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Viana: bem-vindo à Capital da Logística e do agro!

Município de extrema relevância no transporte de cargas busca o mesmo status no agronegócio com orgânicos, cana, mel e até lúpulo

*Foto: Tatiana Caus/Acervo Incaper

Matéria publicada originalmente 16/06/2021

Sempre pesou para Viana a fama de “Cidade dos Presídios”. Sem desmerecer o sistema prisional capixaba, é quase uma injustiça com o terceiro município da região metropolitana do Estado em extensão (294,9 km²). Há três anos, uma lei reconheceu Viana como a “Capital Estadual da Logística” (Saiba mais abaixo). E o município de extrema relevância no transporte de cargas busca o mesmo status no agronegócio. Até os presidiários vão contribuir para isso.

Com 70% do território em área rural, Viana quer se tornar a “Capital dos Orgânicos” do Espírito Santo. A consolidação do sistema de orgânicos está em andamento, envolvendo desde o trabalho dos internos do presídio à produção propriamente dita.

Segundo informações da Prefeitura de Viana, serão beneficiadas cerca de 9 toneladas de lixo orgânico da Ceasa no presídio, que ainda terá plantação de milho orgânico e quatro tanques de peixes, proteína 100% orgânica, tratada com o composto produzido na própria penitenciária.

“Tudo o que for beneficiado atenderá em primeiro lugar nossos agricultores e o excedente irá para a Grande Vitória”, afirma o secretário de Agricultura de Viana, Antônio Cesar Lázaro.

A proposta dos orgânicos implica também na mudança do sistema de compras, valorizando mais o agricultor agroecológico. Viana conta com cerca de 32 produtores agroecológicos. O município vai oferecer cursos em parceria com o Senar-ES para o beneficiamento das produções e certificações, além de horas máquinas mais baratas. 

O projeto é extenso e inclui ainda a criação e a ampliação da Feira do Produtor Rural e de Orgânicos. Nos 100 primeiros dias de governo, foi inaugurada a Feira do Produtor Rural de Canaã. Em junho, foi a vez da feira do bairro Industrial. Até dezembro de 2021, os bairros Universal e Vila Bethânia também terão uma Feira do Produtor Rural. “A maioria absoluta dos produtos comercializados nas feiras são orgânicos”, garante Lázaro.

Dentro do plano de tornar Viana a “Capital dos Orgânicos”, a Secretaria Municipal de Agricultura pretende realizar o Censo Rural, com visita a 1.500 propriedades no campo, adequar o cardápio da merenda escolar, criar o “Selo Viana” para doces e produtos da agroindústria de origem agroecológica, efetivar o projeto de psicultura com peixes e camarão orgânico e implementar o mestrado em agroecologia no Ifes.

O lançamento da parceria pública-privada para o cultivo de lúpulo, em maio, foi um passo importante (Confira mais detalhes abaixo), uma vez que todo o processo para consolidar o sistema de orgânicos atrasou por conta da pandemia da Covid-19, informou o secretário. O comitê do sistema de agroecologia de Viana é formado pela prefeitura, por meio da Secretaria de Agricultura, Ministério Público, Câmara Municipal, secretarias de Estado da Agricultura e da Justiça, Ceasa, Ifes e Incaper.

Antônio Cesar Lázaro, secretário de Agricultura de Viana: “A maioria absoluta dos produtos comercializados nas feiras são orgânicos”. (*Foto: Tainá Campos)

 

Cana-de-açúcar

Banana, cana-de-açúcar, orgânicos e mel estão entre os destaques da produção agropecuária de Viana. A maior parte dos canavicultores são do Assentamento Rural Jucuruaba. Estima-se que quase 90% da cana utilizada para preparar caldo de cana na Grande Vitória saia de Viana. A canavicultura movimenta R$ 3 milhões por ano, sendo 81% da venda da cana raspada, conforme levantamento da Secretaria Municipal de Agricultura.

Atualmente, o município conta com aproximadamente 30 unidades familiares que têm a cana-de-açúcar como principal atividade e cerca de 90 pessoas atuando de forma direta. Sete comunidades se destacam (Jucuruaba, Jucú, Camboapina, Pedra Mulata, Santa Clara, Piapitangui e Tanque), totalizando aproximadamente 126 hectares da cultura, uma média de 4,4 ha por família. A produtividade média é de 33 toneladas por hectare. 

De acordo com a Secretaria, 90% da cana-de-açúcar produzida em Viana tem por finalidade o de caldo. Outros 10% são destinados à produção de cachaça, utilizando cana proveniente de outros municípios, pelo fato de possuírem maior teor de sacarose.

A comercialização da cana é realizada em feixes contendo 12 unidades, pesando aproximadamente 20 a 22 kg e 80% da comercialização é feita de forma direta pelos produtores na região metropolitana do Estado, e os outros 20% são vendidos para atravessadores. Aproximadamente 46% dos agricultores comercializam a cana suja, 41%, a cana raspada e 13%, nas duas modalidades.

Um dos problemas enfrentados pelos canavicultores é a broca da cana-de-açúcar, com maior incidência de danos no verão, período que coincide com o auge da colheita. Aproximadamente 60% dos produtores realizam o controle da praga, sendo que a maioria o faz utilizando a vespa predadora Cotesia flavipes, adquirida em laboratório do interior de São Paulo. O procedimento é intermediado diretamente pelo Incaper, em parceria com produtores de Jucuruaba.  O descarte de cana brocada chega a 30% do total colhido no município.

Nos últimos anos, quase 10% dos produtores estão utilizando produtos químicos (fumacê) nos canaviais. É o caso de Julio Lodi, de Jucuruaba. “Tem época que a broca ataca mais. Nós fazemos o controle com um termobilizador (fumacê), utilizando óleo mineral mais o remédio de matar insetos”, conta. Alguns produtores relataram que o controle biológico não foi eficaz, por várias suposições ainda não confirmadas.

Ernandi Lodi (59), ao centro, e os filhos Julio (31) e Luis (24) produzem cana-de-açúcar há dez anos, na localidade de Jucuruaba. Por mês, a produção é de 15 toneladas já beneficiadas, que são comercializadas com lanchonetes da Grande Vitória que servem caldo de cana. O problema com falta d’água, que acomete 20% dos produtores do município, segundo levantamento da Agricultura, no caso dos Lodi foi resolvido com a instalação de um poço artesiano de 30 metros de profundidade. “Supriu nossas necessidades”, diz Julio. Para o canavicultor, viver do agro no município metropolitano é um privilégio, apesar da concorrência desleal. “É bom que estamos muito perto de toda a Grande Vitória. O consumo de caldo de cana é bem forte aqui, mas às vezes não temos a valorização dos nossos produtos por causa da concorrência desleal, mas isso é normal em todo comércio”. (*Fotos: Divulgação)

 

 

‘Difícil encontrar pessoas interessadas no trabalho rural’- Há 25 anos na atividade, Adriano Lodi (47) dedica 2 hectares à produção de cana na localidade de Jucu. Além da cultura, tem cacaueiro em formação e seringueiras. Segundo ele, a diversificação recente na propriedade visa sobrevivência no mercado, para ele saturado por conta da concorrência e também em função do baixo consumo do caldo de cana no comércio decorrente da pandemia. Lodi aponta ainda problemas com a mão de obra. “Tenho dificuldade de encontrar pessoas interessadas no trabalho rural e qualificadas operar máquinas agrícolas”, diz.

‘Terra de Passagem’- A importância logística de Viana na Grande Vitória já foi tema de pesquisa científica. Em “Terra de Passagem”, os autores Élen Rúbia Silva e Juliano Honorato afirmam que o transporte de cargas no município, hoje cortado por duas importantes rodovias brasileiras (BRs 101 e 262), ocorre desde séculos passados. Em 2018, uma lei estadual considerou Viana a “Capital Estadual da Logística”. Além do transporte rodoviário e ferroviário, a proximidade com os portos de Vitória, Capuaba e Tubarão colocam o município imbatível neste setor.


Alinutri vai investir R$ 30 milhões em inovação e expansão

No mercado de alimentos desde 1987, a Alinutri Nutrição Animal (ex-Nutriave) anunciou que irá investir R$ 30 milhões e abrir 374 vagas de emprego até 2022, dentro do plano de ampliação e inovação tecnológica do complexo industrial em Viana. Atualmente, a indústria conta com cerca de 700 funcionários.

Localizada em uma área de mais de 200 mil m² do município, a Alinutri atua na produção de rações para cães, gatos, pássaros e animais de produção. O investimento em capacitação dos profissionais e em novas tecnologias é uma marca da indústria. Outro diferencial é o logístico. Do centro de distribuição sai frota própria para entrega dos suplementos e atuação em todo o território nacional.


Projeto-piloto para produção de lúpulo 

A Prefeitura de Viana assinou, em maio, o termo de parceria público-privada com a empresa Hopfenbüge, de Domingos Martins, única produtora de lúpulo certificada no Espírito Santo. A assinatura é um passo importante para o cultivo do primeiro campo de lúpulo no município. O insumo é utilizado na produção de cerveja e considerado de alto valor comercial.

O projeto-piloto será coordenado pela Secretaria de Agricultura de Viana, encarregada de disponibilizar um agrônomo para acompanhamento, preparo do solo, irrigação e fornecimento de composto orgânico. “A prefeitura é uma aceleradora do fomento do cultivo de lúpulo no município. Ela fará a interlocução entre o produtor e a empresa, que dará a consultoria”, explica o secretário Municipal de Agricultura, Cezar Lázaro.

O gerente de Desenvolvimento Rural, Francisco Sizino, acrescenta que o cultivo da planta acontecerá em uma propriedade de agricultura familiar. “A ideia é fazermos de Viana uma referência na produção de lúpulo no Estado”, disse.

Os proprietários da Hopfenbüge, Rovena Buge e Eduardo Craveiro, contam como será a parceria. “Será uma consultoria para iniciar a produção do lúpulo em Viana. Vamos ajudar a montar o campo e também acompanhar o produtor rural, para que ele desenvolva a produção da planta em sua propriedade”, diz Craveiro.

A empresa também irá fornecer as estacas necessárias para o plantio, além de uma análise de como a planta vai reagir ao microclima da região. “O primeiro passo será conhecer a área destinada ao plantio para estabelecer o plano de cultivo. Depois, vamos acompanhar as estacas para ver se elas vão se desenvolver bem no campo”, explica Rovena.

“O Espírito Santo apresenta o maior crescimento médio de novas cervejarias. Temos um mercado imenso a ser explorado e essa união de forças tem tudo pra ser um sucesso”, completa.

O produtor rural Guilherme Lube vai cultivar lúpulo na sua propriedade. Para ele, a iniciativa é importante para o município. “Nós estamos inovando e eu acredito que Viana tem um bom potencial. No Estado só tem um produtor desse insumo e, com o projeto, seremos pioneiros aqui no município”.

Polo

Sede da primeira cervejaria artesanal do Espírito Santo, a Else Beer, Viana terá o primeiro Polo Agroindustrial da Cerveja Artesanal do Estado. A prefeitura anunciou que irá disponibilizar 12 mil m² de área para instalação inicial de quatro cervejarias nas regiões de Pedra da Mulata, Araçatiba, Jucu e Jacarandá. Também haverá espaço para instalações de pousadas, restaurantes, agroindústria e laticínios. O processo de implantação começa ainda neste ano e a previsão é de mais dois anos para toda a estrutura deve ficar pronta. (*Com informações da assessoria da PMV)


 

Produção de mel é destaque

Viana se destaca como produtor de mel de abelhas sem ferrão, atividade conhecida como meliponicultura. Duas espécies que estão em perigo de extinção no Espírito Santo, a Uruçu-Amarela e a Jataizão (também conhecida como Borá) são preservadas na propriedade de Guilherme Wilson Cardoso, na localidade de Jucuruaba, zona rural de Viana. O mel da abelha Jataizão é produzido em menor escala, mas tem maior valor de mercado. Cada litro pode chegar a R$ 150,00.

O município conta também com a “Casa do Mel”, inaugurada em dezembro de 2018, sede da Associação Vianense de Apicultores (Aviapes), na Fazenda Experimental do Incaper, também em Jucuruaba. A associação é composta por 20 associados distribuídos em oito comunidades do município, que trabalham com abelhas africanizadas do gênero Apis. Com 175m², o espaço serve para o beneficiamento, desoperculação, centrifugação, envase e Certificação Sanitária do Mel.

A Aviapes produz, por ano, aproximadamente 20 toneladas de mel, que são comercializadas em Viana. A Casa do Mel é o primeiro estabelecimento de Viana registrado no Serviço de Inspeção Municipal (SIM).

 

Sobre o autor Leandro Fidelis Formado em Comunicação Social desde 2004, Leandro Fidelis é um jornalista com forte especialização no agronegócio, no cooperativismo e na cobertura aprofundada do interior capixaba. Sua trajetória é marcada pela excelência e reconhecimento, acumulando mais de 25 prêmios de jornalismo, incluindo a conquista inédita do IFAJ Star Prize 2025 para um jornalista agro brasileiro. Com experiência versátil, ele construiu sua carreira atuando em diferentes plataformas, como redações tradicionais, rádio, além de desempenhar funções estratégicas em assessoria de imprensa e projetos de comunicação pública e institucional. Ver mais conteúdos