Cafeicultura de Linhares: liderança estadual conquistada com ciência
O município está no topo do ranking capixaba como maior produtor de conilon do Espírito Santo e o terceiro maior do Brasil
por Rosimeri Ronquetti
em 28/03/2024 às 0h03
8 min de leitura
Matéria publicada originalmente 06/08/2020
Nos últimos anos, a produção de café em Linhares deu um salto de cerca de 60%. Saiu de 26.463 mil toneladas, em 2008, para 42.806 em 2018, último dado consolidado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE. Já os dados preliminares de 2019 apontam uma produção de 43,2 toneladas. Esse número coloca o município no topo do ranking capixaba como maior produtor de conilon do Espírito Santo e o terceiro maior do Brasil e faz do café a principal cultura de Linhares, responsável por 50% do PIB agrícola da cidade.
Os números apontam ainda um aumento de aproximadamente 128% na produção no intervalo de apenas um ano, saindo de 18,7 mil toneladas, em 2017, para 42,8 mil toneladas, em 2018. A média do município é de 48,2 sacas por hectare, enquanto a estadual é de 35,3. O que chama a atenção, porém, além do aumento na produção, é a redução na área colhida. Em 2008, essa área era de 15.260 ha, já em 2018, reduziu para 14.800 hectares.
O doutor em Produção Vegetal, engenheiro agrônomo e pesquisador do Incaper, José Altino Machado Filho, lista os motivos que, segundo ele, justificam os dados.
“Nesses dez anos houve muito avanço no manejo da irrigação e nutricional, adoção de variedades mais produtivas, com materiais genéticos melhores, e a introdução do manejo de poda. Esses fatores são os principais responsáveis pelo aumento de produtividade sem o aumento da área colhida ”, explica.
O secretário Municipal de Agricultura, Franco Fiorot diz que, mesmo diante de um cenário desfavorável, os produtores têm se reinventado e investido nas lavouras, e que espera um resultado positivo para a safra deste ano.
“Os números do IBGE mostram que, mesmo em meio à crise econômica que o setor enfrenta, com a baixa no preço da saca, o produtor tem se reinventado e investido cada vez mais na produção para colher frutos com mais qualidade, alcançar melhores preços e ter diferencial no mercado. Neste ano, a expectativa é que o saldo seja positivo, como no ano passado ”, comenta Fiorot.
José Altino afirma que o crescimento na produção cafeeira de Linhares deve se manter pelos próximos anos. “Tudo que estamos vendo em termos de tecnologia empregada, com possibilidade de novos materiais genéticos constantemente lançados, técnicas de manejo de irrigação e de nutrição cada vez mais tecnificadas, mais lavouras sendo renovadas com cultivares superiores, percebemos que a produção do município vai continuar crescendo. Linhares ainda vai despontar com grandes safras ”, pontua.
Tecnologia e perfil do produtor contribuem para o sucesso da cafeicultura de Linhares
Os investimentos em tecnologia de ponta no manejo das lavouras, associados ao perfil dos cafeicultores, justificam a posição ocupada pelo município no cenário capixaba e nacional. É o que diz José Altino Machado Filho (Incaper). Para o pesquisador, os cafeicultores de Linhares têm um perfil empresarial muito forte, são abertos a novas tecnologias- ao contrário do que normalmente ocorre em outras regiões e com outras culturas, e investem em tecnologia.
“Os produtores de café de Linhares têm um perfil empresarial marcante, o que favorece melhor planejamento dos custos e investimento em manejo. Além disso, são abertos ao conhecimento, participam de campanhas, treinamentos e capacitações e absorvem muito rápido as tecnologias. Diferentemente de outras culturas e regiões com produtores tradicionais, que insistem em fazer sempre do mesmo jeito. Soma-se a tudo isso um parque tecnológico cafeeiro moderno, composto por máquinas de secagem, equipamentos de irrigação, colheitadeiras e armazéns que beneficiam café ”, revela Machado.
A opinião do cafeicultor e pecuarista, proprietário da Fazenda Chapadão, Eduardo Lima Bortolini, endossa a de José Altino. Para ele, que trabalha com conilon desde 1999, a palavra de ordem no agronegócio é gestão empresarial.
“Quando falamos em agronegócio, você depende de uma boa gestão empresarial, porque envolve muita coisa. Temos a parte agronômica, de irrigação, mecanização, clima, controle de custos e de estoque. Você tem que saber comprar e vender bem, entender de mercado, e até mesmo de Recursos Humanos, para lidar bem com seus colaboradores. Então, o produtor precisa, sim, ser um grande gestor ”, ressalta Bortolini.
Localizada no Chapadão das Palminhas, interior de Linhares, a Fazenda Chapadão abriga aproximadamente um milhão de pés de café e ocupa uma área de 236 hectares, destes 150 ha em produção, 53 ha recepados para produção em 2021 e 33 ha com novos plantios.
Na fazenda é possível encontrar tecnologia em várias áreas dentro da cafeicultura. Área de maquinário, com semi-colheitadeiras, de plantio com novos clones e novos tipos de adensamento, já pensando na mecanização da colheita, passando por um moderno sistema de irrigação, estação meteorológica com dados coletados via internet, e programa de coleta de dados, com o objetivo de fazer melhor gestão de custos da propriedade.
Mais Conexão Safra
Este ano, a colheita foi 100% mecanizada, mas o objetivo, segundo Eduardo, é trabalhar com 80% da produção mecanizada em lavouras novas. Para isso, já iniciou um processo de formação de mão de obra na própria fazenda.
“Queremos trabalhar colhendo 80% com máquina. Mas esse trabalho precisa de cuidado para não estragar a lavoura. Para isso, estamos formando mão de obra dentro da fazenda e contratando pessoas que já sabem, que já têm esse conhecimento ”, explica o cafeicultor.
Outro exemplo de adesão a inovações encontramos na comunidade de Baixo Quartel na propriedade arrendada pela família Vieira. O cafeicultor Nivaldo Andrade Vieira está plantando nove hectares de conilon. Deste total, 4,5 hectares, cerca de 17 mil pés, estão sendo plantados em consórcio com braquiária e no espaçamento 3 m x 80 cm, já pensando na mecanização da colheita.
O plantio do café consorciado com a braquiária foi uma novidade bem recebida por Nivaldo, segundo conta Breno De Angeli Vieira, engenheiro agrônomo e filho do cafeicultor.
“Sempre acreditamos que quem não se atualizar nas tecnologias de produção irá perder competitividade no mercado. Justamente por isso nunca tivemos nenhuma restrição às novas tecnologias. Meu pai sempre foi um inovador e entendeu com muita facilidade o conceito do café com braquiária ”, conta Breno.
Com esse modelo de produção, Breno disse que espera reduzir o consumo de herbicidas, aumentar a produtividade, devido à incorporação de matéria orgâ,nica ao solo, proveniente da braquiária, e consequentemente, ter um retorno positivo na rentabilidade.
Incentivo aos produtores
Para fomentar junto aos produtores melhorias na qualidade e produtividade do conilon, a Prefeitura de Linhares, por meio da Secretaria de Agricultura, lançou o Programa Linhares Coffee, com várias ações integradas, entre elas o Concurso Municipal de Qualidade do Café Conilon, que em 2019 teve a participação de 133 produtores, batendo um recorde de amostras inscritas.
O secretário municipal de Agricultura, Franco Fiorot diz que o objetivo principal do programa não é a realização do concurso, mas levar informação e incentivo aos produtores. “O programa não é só um concurso de café de qualidade. Nosso objetivo é levar informação e orientação aos produtores para que tenham essa percepção do manejo diferenciado na propriedade e incentivar práticas mais eficientes para que possam produzir com maior qualidade e mais rentabilidade. Por isso criamos um programa com diversas ações integradas voltadas para o café ”, pondera Fiorot.
Por meio do programa, já foram realizadas dezenas de palestras e treinamentos nas comunidades produtoras, além da construção de mais de 5.000 caixas secas e barragens para garantir nas propriedades rurais a conservação de água e solo e que os produtores tenham o recurso hídrico para enfrentar períodos de seca.
Indústria de cafésolúvel em Linhares
Os números da cafeicultura de Linhares já começam a atrair os olhares de investidores país afora. A escolha para instalação da unidade da Companhia Cacique Café Solúvel, segundo o diretor industrial, Julio Cesar Pereira Grassano, responsável pelo projeto da Companhia na cidade, se deu justamente pela posição que o município ocupa em termos de produção de conilon e também pela proximidade com os produtores.
“Um dos motivos para nossa escolha foi o volume de produção. A matéria-prima produzida na região de Linhares é abundante e será suficiente para atender as demandas de produção da Cacique. Um outro fator importante é a proximidade com os produtores de café conilon, o que possibilitará a compra dessa matéria-prima diretamente dos cafeicultores ”, destaca Grassano.
Com o início das operações previsto para o primeiro trimestre de 2021, as obras de instalação da empresa no município seguem em ritmo acelerado. A estimativa é que a produção de café solúvel da Cacique em Linhares chegue a 12 mil toneladas/ano. A Cacique tem sede no Paraná e escritórios em São Paulo e em vários países do mundo.
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