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Meio Ambiente

Plantas podem ser usadas para tirar ferro do estuário do Rio Doce, aponta estudo

por Sup. Comunicação Ufes

em 08/03/2022 às 11h02

4 min de leitura

Plantas podem ser usadas para tirar ferro do estuário do Rio Doce, aponta estudo

Foto: reprodução

Em artigo publicado no Journal of Hazardous  Materials, pesquisadores ligados à Rede Solos Bentos Rio Doce revelam o potencial das plantas Typha domingensis e Hibiscus tiliaceus em processos de fitorremediação no estuário do Rio Doce, em Regência, município de Linhares, norte do Espírito Santo. Entre os pesquisadores, está o professor Ângelo Bernardino, do Departamento de Oceanografia da Ufes.

No caso da Typha domingensis, conhecida popularmente como taboa, e do Hibiscus tiliaceus, ou algodoeiro-da-praia (na foto principal), os pesquisadores verificaram que ambas são capazes de absorver, de forma diferenciada, o ferro que chegou ao estuário após o desastre da Barragem de Mariana (MG), em 2015, que despejou uma grande quantidade de rejeitos de mineração no Rio Doce.

Segundo dados de 2020 do Sistema de Gestão de Segurança de Barragem de Mineração da Agência Nacional de Mineração, o Brasil é o segundo maior produtor de minério de ferro do mundo e possui um total de 878 barragens de rejeitos, das quais 202 são para ferro e 64% são consideradas de “alto risco” ou têm “alto potencial de dano associado”. Daí a importância de estudos como este.

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Fitorremediação

A fitorremediação é uma técnica que usa plantas para minimizar efeitos de poluentes no meio ambiente. Em relação ao ferro, apenas quantidades mínimas são necessárias às plantas para sua sobrevivência. Em resposta a uma disponibilidade aumentada do metal no ambiente, as plantas de áreas úmidas podem ter adotado diferentes estratégias fisiológicas para lidar com altos níveis de ferro como potencial contaminante.

Hibiscus tiliaceus já existia no estuário antes do rompimento da barragem. Já a taboa surgiu com as mudanças ocorridas após a chegada dos rejeitos. A coleta das amostras para o estudo foi realizada em agosto de 2019. Foram analisadas as concentrações de ferro em diferentes compartimentos da planta: placa de ferro nas superfícies radiculares – que se forma no processo de oxidação do metal em contato com o oxigênio que chega à raiz –, raízes e folhas.

O resultado mostrou que a distribuição de ferro nos tecidos vegetais diferiu significativamente entre as espécies. Para a T. domingensis, a placa de ferro acumulou mais ferro do que brotos e raízes. O acúmulo no Hibiscus tiliaceus foi na seguinte ordem de quantidade: placa de ferro, raízes e parte aérea. Também na parte aérea e na placa de ferro houve diferenças: T. domingensis acumulou dez vezes mais ferro na parte aérea e 2,3 vezes mais ferro em sua placa de ferro do que em H. tiliaceus. Concentrações semelhantes foram observadas nas raízes para ambas as espécies.

Segundo os pesquisadores, as espécies vegetais estudadas apresentaram diferentes potenciais para fitorremediação devido à utilização de diferentes mecanismos de absorção de ferro a partir da sua fase sólida do solo. Os dados sugerem que a formação e a ação da placa de ferro são específicas. Para a T. domingensis, a placa de ferro atuou como tampão e fonte para absorção de ferro, enquanto para o H. tiliaceus, a placa de ferro atuou como barreira contra o acúmulo aéreo.

“Nossos achados fornecem evidências de que a fitorremediação com T. domingensis é um método altamente promissor para mitigar os potenciais impactos ambientais causados ​​pelo desastre de Mariana. Para futuros programas de remediação, o uso de T. domingensis deve ser testado em combinação com estratégias adicionais, como o uso de ácidos orgânicos (ou seja, quelantes), bactérias redutoras de ferro e práticas agronômicas, por exemplo, frequência ideal de corte, densidade de plantio e fertilização”, afirmam os pesquisadores no artigo.

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