupos de troca de mensagens. O produtor construiu três terreiros móveis, sendo o maior com 3m de comprimento, 1,30m de largura e 80cm de altura, utilizando madeira, tela e cobertura de sombrite.

Segundo o cafeicultor, a estrutura maior custou em torno de R$ 150,00, mas o preço cai para quem tem madeira em casa.

“Quando fiz o terreiro móvel, o povo falou que eu era doido (risos). Com o sistema de rodinhas, a manipulação é mais fácil e precisa de apenas uma pessoa para deslocá-lo entre o terreiro e o galpão, geralmente minha esposa, Josane Braga ”, diz Delpupo.

 

Marketing

A novidade vai refletir na agregação de valor ao café produzido no sítio, aposta o cafeicultor.

“Um comprador internacional ofereceu mais pelo café, que é todo produzido em processo natural. O terreiro móvel foi um marketing para os negócios ”.

Conhecido na região como “Professor Pardal ”, o cafeicultor Theodoro Stein construiu um terreiro suspenso móvel de cinco andares com pneu de carriola. Um verdadeiro arranha-céu dentre as estruturas para pós-colheita na propriedade com altitudes entre 800m e 930m.

O sistema de Stein foi feito em 2019 sobre roda de carriola e conta com cinco gavetas, sendo só a mais alta fixa, que serve para travar o terreiro.

O cafeicultor conta que ingressou na produção de café de qualidade há cinco anos. De acordo com ele, o terreiro móvel vem garantindo um café mais limpo e equilibrado.

A mulher do produtor, Mara Fábia Delpupo, é quem faz o controle da temperatura para obtenção de cafés de excelência.

“O terreiro suspenso não dá fungo ou sujeira, e o café fica mais equilibrado. Respeito muito a higiene dos grãos e há três anos não jogo químicos na lavoura. Tento fazer um café na roça que chegue mais limpo na xícara de quem vai tomá-lo ”, diz Theodoro Stein.

 

 

Desafio é secagem em escala maior, diz especialista

O Q-Grader Rafael Marques vê com bons olhos a iniciativa dos cafeicultores de Vila Pontões (Afonso Cláudio) e afirma que a ideia é testar a secagem dos grãos em cada andar do terreiro suspenso, avaliando qual tem melhor desempenho.

“O sistema é novo em pós-colheita de café no Espírito Santo. O terreiro móvel contribui para colocar o café numa área com temperatura mais baixa e controlar o tempo. Em terreiros cobertos, os produtores não têm condições de baixar a temperatura em tempo hábil e podem perder o ‘time’ da secagem ”, avalia Marques.

Para o Q-Grader, o desafio é replicar o sistema móvel em escala de secagem maior, uma vez que a capacidade de seca dos terreiros citados não é para grandes volumes, apenas para nanolotes de café.

“Dar este primeiro passo para sair do convencional é o caminho para entender como serão os resultados daqui em diante. Nestes cinco andares [sistema de Theodoro Stein], sem variação de matéria-prima, é preciso acompanhar o desempenho da seca em cada altura do terreiro sob exposição solar ”.

(*Foto: Leandro Fidelis/Arquivo Safra ES)

 

Sobre o autor Leandro Fidelis Formado em Comunicação Social desde 2004, Leandro Fidelis é um jornalista com forte especialização no agronegócio, no cooperativismo e na cobertura aprofundada do interior capixaba. Sua trajetória é marcada pela excelência e reconhecimento, acumulando mais de 25 prêmios de jornalismo, incluindo a conquista inédita do IFAJ Star Prize 2025 para um jornalista agro brasileiro. Com experiência versátil, ele construiu sua carreira atuando em diferentes plataformas, como redações tradicionais, rádio, além de desempenhar funções estratégicas em assessoria de imprensa e projetos de comunicação pública e institucional. Ver mais conteúdos