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Pesquisa

Pesquisa aponta desafios para implantação de sistema ILPF no ES

por Rosimeri Ronquetti

em 21/06/2024 às 5h00

6 min de leitura

Pesquisa aponta desafios para implantação de sistema ILPF no ES

Fotos: arquivo pessoal

Estratégia de produção sustentável, o sistema Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF) está em franca expansão em vários Estados do Brasil. O sistema, que integra atividades agrícolas, pecuárias e florestais, em uma mesma área, em cultivo consorciado, sucessão ou rotacionado, apresenta uma série de benefícios ambientais, econômicos e sociais e se revela uma alternativa viável para aumentar a produtividade da terra e reduzir os riscos de degradação.

No Espírito Santo, porém, a introdução do ILPF não acompanha o ritmo do restante do país. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), durante as capacitações para habilitar técnicos e produtores em diferentes fases do sistema, bem como acompanhar os resultados dos experimentos implantados nas fazendas experimentais de Cachoeiro de Itapemirim e Linhares, aponta alguns motivos para baixa adesão no Estado.

A limitação de áreas adequadas para a produção de grãos, a preferência regional por práticas de silvicultura, falta de exemplos bem-sucedidos de ILPF em regiões similares, a necessidade de ampliação do conhecimento e de capacitação sobre o sistema, as barreiras topográficas e a ausência de incentivos municipais que requerem atenção na formulação de políticas públicas, programas de extensão rural e iniciativas de pesquisa, estão entre os fatores apontados pelos entrevistados.

“Para maximizar o potencial de adoção do ILPF no Espírito Santo, é crucial investir em programas educacionais que aumentem a conscientização e o conhecimento sobre os benefícios e a viabilidade do sistema, além de desenvolver políticas de incentivo que considerem as peculiaridades regionais, incluindo subsídios, assistência técnica e acesso a tecnologias adaptadas às condições locais. Superar essas barreiras é fundamental para promover uma transição bem-sucedida para práticas agrícolas mais integradas e sustentáveis na região”, explica o extensionista do Incaper e coordenador do projeto, Renan da Silva Fonseca.

Ainda segundo o extensionista, “com os resultados em mãos, o objetivo agora é reunir a equipe para reavaliar as ações, buscando aprimorá-las com maior direcionamento e profissionalismo para, assim, promover o desenvolvimento sustentável da pecuária no Estado, explorando alternativas para disseminar a adoção de sistemas integrados de produção, sabendo o impacto positivo que podem proporcionar”.

Ao todo foram realizadas oito capacitações, sendo uma on-line, durante a pandemia, quatro em Cachoeiro e três em Linhares. A pesquisa ouviu 122 pessoas, 20% do total de participantes. Participaram dos encontros produtores rurais e profissionais da área agrícola.

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Um total de 75% dos entrevistados disse que já conheciam o sistema, 57% participaram para aprimorar o conhecimento sobre o assunto e 14% tinham intuito de aplicar o sistema na propriedade.

As capacitações ocorreram no início, durante e ao término do período do projeto para apresentar aos participantes os sistemas integrados em diferentes momentos de condução e manejo.

 

Experimentos mostram que Sistema ILPF é viável em diferentes regiões do ES

Em agosto de 2021, o Incaper, em parceria em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Gado de Leite; o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa); a Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito (Fapes); e a Secretaria de Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), implantou unidades demonstrativas do sistema ILPF em Cachoeiro e em Linhares.

“Tecnicamente falando, sabemos que o sistema tem aplicabilidade no Estado, em diferentes modalidades e áreas. No Norte tem potencial para recuperação de pastagem degradada, além também da diversificação de renda se colocado um componente arbóreo junto. No Sul, a mesma coisa”, conta Renan.

Na Fazenda Experimental de Linhares, a unidade demonstrativa conta com três protótipos, cada um subdividido em quatro piquetes. No protótipo foi feito plantio apenas da braquiária brizantha cv. BRS Paiaguás sem nenhuma integração com outra cultura, caracterizando a pecuária tradicional.

Já os protótipos II e III, tem o sistema de ILP, integrando a braquiária brizantha cv. BRS Paiaguás com sorgo no protótipo II; e com milho no protótipo III. Ambas as culturas são anuais e foram introduzidas no início da estação chuvosa em um dos piquetes de cada protótipo.

Em Cachoeiro, também são três protótipos, dois em área de morro e um na várzea. Nas áreas de morro foi adotada a modalidade de Integração Pecuária-Floresta (IFP) com eucalipto, em um protótipo com espaçamento de 20×2 e o outro com o espaçamento de 20×4. Na várzea, optou-se pela Integração Lavoura-Pecuária (ILP), onde são manejados a pastagem de braquiária em cultivo integrado com sorgo.

Os objetivos principais dos experimentos era avaliar a percepção do público quanto ao sistema em ILPF e, se o sistema é ou não aplicável no Estado, dentro da realidade de cada região.

“Em Cachoeiro, com um perfil tanto de áreas de várzea, onde os produtores plantam volumoso para alimentar os animais no inverno, usamos o ILP e, em áreas mais acidentadas, onde colocam os animais para pastejo, a IFP, gerando assim conforto térmico e bem-estar para o gado, fatores que contribuem com a produtividade animal. Já em Linhares, usamos também o ILP para testar sua aplicabilidade na recuperação/ renovação de pastagens degradadas”, salienta o coordenador da pesquisa.

A etapa de capacitação e pesquisa sobre a percepção dos produtores e técnicos quanto ao sistema já foi concluída. Já o desenvolvimento do sistema, com a coleta de dados e anotações das intervenções para validar a tecnologia, ainda continua.

 

Produtor se prepara para testar sistema ILPF

Interessado na produção de biomassa para melhorar a qualidade do solo e a eficiência econômica da propriedade por meio de práticas mais sustentáveis, o técnico agrícola em zootecnia e produtor comercial de silagem de milho, Leonardo Moreno dos Santos, de Pedra Roxa, em Ibitirama, se prepara para testar o sistema Integração Lavoura Pecuária (ILP). Inicialmente vai plantar um hectare de milho com braquiária.

O primeiro contato com o sistema foi na Fazenda Experimental do Incaper de Cachoeiro onde Leonardo fez o treinamento. A previsão do produtor é começar o teste em outubro, na safra de verão e, à medida que o teste for se mostrando viável, estender o cultivo ILP por toda área produtiva da propriedade.

Plantamos o milho, entramos com herbicida e quando fazemos a colheita a terra fica descoberta. O nosso objetivo é gerar biomassa, matéria orgânica, palhada para cobertura de solo e assim melhorar a qualidade do solo como um todo, além de controlar as invasoras. Queremos ter um sistema mais produtivo, com menos entrada de aplicação de herbicidas e um sistema mais sustentável do ponto de vista de conservação do solo. Temos boas expectativas de ganho, tanto do ponto de vista da sustentabilidade, quanto econômico”, conta Leonardo.

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