pube

Serra (ES) é terra de diversidade e produtores rurais criativos

Município com a maior população da região metropolitana tem agro diversificado e produtores virando referência nacional com inovação e ousadia

por Leandro Fidelis

em 11/06/2021 às 18h00

14 min de leitura

Serra (ES) é terra de diversidade e produtores rurais criativos

A Fazenda Caimirim é referência em heveicultura no Estado há 25 anos. (*Fotos: Divulgação)

Com a maior população da Grande Vitória (527.240 pessoas/IBGE 2020), a economia da Serra sobressai nos setores de indústria e serviços. Os índices abaixo de 1% dos habitantes ocupados na zona rural (0,7% conforme o Proater e 0,16% das atividades agropecuárias na composição do Produto Interno Bruto-PIB) tornariam o agro serrano irrelevante. No entanto, um movimento de mão dupla merece atenção. Enquanto a municipalidade está empenhada em fortalecer o setor, moradores investem em agroindústrias com inovação e produtos de qualidade. 

Segundo o Proater, Programa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Incaper com ações previstas até 2023, as principais atividades agrícolas e não agrícolas em Serra são a heveicultura, a pesca artesanal e a pecuária de leite e corte, como veremos mais adiante. 

A heveicultura ocupa um lugar de destaque (1,3% da atividade agrícola/florestal do município), com alta rentabilidade e ganho social, pois requer um considerável volume de mão de obra na manutenção das propriedades. A maioria dos produtores de borracha está filiada a uma cooperativa, e o seringueiro é um parceiro agrícola.

É o caso da Fazenda Caimirim, cuja produção mensal de 35 toneladas de látex coagulado é toda comercializada pela Cooperativa dos Produtores de Borracha do Espírito Santo (Coopbores). O destino é uma indústria baiana que processa a matéria-prima para a fabricação de pneumáticos. 

A propriedade de 50 alqueires é referência em heveicultura no Estado há 25 anos. Localizada próximo à BR-101, na altura do Morro do Vilante, a 7 km de Serra Sede no sentido Fundão, há cinco anos passou a consorciar plantios de cacaueiro na mesma área. “Todo ano plantamos uma quantidade de cacau entre as seringueiras”, relata o gerente, Edmilson Gonçalves.

A exemplo de outras fazendas com seringais, a Caimirim eleva a geração de empregos no meio rural. Um total de 17 famílias de parceiros agrícolas depende financeiramente da extração do látex na propriedade.

“Temos uma vida diferente aqui. Estamos na região metropolitana, mas vivemos do mercado rural. É uma comunidade completa, com campo de futebol e outras benfeitorias e próxima da cidade”.

A pesca artesanal também é expressiva e gera trabalho e renda para pescadores artesanais e suas famílias na faixa litorânea dos balneários de Jacaraípe, Manguinhos, Bicanga, Carapebus e Nova Almeida.

Segundo o Planagro (2009), a Serra apresentava 105 embarcações motorizadas, entre 7 e 9 metros, e 60 embarcações a remo. As modalidades mais praticadas são de linha, espinhel e arrasto. A comercialização é na maioria realizada nas peixarias e bancas de pescado nas próprias comunidades, sendo parte também comercializada para empresa de exportação. No entanto, não há dados oficiais atualizados sobre a produção pesqueira serrana.

Fortalecimento

No caso das lavouras permanentes, sobressaem o coco verde, a banana e a laranja. Os produtos são ofertados nas feiras livres, no comércio local e também no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). A fruticultura faz parte do plano de desenvolvimento para a agricultura municipal, implantado pelo atual prefeito, Sergio Vidigal, ainda no mandato anterior.

"Tínhamos um impacto grande no passado com a monocultura do abacaxi. Num levantamento do solo, percebemos que havia ambiente fértil para a cultura de frutas tropicais e até retornamos inclusive com o abacaxi. Isso estimulou a produção, até porque temos um mercado consumidor na própria região metropolitana”, afirma Vidigal. 

Ainda de acordo com o prefeito, com a visão de fortalecer o agro da Serra, ele destinou uma emenda (quando foi deputado federal) para a construção da Casa do Produtor Rural no município. “Esse projeto, aliás, está para ser licitado. A agricultura, apesar de ter uma participação pequena no nosso PIB, tem capacidade de expansão, com a nossa fruticultura e a plantação de legumes e hortaliças. E tudo que a gente produz, pode ser fornecido na própria região".

pube
O prefeito de Serra, Sergio Vidigal. (*Foto: Edson Reis/Secom-PMS)

Outra cultura, o café, responde por cerca de 52% da lavoura permanente de Serra. Foram quase 11.183 sacas produzidas em 2017, segundo dados do Censo Agropecuário levantados pelo Proater. As lavouras de conilon ocupam principalmente as comunidades de Calogi II, Chapada Grande e Santiago da Serra. Os produtores do município adotam tecnologias difundidas pelo Incaper, como o plantio de clones em linhas, variedades recomendadas, renovação das lavouras e técnicas de manejo da cultura. 

Um exemplo é a família Costalonga, da Fazenda Mundo Novo, no distrito de Timbuí. Juntamente com os pais, o cafeicultor e agrônomo Edson Costalonga, soma 12 anos na atividade e se tornou referência em conilon com as maiores médias de produtividade do Estado. Em 2012, nos 100 anos da espécie cafeeira em solo capixaba, o Incaper escolheu a propriedade para as comemorações.

A exploração de pimenta rosa (aroeira) é outra atividade de destaque em Serra. Em uma propriedade em Putiri são aproximadamente 15 mil pés e produtividade estimada de 15 toneladas/ ano. O extrativismo da pimenta rosa contribui como fonte alternativa de renda para aproximadamente 120 catadores, produzindo cerca de 38 mil kg/ano. O produto é comercializado para as indústrias exportadoras do Norte do Estado. (*Com informações do Proater/Incaper)


Queijarias incrementam renda no meio rural

A pecuária mista de carne e leite tem baixa produtividade média, pois não há um rebanho de raça definida em Serra. Cerca de 60% do leite é comercializado com os laticínios e 40%, utilizado na produção de queijo e outros derivados pelas agroindústrias locais. Outras atividades com pequena representatividade são a piscicultura, a ovinocultura de corte e a caprinocultura.

O Escritório Local de Desenvolvimento Rural do Incaper tem cadastrados sete empreendimentos familiares, dentre os quais se destacam na produção de queijos minas e frescal e outros derivados do leite, além de pães, biscoitos e doces caseiros.

Em 2017, a prefeitura lançou o Selo de Inspeção Municipal (SIM) para os produtores rurais venderem mais e aumentarem a credibilidade junto ao consumidor. Com o registro do estabelecimento, a inspeção garante o direito de comercializar dentro do município, saindo da clandestinidade. 

Outra vantagem é a venda para os programas sociais, que só compram produtos inspecionados. Com o SIM, o estabelecimento pode vender seus produtos para a merenda escolar e também para o comércio municipal, como padarias, mercearias, supermercados, entre outros estabelecimentos.

Um dos beneficiados é o queijeiro José Aldano Júnior (43), da Queijaria Delícia’s Caipira, na localidade de Muribeca. Ele conta que o pai sempre sustentou a família com a pecuária leiteira. A queijaria surgiu para incrementar a renda rural, agregando valor ao leite, antes in natura.

“Inicialmente era um projeto, mas virou paixão, que hoje realizamos com muita dedicação e empenho”, diz Júnior.

*Foto: Jansen Lube/Acervo-PMS

O produtor atua juntamente com a mulher, Samira Marelli, a mãe, Nilda Pimentel, e o pai, José Aldano, e com o apoio dos irmãos, Emerson e Jozi, na produção dos queijos. “Desde o primeiro momento, queríamos trabalhar dentro das normas e da legalidade, por isso procuramos a Prefeitura para obter o Selo de Inspeção Municipal”.

Para adquirir o SIM, a queijaria teve de cumprir diversas exigências, como seguir boas práticas agropecuárias na fabricação, cuidar da sanidade do rebanho e da qualidade da água, além de investir em equipamentos e técnicas de preparo. “Nossa ideia é sempre realizar o processo com muito profissionalismo e amor e, com isso, garantir aos clientes um produto artesanal de qualidade”, finaliza Júnior.
 

Autoatendimento de queijo viraliza em todo o país- Em abril, a Queijaria Itaiobaia, na estrada de mesmo nome, inovou o sistema de atendimento a ponto de viralizar nas redes sociais. A agroindústria, fiscalizada pelo Siapp (Serviço de Inspeção Agroindustrial de Pequeno Porte), do Estado, abriu uma loja sem a presença de funcionário, onde o cliente pega o queijo na geladeira, pesa na balança, paga através de aplicativo e ainda toma um cafezinho.

Com apenas dois anos de funcionamento, a queijaria viu as vendas triplicarem com aumento da divulgação espontânea nas redes sociais. “Os clientes ficaram surpreendidos com o autoatendimento e tem gente do Brasil inteiro ligando”, diz Jerzio Miranda (40), que comanda a agroindústria juntamente com a mulher, Solange da Silva (35).

A Queijaria Itaiobaia trabalha com três tipos de queijo (frescal, minas e coalho), com matéria-prima própria e produção de 4.000 peças por mês. “São produtos de excelente qualidade vendidos para todo o Espírito Santo”. O sucesso nos negócios rendeu um convite do presidente da Abraleite para Jerzio ser um dos dirigentes da associação no Estado, ao lado do industrial Marcos Corteletti (Laticínios Fiore).


‘Rei das Aves’ cria mais de 15 espécies exóticas

O Sítio Reserva, na localidade de Putiri, a 5 km de Serra Sede, é destaque nacional pela criação comercial de aves ornamentais exóticas. O proprietário Gil Piske (46) adquiriu a propriedade há 11 anos para transformar o hobby em negócio lucrativo. Com registro do Ibama, ele cria mais de 15 espécies na propriedade.

Os destaques são as aves australianas Ring Neck, Rosela e Cabeça de Ameixa. Um exemplar da primeira chega a custar R$ 15 mil. Segundo Piske, a clientela é “quem tem um pezinho no agro” e deseja iniciar uma criação para ter uma renda mais tranquila no campo, e não adquirir o animal como pet. “Comecei os negócios em casa há quinze anos como hobby”, conta. 

O Sítio Reserva ainda não tem estrutura para receber turistas., mas atende clientes para retirada das aves. Além disso, o criador envia os animais até o aeroporto mais próximo dos clientes. 

Nascido e criado até os nove anos na zona rural de São Gabriel da Palha, Gil Piske “saiu para fazer a vida” na área de informática e acabou criando uma empresa de cursos profissionalizantes. Deu aulas na capital capixaba, Minas Gerais, Brasília e Paraná e, hoje, com apoio da mulher, ainda se dedica à atividade em plataforma on-line.

A “virada de chave” ocorreu na pandemia, quando decidiu montar um curso digital sobre criação profissional de aves exóticas. Ministrado através da comunidade virtual “Rei das Aves”, o curso tem mais de 400 alunos de todo o país e vai abrir nova turma em julho. Por consequência da capacitação, todas as aves que cria são vendidas rapidamente. “Nunca trabalhei tanto igual na pandemia. Hoje fico mais por conta do sítio para produzir aves e fornecer para os meus alunos”.

A Ring Neck, de origem australiana, é a espécie mais criada no Sítio Reserva e pode custar R$ 15 mil.

Seis roteiros de agroturismo para conhecer

A Serra possui seis roteiros de agroturismo: Guaranhuns, Chapada Grande, Pitanga, Muribeca, Putiri e Nova Almeida. A deliciosa comida feita em fogão a lenha, produtos da roça, pesque e pague, artesanato, hospedagem, trilhas, piscinas e passeios a cavalo são alguns dos atrativos. Confira!

Circuito Guaranhuns

Sítio Recanto do Mestre Álvaro: Sítio com área de lazer e restaurante rural com comida caseira servida no fogão a lenha, piscina natural, passeio a cavalo, charrete, banho de bica e trilhas.

Sítio Recanto Morro do Céu: Propriedade típica rural com produção e venda de queijos, cultivo e venda de bromélias, visitas pedagógicas, carro de boi e hospedagem.

Circuito Nova Almeida

Fazendinha do Mini Cowboy: Propriedade com área para lazer e fazendinha de mini animais, entre eles pôneis, bois, caprinos, coelhos; aves e pássaros exóticos.

Circuito Pitanga

Sítio Ouro Velho: Região bucólica, local aconchegante, com área de lazer para crianças, redário e restaurante com comida caseira, servida no fogão a lenha.

Sítio Ouro Velho (*Foto: Rafael Ferraz/Acervo-PMS)

 

Circuito Muribeca

Sítio Cata-vento: Aluguel do sítio para grupos fechados, com lazer, área de eventos, piscinas, churrasqueiras, quadra gramada.
Rancho Alegre: Aluguel do rancho para grupos fechados, com piscina, bica de água da nascente, trilhas ecológicas na mata, pescarias, campo de futebol e hospedagem rural.

Sítio Vida Nova: Atendimento a grupos fechados para retiros e eventos.

Rancho Bela Vista: Espaço dedicado a realização de eventos e competições de prova de laço, 03 tambores e rodeio. Dispõe de clínica veterinária.

Circuito Chapada Grande

Recanto Maria Flora: Sítio com cultivo de plantas ornamentais para venda e aluguel. Dispõe de espaço para realização de eventos e lazer, com churrasqueira e piscina.

Sítio Éden: Restaurante rural com comida caseira, pesque-pague, área de lazer com campo para futebol e piscina.

Circuito Putiri

Sítio Rancho Serra Verde: Restaurante com fogão a lenha, aluguel com infraestrutura de cerimonial para realização de eventos, casamentos e aniversários. Mini animais, lago natural com pedalinhos.

Circuito Das Águas

Lagoa do Juara: Local de bela paisagem que abriga a Associação de Pescadores da Lagoa do Juara, com peixaria, artesanato, pedalinhos e restaurante especializado em pratos elaborados com tilápias.

*Fonte: Proater/Incaper
 

Clique aqui e receba as principais notícias do dia no seu WhatsApp e fique por dentro do que acontece no agronegócio!

Artigos relacionados