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Produção animal

Parceria entre pesquisa e rede de viveiristas abre novos horizontes para o capim-elefante no Brasil

por Embrapa

em 25/11/2020 às 23h01

9 min de leitura

Parceria entre pesquisa e rede de viveiristas abre novos horizontes para o capim-elefante no Brasil

Carolina Pereira - Além de já estar sendo cultivada em todo o Brasil, a forrageira BRS Capiaçu vem despertando também o interesse de produtores de fora do País
Foto: Carolina Pereira

Quatro anos após o seu lançamento, em 2016, a nova variedade de capim-elefante
BRS Capiaçu, desenvolvida pela
Embrapa Gado de Leite
(MG), já garantiu o seu lugar na preferência dos pecuaristas de leite de norte a sul do Brasil
(veja mais detalhes no quadro abaixo). Essa expansão em tempo recorde se deve, em grande parte, à parceria com redes de viveiristas credenciados, que garantem o fornecimento da cultivar aos produtores nacionais, além de contribuir para combater a pirataria de mudas.

Recentemente, com a inclusão de mais quatro viveiristas credenciados, a BRS Capiaçu passa a contar com fornecedores certificados pela Embrapa em toda a região do
bioma
Mata Atlântica. A Região Nordeste, que não tinha nenhum viveirista, passou a ter
(veja relação dos viveiristas credenciados ao fim desta reportagem). O pesquisador da Embrapa Gado de Leite
Samuel Oliveira
diz que a instituição está fazendo um esforço para disponibilizar viveiristas em todas as regiões do País. “Isso ainda não foi possível porque dependemos da conclusão do
teste
de Valor de Cultivo e Uso (VCU) para estender a recomendação da cultivar para os biomas Cerrado e Amazônia, questão que em breve estará resolvida ”, diz.

O
teste
VCU é uma das exigências do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para o registro de novas cultivares. Os registros são feitos por biomas. Até

agora, a cultivar BRS Capiaçu só possui o VCU para o bioma Mata Atlântica, embora já existam viveiristas interessados em comercializá-la nos estados do Cerrado e da Amazônia.

“A BRS Capiaçu é um grande sucesso entre os produtores de leite. Além de já estar sendo cultivada em todo o Brasil, a forrageira vem despertando também o interesse de produtores de fora do País. Recentemente, um pecuarista da Angola, na África, berço da maior parte das gramíneas usadas em nossa pecuária, adquiriu o produto ”, conta Oliveira.

Segundo o chefe-adjunto de Transferência e Tecnologia da Embrapa Gado de Leite,
Bruno Carvalho, há também demanda para que o capim seja
introduzido
em outros países da América Latina, com negociações avançadas junto à República Dominicana.

“Com o bônus do sucesso, surge também o ônus da pirataria ”, preocupa-se Oliveira. Segundo ele,
há um comércio de
mudas sendo vendidas por pessoas que não têm qualquer registro
ou autorização da Embrapa. Ele chama a atenção para o problema: “A Embrapa Gado de Leite não se responsabiliza por mudas de BRS Capiaçu que não foram adquiridas por viveiristas credenciados ”. O produto pode ser adquirido de três formas diferentes: mudas em estacas, germinadas ou micro propagadas (feitas a partir
de
tecido da planta). Quanto ao preço, isso irá depender do tipo de muda e dos ditames do mercado.

Viveiristas: produção e combate à pirataria de norte a sul do País

Os viveiristas desempenham importante papel ao fazer com que as cultivares da Embrapa cheguem ao mercado, atuando indiretamente no combate à pirataria de mudas. É o que faz o pequeno produtor de leite na região do Vale do Paraíba José Cabello, que testou na propriedade dele a BRS Capiaçu como alternativa para alimentar o gado durante o inverno. A tecnologia o ajudou a descobrir uma nova atividade econômica: a de produtor de mudas. Para saber mais sobre a forrageira, manteve contatos com a equipe de
Transferência de Tecnologia
da Embrapa Gado de Leite. Ao identificar o potencial da cultivar decidiu integrar a lista de licenciados para produção e comercialização de mudas e hoje já vai para a quarta safra, que ocupa cerca de cinco hectares da fazenda.

“Muitas mudanças ocorreram desde o plantio das primeiras mudas: do manejo correto até a embalagem e o atendimento de pós-venda aos clientes ”, conta Cabello, da
Mater Genética, localizada em São José dos Campos (SP). O produtor abandonou a venda de leite e agora comercializa bezerros, tendo como atividade principal a de viveirista. E não reclama: “A demanda tem sido crescente ano a ano e 2020 superou as expectativas nos meses de junho e julho, costumeiramente mais fracos de venda ”, relata, destacando também os bons resultados com a silagem utilizada para alimentar o rebanho.
“Nossa relação com a Embrapa é bastante sólida. Recebemos o apoio técnico quando precisamos e levamos o nome da Empresa e a tecnologia a todos que procuram pela cultivar ”, acrescenta.

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Com um jardim clonal de cerca de 600 metros quadrados, credenciado desde 2016, a
Agro Comercial Afubra
vende mudas da BRS Capiaçu de norte a sul do País. Embora localizada em Rio Pardo (RS), região que fica com 70% da produção, o viveiro comercializa o produto em 16 estados brasileiros, informa o gerente do departamento de produção agroflorestal da empresa, Juarez Pedroso Filho. “Nos surpreendemos com o aumento da demanda, que começou a chegar de Roraima, Tocantins, Amazonas e estados do Nordeste e Centro-Oeste. Na última safra, atendemos cerca de 300 agricultores familiares com a produção de 60 mil mudas rastreadas de ponta a ponta, com nota fiscal e atestado de origem genética para assegurar que estão recebendo uma cultivar da Embrapa ”, diz.

Casos de compra e venda de mudas da BRS Capiaçu sem a mediação de um licenciado como a Afubra começam a acontecer. “Clientes contam até sobre venda de sementes da cultivar, coisa que não existe no mercado ”, diz o engenheiro florestal. O viveiro atende sob encomenda e não ampliou a área de multiplicação de mudas, a despeito da demanda crescente pela cultivar e dos bons resultados comerciais.

“O agricultor está habituado a chegar no balcão e pedir um saco de sementes. A muda não está na prateleira e isso é uma mudança de paradigma à qual o produtor precisa se adaptar. A cada cliente que nos procura, explicamos que a entrega não é imediata, que a produção respeita os ciclos da planta e reforçamos ainda a importância de conhecer a origem da cultivar. Esse boca a boca é a nossa contribuição contra a biopirataria ”, destaca Pedroso.

Capim grande: um caso de sucesso

Lançada pela Embrapa Gado de Leite em outubro de 2016, a nova cultivar de capim-elefante
foi disponibilizada há
apenas quatro anos, mas já rendeu frutos importantes para a pecuária de leite nacional. Quem a adota só tem elogios à qualidade da forrageira, conhecida pela versatilidade no uso (pode ser fornecida picada verde no cocho ou na forma de silagem) e pela alta produção de matéria seca (chega a produzir 50 toneladas de matéria seca por hectare/ano). Capiaçu, em tupi-guarani, significa capim grande, o que remete à alta produção.


Segundo o pesquisador
Francisco Lédo, “a BRS Capiaçu é o maior lançamento da história do programa de melhoramento de capim-elefante da Embrapa ”. Para ele, que fez parte da equipe que desenvolveu a cultivar, a grande inovação do produto é o fato de a gramínea poder ser utilizada para silagem a um baixo custo.

O material se adapta aos diferentes tipos de solo e tolera as variações climáticas, diminuindo os riscos na alimentação do rebanho. “A BRS Capiaçu é bastante eficiente no uso da água e tolerante a veranicos ”, diz Lédo. Essas características favorecem sua adoção em diferentes regiões do País.

O interesse generalizado pela cultivar também se deve aos seus índices nutricionais e produtivos.

A produção de cerca de 50 toneladas de matéria seca por hectare/ano faz jus ao nome Capiaçu, que pode chegar a cinco metros de altura. “O resultado é a alta produção de biomassa, sendo essa a sua melhor característica ”, afirma o pesquisador da Embrapa Gado de Leite Antônio Vander Pereira, que coordenou os trabalhos de desenvolvimento da cultivar.

Utilizado para cultivo de capineiras e fornecido como picado verde, o capim apresenta maior valor nutritivo, conforme explica o também pesquisador da instituição
Mirton Morenz: “Cortado aos 50 dias, pode chegar a 10% de proteína bruta. Mas para a produção de silagem é preciso que o material seja cortado com idade entre 90 e
110
dias,
quando alcança de 18% a 20% de matéria seca, o que implica redução dos teores de proteína para aproximadamente 6% ”. Morenz completa: “Embora apresente valor nutritivo menor quando comparada à silagem de milho, a silagem da BRS Capiaçu é de baixo custo, sendo uma alternativa para a alimentação dos rebanhos, principalmente, no período da seca ”.

Segundo Pereira, o custo elevado da silagem de milho é o que a torna inacessível a muitos produtores. A BRS Capiaçu é uma tecnologia democrática, que une grandes e pequenos pecuaristas. “Podemos dizer que acertamos em cheio com a BRS Capiaçu, que é, no mínimo, 30% mais produtiva do que as outras variedades. A chave do seu sucesso é a versatilidade ”, afirma Pereira.

Potencial de produção e valor nutritivo

A BRS Capiaçu se destaca pela alta produtividade e qualidade da forragem, quando comparada a outras cultivares de capim-elefante. Veja abaixo os índices de produção e nutritivos para plantas com 60 dias de crescimento:

Silagem –
A silagem da cultivar BRS Capiaçu apresenta valor nutritivo comparável ao do milho, com menor valor energético. É indicada para vacas secas e animais jovens. Se utilizada para animais em lactação, a alimentação deve ser suplementada com uma fonte de energia, de acordo com a produção da vaca.

Como adquirir mudas da BRS Capiaçu

Há pessoas não autorizadas que utilizam a internet para vender mudas piratas da BRS Capiaçu. A Embrapa só garante a procedência do produto quando adquirido de viveiristas credenciados. São dez os viveiristas autorizados a comercializar a cultivar no Brasil. Veja onde eles estão e os telefones para contato:

AL – São Miguel dos Campos – Edilson – (82) 99981-3475

ES – Água Doce do Norte – Rosângela – (27) 99891-0350

MG – Ervália – Jorge – (38) 99825-0731

MG – Lavras – Luciano – (35) 99817-0001

MG – Marilac – Bruna – (33)9-9807-4593

MG – Pará de Minas – Fernanda – (37) 99997-6652

PR – Guairaçá – Rafael – (44) 98843-6089

RS – Santa Cruz do Sul – Juarez – (51) 9-9812-4641

SP – São José dos Campos – Ricardo – (12) 98820-6224

SP – Vargem Grande do Sul – Netto – (19) 99267-0498

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