#tbtconexaosafra

Como é feito um berrante?

Artesão de Venda Nova do Imigrante (ES) transformou em negócio o ofício, fez fama entre sertanejos e vende instrumentos até para outros países

Foto: Leandro Fidelis

*Matéria publicada originalmente em 06/05/2019*

 

 

O berrante é uma corneta feita com chifre de boi ou outros animais que ajuda os vaqueiros a chamarem o gado em extensas fazendas criadoras principalmente no Centro-Oeste do Brasil. Bastante ligado à cultura sertaneja, acredita-se que a tradição chegou ao Brasil por influência dos escravos africanos.

É um instrumento bastante eficaz para os pecuaristas orientarem, alarmarem e comandarem rebanhos. O berrante é feito unindo-se partes do chifre que melhor se encaixem. As emendas podem ser de couro ou anéis de chifre. Através de um orifício menor na ponta, o tocador sopra até atingir o som certo que pode ser ouvido a distância pelos animais.

A prática foi popularizada pelo Tropeirismo no Brasil Colônia. E na terra onde a Rota Imperial foi o caminho utilizado pelas tropas já na época do Império, é onde se produzem alguns dos berrantes mais famosos do país.

Estamos em Venda Nova do Imigrante, na região serrana do Estado, onde o artesão Geraldo Agrizzi transformou o quintal de casa em uma fábrica de berrantes. Ele é considerado o único capixaba no ofício iniciado há 20 anos.

Fotos: Leandro Fidelis

Os berrantes são de tamanhos, espessura e sons diferentes, mas o objetivo é único. “É um instrumento de conhecimento do sopro e transmissão de mensagem. Com ele, o peão boiadeiro vai tocar até fazer os bois se enfilarem para entrar no curral ”, explica Geraldo Agrizzi.

Apesar da dificuldade para obter matéria-prima, o artesão mantém uma rede de contatos com frigoríficos em Rondônia e Mato Grosso para os quais encomenda chifres com seis meses de antecedência. “Viajo de uma a duas vezes por ano para fazer entregas em lojas, cooperativas agropecuárias e acabo retornando com matéria-prima também ”.

No sótão da loja, Agrizzi lixa e poli os chifres, unindo parte a parte as peças que melhor se encaixam na busca pelo melhor resultado e acabamento. Os chifres mais usados são de bois Caracu e Guzerá, que apresentam “tortura e emendas boas ”, atesta o artesão.

Geraldo Agrizzi produz de 120 a 140 unidades por ano, com preços que podem chegar a R$ 5 mil, dependendo do modelo. Ele diz já ter perdido a conta de quantas unidades fez desde 1998.

 

Queridinho dos famosos

O trabalho do artesão ficou conhecido no meio artístico. Fotos de cantores sertanejos com o instrumento estão espalhadas nas paredes da loja mantida aos fundos da casa. Ele conta que o cantor Sérgio Reis “que conheceu nos palanques da vida ” é um dos maiores divulgadores dos berrantes Agrizzi e inclusive já foi presenteado em diferentes ocasiões com o instrumento produzido em Venda Nova, sendo um deles o primeiro do Brasil folheado a ouro.

A divulgação e a venda dos berrantes são garantidas na internet. Com isso, Agrizzi já comercializou o instrumento com pelo menos dez países, dentre eles Canadá, Bélgica, França, Estados Unidos, Itália e Portugal. “Os clientes compram para diversos fins, desde enfeitar o escritório e usar mesmo nas boiadas ”.

Pra que serve o som do berrante?

O som do berrante é único. É só ouvir o berranteiro tocar, que a gente já reconhece o barulho. Feito com o chifre do boi, o instrumento foi criado pelos tropeiros, há mais de 300 anos, e é usado para chamar a boiada. Nas comitivas de boiadeiros, o berrante sempre está presente e já virou um símbolo da cultura sertaneja no Brasil. E é claro que na música sertaneja ele também é sucesso!

Qual a diferença entre o shofar e um berrante?

Comparar Shofar com o berrante, para quem é um tocador, é a mesma coisa que se comparar a adoração com murmuração. São opostos e um diverge do outro.

O berrante é uma corneta feita de chifres de boi. É uma espécie de buzina usada desde a antiguidade por vaqueiros para chamar o gado no campo ou no transporte por intermédio das comitivas. É um instrumento muito eficaz na orientação, alarme e comando, e consiste num chifre longo em que a ponta é cortada para se soprar e com um orifício no meio,

Shofar é considerado um dos instrumentos de sopro mais antigos. Somente a flauta do pastor tem registro da mesma época, mas não tem função em serviços religiosos nos dias de hoje. O shofar não produz sons delicados como o clarim moderno, a trombeta ou outro instrumento de sopro, mas para os judeus, o shofar não é apenas um instrumento “musical”. É um instrumento tradicionalmente sagrado. Na tradição judaica, lembra o carneiro sacrificado por Avraham (Abrão) no lugar de Yitschac (Isaac) através da história da Akedá (amarração de Yitschac), lida no segundo dia de Rosh Hashaná. A Torá refere-se a este dia como o Dia da Aclamação (Yom Teruá, o dia do toque do shofar. Levítico 23:24).

Qual o som do berrante?

Com o toque do berrante, os animais acompanham os comandos do boiadeiro. E tem vários sons diferentes, que, na lida, significam cada um uma coisa. A boiada, então, obedece conforme o que escuta.

– O toque de solta ou saída é o que desperta o rebanho de manhã. Enquanto o capataz conta a boiada, o berranteiro faz o toque, que é contínuo e calmo.

– O estradão é tocado quando os bois estão na estrada e é para dar uma animada na bicharada, depois de um longo caminho. É um toque repicado.

– O rebatedouro é para alertar que tem perigo por perto ou para chamar um peão que está no meio da boiada para vir junto com o ponteiro, pedindo reforço para evitar que a boiada se separe.

– A queima do alho é um dos toques mais conhecidos e esperados também! Avisa os boiadeiros que é hora do rango.

– Por último, tem o floreio, que é para distrair a comitiva, pode ser uma moda, tanto faz, daí o berranteiro tem que usar é o talento mesmo!

Qual o valor de um berrante?

Os Preços variam de R$300,00 à R$700,00, de acordo com o tamanho e a qualidade do produto.

Fonte: document.onl/, pt.wikipedia.org, http://blog.cowboystore.com.br/

 

Sobre o autor Leandro Fidelis Formado em Comunicação Social desde 2004, Leandro Fidelis é um jornalista com forte especialização no agronegócio, no cooperativismo e na cobertura aprofundada do interior capixaba. Sua trajetória é marcada pela excelência e reconhecimento, acumulando mais de 25 prêmios de jornalismo, incluindo a conquista inédita do IFAJ Star Prize 2025 para um jornalista agro brasileiro. Com experiência versátil, ele construiu sua carreira atuando em diferentes plataformas, como redações tradicionais, rádio, além de desempenhar funções estratégicas em assessoria de imprensa e projetos de comunicação pública e institucional. Ver mais conteúdos