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Frutos da beleza: pimenta rosa vira matéria-prima de indústria de cosméticos

Com óleos essenciais muito ricos, a pimenta rosa tem propriedades medicinais e hoje é usada na indústria da beleza

por Fernanda Zandonadi e Leandro Fidelis

em 12/10/2023 às 6h09

5 min de leitura

Frutos da beleza: pimenta rosa vira matéria-prima de indústria de cosméticos

Foto: divulgação

*Matéria publicada originalmente em 27 de outubro de 2020*

Além de todas as utilidades gastronômicas, a pimenta rosa trabalha a favor da beleza. “Ela tem um óleo essencial muito rico, com propriedades medicinais excelentes”. As palavras são do empresário de Mogi Mirim (SP), Lucas Gerbi, proprietário da Leggé, indústria fabricante de óleos essenciais. “O Espírito Santo é o maior produtor do Brasil e, quando descobrimos a planta, resolvemos iniciar a extração de óleos essenciais a partir das sementes”, continua.

O caminho para o casamento entre a empresa, que produz para o varejo e também indústrias de cosméticos e perfumaria, e os produtores passou por vários testes, conta. “Fizemos um plantio e pesquisas. Gostamos muito do resultado. Procuramos a Fabiana Ruas, do Incaper, e começamos a conhecer melhor a cadeia produtiva nacional, onde o Estado tem grande destaque”.

Apesar do plantio em uma área da própria empresa, o empresário conta que há diferença entre as pimentas produzidas no Espírito Santo. “Temos hoje, na Legeé, um pequeno plantio de pimenta rosa, porém os frutos daqui da nossa região tem algumas características diferentes da pimenta capixaba. São mais claros, rosados e menos vermelhos. Ambos produzem excelentes óleos essenciais. Porém, apostamos bastante em novos projetos e aproveitar os frutos que são ‘descartados’ da indústria de beneficiamento de grãos é uma excelente oportunidade de fornecimento de matéria-prima. Isso porque, para extrair o óleo, não há necessidade de a ‘casquinha’ vermelha exterior. Os óleos se concentram dentro da semente”, conta.

Apesar do plantio em uma área da própria empresa, o empresário Lucas Gerbi conta que há diferença entre as pimentas produzidas no Espírito Santo
(Foto: divulgação)

Como existe muita variação na qualidade dos frutos da pimenta rosa, explica o empresário, a Indicação Geográfica trará um padrão para ser mostrado ao mercado. “Isso dá garantia de qualidade ao cliente e traça uma meta para o produtor. E há muito mercado. A pimenta rosa pode ser utilizada de várias formas, como condimento, na extração de óleos essenciais e hidrolatos e até cervejas, cachaças, doces e diversos outros produtos que já estão sendo produzidos no Brasil”.

IG está chegando!

A discussão em torno da Indicação Geográfica (IG) da pimenta rosa caminha junto com a história da agricultura de vários municípios do Norte do Estado. Essas características, encontradas somente no Espírito Santo, são uma coroação do trabalho feito ao longo dos anos por produtores e, claro, pesquisadores. Entre os atores envolvidos no processo estão produtores rurais, Incaper, associações, Ufes, Ifes e outras instituições.

“As expectativas são enormes, pois elas consolidam um trabalho em uma região e referenda o trabalho feito ao longo dos anos. Quando reconhecida, ela vai consolidar todo esse trabalho”, explica Reginaldo Castro, presidente da Associação dos Produtores de Aroeira do Espírito Santo (Nativa).

Em Nativo, São Mateus, sede da Nativa, está toda pujança, todo o protagonismo da cadeia produtiva, explica a bióloga do Incaper, Fabiana Ruas, que integra o grupo de discussão da IG e oferece orientação e assistência aos produtores e extrativistas. “Refizemos o mapa com ajuda do Incaper, que emitiu laudo junto com a Secretaria de Agricultura (Seag), até por orientação do próprio INPI e Instituto Inovates (contratado pelo Sebrae/ES). Estamos muito esperançosos da aprovação”, afirma.

O produto final é impecável em função de todos os elos da cadeia, como boas práticas, higiene e de colheita no ponto ideal, afirma Fabiana Ruas
(Foto: divulgação)

“A produção partiu para o associativismo, cooperativismo e indústria. Avançamos muito na cadeia produtiva. Nenhum outro Estado conseguiu atingir esse patamar. Há um grande avanço nas pesquisas, fitoquímica, manejo para cultivo comercial, beneficiamento e processamento. Temos um produto final impecável em função de todos os elos da cadeia: produtores e extrativistas há anos participando de capacitações, de boas práticas, higiene e de colheita no ponto ideal de maturação”, conta a bióloga.

Algumas famílias colhem, segundo ela, até 200 quilos do fruto da aroeira por dia. “Além disso, hoje temos viveiristas produzindo mudas clonais de excelente qualidade, tudo isso foi somando para conseguir esse padrão de excelência e que se encaixa nas exigências da IG”.

Estima-se que, só em Aracruz, em 2019, haviam 850 famílias entre produtoras e extrativistas. Na Grande São Mateus, mais de 300 famílias. Mais para o noroeste, no polo de Boa Esperança- Milar, há mais de 100 famílias. São entre 1,2 mil e 1,3 mil hectares de área cultivada comercialmente. Em 2021, a previsão é de exportar 650 toneladas. O quilo da pimenta é vendido por cerca de R$ 10 a R$ 11 o quilo, o que pode variar conforme a qualidade.

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