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Pesquisa

Nova cultivar de banana-da-terra reúne alta produtividade e qualidade alimentar

por Embrapa

em 09/11/2022 às 8h27

8 min de leitura

Nova cultivar de banana-da-terra reúne alta produtividade e qualidade alimentar

Foto: divulgação Embrapa

Os agricultores brasileiros têm agora mais uma opção de bananeira do tipo Terra, também conhecida – a depender da região – como banana-da-terra ou plátano. Desenvolvida pelo Programa de Melhoramento Genético de Banana e Plátano da Embrapa, a BRS Terra-Anã vem se somar às variedades Terra Maranhão, Terrinha e D’Angola, registradas oficialmente pela Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA) em 2018.

Em relação à cultivar D´Angola, sua competidora direta, a BRS Terra-Anã possui como diferenciais o porte anão, maior número de pencas e de frutos e maior produtividade, além de qualidades sensoriais e alimentares superiores.

Havia uma demanda forte da parte dos produtores por novas opções de cultivares desse tipo de banana, uma vez que as três cultivares comerciais mais utilizadas têm como principais desvantagens o porte muito alto, o ciclo produtivo muito longo, a baixa produtividade ou mesmo a pouca qualidade dos frutos”, afirma o pesquisador Edson Perito Amorim, coordenador do programa de melhoramento.

A variedade é resistente à sigatoka-amarela e à murcha de Fusarium e suscetível à sigatoka-negra, principais doenças da bananeira; à broca do rizoma (praga também conhecida como moleque-da-bananeira) e a nematoides (parasitas que afetam diversos aspectos relativos à produção).

Inicialmente, a BRS Terra-Anã é recomendada para plantio no Mato Grosso e no Vale do Ribeira (SP), mas já existem trabalhos em andamento no norte de Minas Gerais e nos estados do Rio de Janeiro e Ceará visando validar a cultivar para futura extensão de recomendação a outras regiões.

Em paralelo a essa atividade e, considerando os resultados atuais, nos próximos anos a Embrapa deverá lançar, ao menos, dois plátanos com potencial agronômico e qualidade de frutos que vêm ao encontro das demandas do mercado.

A menor altura da planta da BRS Terra-Anã – 2,83 m, enquanto as concorrentes têm, em média, 3,50 m – permite melhor condução do bananal e considerável redução de quedas prematuras de plantas, sendo indicada para áreas de maior incidência de ventos fortes. A possibilidade de adensamento de plantio também é uma vantagem, uma vez que plantas mais compactas permitem maior quantidade no campo.

Toda a dedicação do agricultor tem que ser revertida em lucro para que sua qualidade de vida seja satisfatória e ele conquiste os seus anseios. A BRS Terra-Anã, além de todas as características agronômicas vantajosas, converte essas vantagens em lucro líquido”, salienta Amorim.

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Confira no podcast abaixo a opinião de três especialistas sobre a nova cultivar de banana-da-terra desenvolvida pela Embrapa.

 

Diferenciais para o consumidor

No Brasil, a banana do tipo Terra é consumida de várias formas: cozida, frita, assada, em forma de purê ou como coadjuvante de diversos preparos.

Os testes de aceitação sensorial da nova variedade foram realizados no Laboratório de Ciência e Tecnologia de Alimentos da Embrapa Mandioca e Fruticultura, que identificou que a farinha produzida com frutos da BRS Terra-Anã produz mais amido resistente do que as cultivares comerciais.

O amido resistente atua como fibra insolúvel, sendo considerado um alimento prebiótico, componente não metabolizado pelo organismo que incentiva o crescimento e a proliferação de bactérias benéficas do intestino grosso, contribuindo para evitar doenças inflamatórias do sistema digestório e diminuir os riscos de câncer do cólon.

Por conta dessas características, a BRS Terra-Anã deve ganhar espaço junto ao consumidor mais preocupado em seguir uma alimentação saudável e funcional – um nicho de mercado pouco explorado para os plátanos.

A BRS Terra-Anã é uma cultivar naturalmente biofortificada em relação às já encontradas no mercado. De acordo com Amorim, nem o produtor nem o consumidor devem perceber as diferenças no que diz respeito ao sabor ou ao aroma ou outras características sensoriais dos frutos da cultivar.

Isso é importante porque, quando o consumidor compra frutos de banana ou de outros alimentos, sempre quer aquele sabor, aquele aroma conhecido, tradicional, que ele está acostumado”, relata.

Frutos da variedade já são processados pela pequena agroindústria Serra Pantaneira, sediada em Nossa Senhora do Livramento (MT), na produção de chips nos sabores açúcar com canela, ervas finas, picante e cebola, entre outros.

 

Validação

A banana-da-terra é uma fruta importante na cadeia produtiva da agricultura familiar, possibilitando retorno rápido do investimento, e faz parte da culinária tradicional dos mato-grossenses em quase todas as refeições. A produção é bem distribuída por todo o estado, diferentemente das regiões produtoras do Espírito Santo e da Bahia, onde entra a banana Terra Maranhão, que tem dedos menores e cachos mais produtivos. Aqui a preferência do mercado são frutos grandes, poucos dedos, e essa cultivar veio atender a essa demanda. A alta produção, o vigor, a resistência ao vento, o sabor, tudo isso se encaixou nas perspectivas dos produtores daqui”, afirma Humberto de Carvalho Marcilio, pesquisador da Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer-MT).

A nossa recomendação é que seja feita a tecnificação porque o estado de Mato Grosso tem um período de forte seca. Então, quem quer produzir com qualidade, tanto a BRS Terra-Anã quanto a Farta Velhaca, tem que irrigar”, complementa.

A Empaer-MT é parceira da Embrapa desde 2000, quando passou a participar da Rede Nacional de Avaliação de Bananas e Plátanos. Em 2016, 12 materiais de plátano foram enviados à instituição para avaliações em campo e análise estatística para determinar os melhores genótipos.

Quatro se destacaram – entre eles, o que viria a se tornar a BRS Terra-Anã. “Todas as características agronômicas importantes foram avaliadas: peso dos cachos, produtividade e resistência a doenças. Muitos materiais com característica de resistência à sigatoka-negra não atendem à demanda do mercado consumidor do estado, onde a banana-da-terra tem grande importância, principalmente para a agricultura familiar. O trabalho foi feito também para ver a aceitação do mercado porque, afinal, não adianta lançar uma variedade que não agrade ao consumidor”, explica Marcilio.

Unidades demonstrativas foram implantadas nos municípios de Cuiabá, Acorizal, Nossa Senhora do Livramento, Santo Antônio do Leverger, Poconé, Cáceres, São Domingos, Campo Verde, Nova Brasilândia, Nobres, Sorriso, Lucas do Rio Verde, Tangará da Serra e Guarantã do Norte.

O produtor e engenheiro-agrônomo Eduardo Teixeira, do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Mato Grosso (Senar-MT) é um adepto da nova variedade, que foi testada na propriedade da família. “Enquanto a Farta Velhaca tem uma produção média de 10 a 12 quilos por cacho, eu obtive aqui na minha propriedade uma produção de 23 a 24 quilos em média com a BRS Terra-Anã. É uma alta produtividade, que traz um lucro muito grande para o produtor, já que os custos com plantação, manejo e condução do bananal com ela e a Farta Velhaca são iguais. No entanto, a renda líquida dela é 200% superior, avaliada na primeira e na segunda colheita. Outro ponto muito interessante é o embuchamento (distúrbio fisiológico caracterizado pela deformação do cacho, emitido fora da sua posição usual) que o frio acarreta nas plantas. A BRS Terra-Anã tem certa tolerância a baixas temperaturas como as daqui, de 10 a 11 graus, e praticamente foi zero embuchamento”, destaca Teixeira.

Outro ponto positivo é que a broca (praga que frequentemente causa o tombamento de plantas infestadas, principalmente naquelas que apresentam cacho) tem menos apreciação por ela”, afirma o engenheiro-agrônomo, que também destaca a altura da planta: “Se você tem uma planta mais baixa, tudo fica mais fácil, como colher o cacho, desfolhar, pulverizar fungicida e inseticida, e ensacar o cacho”, acrescenta.

Edson Shigueaki Nomura, pesquisador da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, liderou as avaliações em experimento instalado na Apta Regional de Pariquera-Açu, no Vale do Ribeira, por pouco mais de dois anos. Para ele, os destaques da cultivar são a qualidade do fruto, o menor porte e o manejo.

O manejo em si é melhor, principalmente no que se refere ao ensacamento, desbaste, colheita e pós-colheita. Além disso, em relação aos outros materiais, ela tem uma quantidade bem maior de amido, o que confere ao fruto maior firmeza, importante para quem trabalha com processamento e para o consumidor”, explica.

De acordo com ele, já existem produtores interessados na cultivar, em especial por conta da altura da planta. “Aqui eles só conhecem a Terra Maranhão e têm muita dificuldade em manusear esse material devido ao porte“, diz.

 

 

 

 

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