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Opinião

Bi­o­e­co­no­mia: opor­tu­ni­da­de pa­ra o Bra­sil

por Paulo Hartung

em 04/06/2019 às 15h30

6 min de leitura

Bi­o­e­co­no­mia: opor­tu­ni­da­de pa­ra o Bra­sil

Che-gou o mo-men-to de fa-zer va-ler leis bem es-tru-tu-ra-das, co-mo o Có-di-go Flo-res-tal.

Um re-la-tó-rio do WWF-Bra-sil cha-ma-do Guia prá-ti-co pa-ra de-ci-sões com im-pac-to no lon-go pra-zo no Bra-sil traz um da-do pre-o-cu-pan-te: por ano, o País per-de cer-ca de R$ 9 bi-lhões em de-cor-rên-cia de even-tos cli-má-ti-cos, co-mo es-ti-a-gens, inun-da-ções e ven-da-vais.

Sa-bem on-de es-ta-mos per-den-do di-nhei-ro? Se-gun-do a en-ti-da-de, em in-fra-es-tru-tu-ras, co-mo ru-as e re-de elé-tri-ca, além de ha-bi-ta-ções e es-co-las des-truí-das por es-tes acon-te-ci-men-tos ex-tre-mos. E mais, a agri-cul-tu-ra tem da-nos vul-to-sos e che-ga a re-pre-sen-tar 70% dos pre-juí-zos re-gis-tra-dos no se-tor pri-va-do.

Es-se pa-no-ra-ma não po-de con-ti-nu-ar. Ser sus-ten-tá-vel é uma ne-ces-si-da-de la-ten-te, que en-vol-ve es-for-ço con-jun-to de so-ci-e-da-de, se-tor pri-va-do e po-der pú-bli-co. Nes-se sen-ti-do, a bi-o-e-co-no-mia é um seg-men-to cen-tral pa-ra cons-truir-mos um fu-tu-ro que equi-li-bre ne-ces-si-da-des e so-lu-ções am-bi-en-tais, econô-mi-cas e so-ci-ais.

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O con-cei-to é ba-se-a-do na uti-li-za-ção de re-cur-sos bi-o-ló-gi-cos e re-no-vá-veis pa-ra a ge-ra-ção de pro-du-tos e ser-vi-ços. Tra-ta-se de uma vi-são de fu-tu-ro com al-ta pro-du-ti-vi-da-de, tec-no-lo-gia e ino-va-ção. Pre-ci-sa-mos fo-car nos-sos es-for-ços em trans-for-mar o mo-de-lo econô-mi-co que uti-li-za ma-té-ria-pri-ma fós-sil em re-no-vá-vel e de bai-xa emis-são de car-bo-no.

A bi-o-e-co-no-mia es-tá li-ga-da di-re-ta-men-te a di-ver-sos Ob-je-ti-vos de De-sen-vol-vi-men-to Sus-ten-tá-vel (ODS), um con-jun-to de me-tas glo-bais es-ta-be-le-ci-do pe-la Or-ga-ni-za-ção das Na-ções Uni-das (ONU). É pos-sí-vel ci-tar o ODS 7 (ener-gia lim-pa), o ODS 9 (in-dús-tria, ino-va-ção e in-fra-es-tru-tu-ra), o ODS 11 (ci-da-des e co-mu-ni-da-des sus-ten-tá-veis), o ODS 12 (con-su-mo e pro-du-ção sus-ten-tá-veis) e o ODS 13 (ação con-tra mu-dan-ça do cli-ma). Se o Bra-sil tiver um olhar es-tra-té-gi-co pa-ra o te-ma, es-ta se-rá uma agen-da em que o País po-de-rá ser lí-der. Te-mos gran-de for-ça pro-du-ti-va vin-da do cam-po e de la-bo-ra-tó-ri-os de pon-ta, ao mes-mo tem-po que te-mos 67% do ter-ri-tó-rio co-ber-to por ve-ge-ta-ção na-ti-va, de acor-do com o MapBi-o-mas.

É pre-ci-so equi-li-brar um pro-ces-so pro-du-ti-vo só-li-do e o cui-da-do com a na-tu-re-za. Pri-mei-ro pon-to a ser con-si-de-ra-do é que as flo-res-tas em pé têm enor-me va-lor. Re-mo-ção de car-bo-no, re-gu-la-ção do flu-xo hí-dri-co, con-ser-va-ção do so-lo, en-tre ou-tros ser-vi-ços am-bi-en-tais, são fun-da-men-tais pa-ra a pro-du-ção agrí-co-la e pa-ra qua-li-da-de de vi-da. A con-ser-va-ção do meio am-bi-en-te não po-de ser eco-no-mi-ca-men-te des-pre-za-da e mo-ne-ti-zá-la be-ne-fi-ci-a-rá, es-pe-ci-al-men-te, pe-que-nos agri-cul-to-res, es-ti-mu-lan-do a pro-te-ção da ve-ge-ta-ção na-ti-va.

Nes-te que-si-to, po-lí-ti-cas pú-bli-cas são im-pres-cin-dí-veis, até mes-mo pa-ra es-ti-mu-lar uma eco-no-mia de bai-xa emis-são de ga-ses de efei-to es-tu-fa e cri-ar me-ca-nis-mos de mer-ca-do de car-bo-no. O Re-no-vaBio é um exem-plo de uma po-lí-ti-ca pen-sa-da pa-ra pro-mo-ver a ex-pan-são dos bi-o-com-bus-tí-veis, mas que não des-lan-chou. O pro-gra-ma, mes-mo apro-va-do pe-la Câ-ma-ra em 2017, ain-da pas-sa por dis-cus-sões pa-ra seu aper-fei-ço-a-men-to.
O se-tor pri-va-do tem de in-cor-po-rar, de fa-to, a sus-ten-ta-bi-li-da-de em seus pla-nos de ne-gó-ci-os. Há ca-sos que de-vem ser-vir de mo-de-lo, co-mo a in-dús-tria de ár-vo-res cul-ti-va-das pa-ra fins in-dus-tri-ais &ndash, um seg-men-to nato da bi-o-e-co-no-mia, que, com um ma-ne-jo sus-ten-tá-vel, pro-duz bens de con-su-mo tra-di-ci-o-nais e ino-va-do-res, além de ge-rar ser-vi-ços ecos-sis-tê-mi-cos.

Es-sa in-dús-tria co-mu-men-te uti-li-za áre-as an-tes de-gra-da-das, se-guin-do um pla-no de ma-ne-jo pa-ra ca-da ti-po de re-gião. As ár-vo-res ali cul-ti-va-das são ma-té-ri-a-pri-ma pa-ra a pro-du-ção de pai-néis de ma-dei-ra, pi-sos la-mi-na-dos, ce-lu-lo-se, pa-pel, car-vão ve-ge-tal e mais ou-tros 5 mil pro-du-tos e sub-pro-du-tos que fa-zem par-te do dia a dia. Exem-plos dis-so são a fral-da des-car-tá-vel pa-ra be-bês, que uti-li-za ce-lu-lo-se em sua com-po-si-ção, e até mes-mo uma sim-ples cai-xa de bom-bom que com-pra-mos no mer-ca-do. Além de pro-te-ger os pro-du-tos, a em-ba-la-gem de pa-pel tem ori-gem sus-ten-tá-vel e po-de re-tor-nar à ca-deia pro-du-ti-va.

No lu-gar da ár-vo-re co-lhi-da, ou-tra se-rá plan-ta-da com o mes-mo ob-je-ti-vo, fa-zen-do com que as ter-ras se-jam pe-re-ne-men-te pro-du-ti-vas. A in-dús-tria de ba-se flo-res-tal tem 7,8 mi-lhões de hec-ta-res no Bra-sil e ocu-pa me-nos de 1% do ter-ri-tó-rio. Mes-mo as-sim, é um im-por-tan-te abri-go pa-ra bi-o-di-ver-si-da-de, es-to-ca 1,7 bi-lhão de CO2 equi-va-len-te e aju-da a con-ser-var o so-lo. Em mui-tos ca-sos, as flo-res-tas são cer-ti-fi-ca-das pe-lo FSC e PEFC/Cer-flor, que ates-tam a ori-gem dos pro-du-tos, for-ta-le-cen-do o mer-ca-do res-pon-sá-vel e o co-mér-cio in-ter-na-ci-o-nal.

As-sim, des-de a es-co-lha do lo-cal de cul-ti-vo até o con-su-mi-dor fi-nal, a in-dús-tria man-tém um olhar cui-da-do-so. E não pa-ra por aqui, já que os pro-du-tos es-to-cam car-bo-no, são re-no-vá-veis e, mui-tos de-les, bi-o-de-gra-dá-veis. Ou se-ja, após o fim do ci-clo de uso, de-com-põem-se na na-tu-re-za até mes-mo em pou-cos me-ses. É um se-tor que de-mons-tra ser pos-sí-vel tra-ba-lhar de ma-nei-ra equi-li-bra-da, pro-por-ci-o-nan-do so-lu-ções pa-ra gran-des pro-ble-mas que afli-gem o pla-ne-ta.

O que es-tá por vir? Na-no-fi-bras e na-no-cris-tais, ob-ti-dos a par-tir da que-bra das fi-bras de ce-lu-lo-se, que po-dem ser uti-li-za-dos em tin-tas, cos-mé-ti-cos, fi-os têx-teis, pró-te-ses e su-ple-men-tos ali-men-ta-res. Bio-óle-os, ori-gi-na-dos da trans-for-ma-ção da ma-dei-ra de flo-res-tas plan-ta-das, que, em bre-ve, po-dem ser uma op-ção a com-bus-tí-veis de al-to im-pac-to po-lui-dor.

Es-ses ele-men-tos tor-nam a in-dús-tria de flo-res-tas plan-ta-das um exem-plo de se-tor da bi-o-e-co-no-mia. O mun-do es-tá se mo-bi-li-zan-do pa-ra es-ta-be-le-cer es-te no-vo con-cei-to de for-ma es-tra-té-gi-ca. Nós tam-bém pre-ci-sa-mos nos pre-pa-rar pa-ra aten-der aos an-sei-os dos no-vos con-su-mi-do-res, mais cons-ci-en-tes e em bus-ca de pro-du-tos e ser-vi-ços de qua-li-da-de e am-bi-en-tal-men-te cor-re-tos.

Mas te-mos um de-sa-fio: o res-pei-to à le-gis-la-ção e às ba-ses ci-en-tí-fi-cas que a sus-ten-tam. Che-gou o mo-men-to de fa-zer va-ler leis bem es-tru-tu-ra-das, co-mo o Có-di-go Flo-res-tal. O ca-mi-nho in-ver-so, de al-te-ra-ções ou re-dis-cus-sões so-bre nor-mas bem cons-truí-das, po-de ser um equí-vo-co, no qual jo-ga-re-mos con-tra o meio am-bi-en-te, con-tra a ca-deia pro-du-ti-va e con-tra o fu-tu-ro do Bra-sil, que po-de-rá per-der as opor-tu-ni-da-des de uma de-man-da pla-ne-tá-ria pa-ra lá de ur-gen-te. (*Texto publicado no jornal Estado de S.Paulo nesta terça-feira- 4 de junho)

*O autor é economista, presidente da Ibá, foi governador do Estado do Espírito Santo.

Reprodução

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