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Região serrana se prepara para produzir primeiro azeite capixaba

Municípios de Santa Teresa, Afonso Cláudio, Santa Maria de Jetibá e Santa Leopoldina iniciaram os primeiros cultivos de oliveiras do Estado. Primeira safra está prevista para 2019 e agricultores querem criar cooperativa

por Redação Conexão Safra

em 22/06/2017 às 0h00

6 min de leitura

Depois de 35 anos viajando o Brasil como comissário de bordo, o aposentado Nelmiro Broseghini (75) alça voos maiores, mas em terra firme. O capixaba é um dos agricultores da região serrana do Espírito Santo na expectativa com a primeira safra de azeitonas do Estado, prevista para 2019. Os plantios estão em expansão, com destaque para o pioneirismo em Santa Teresa, onde os produtores planejam criar uma cooperativa para facilitar a comercialização do primeiro azeite local.

Atualmente, o Estado conta com 75,5 hectares plantados de oliveiras, com 49 produtores envolvidos nos municípios de Santa Teresa, Afonso Cláudio, Santa Maria de Jetibá e Santa Leopoldina. As mudas foram desenvolvidas pelo Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais- Epamig e são de cinco variedades: Arbequina, Grappolo, Maria da Fé, Ascolano e Koroneike.

As montanhas capixabas são potencialmente promissoras em função do clima e da tolerância das plantas à seca, o que pode ser mais uma alternativa para os agricultores diante da crise hídrica. O vento é outro elemento colaborativo da região, pois favorece a polinização. Segundo o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural- Incaper, a previsão é de uma área aproximada da 300 hectares e 200 produtores beneficiados nos próximos quatros. Desse total, a expectativa é de 150 hectares até 2017 só em Santa Teresa para viabilizar uma indústria coletiva.

A produção de azeitonas começa a partir do quarto ano de implantação, apresentando uma produtividade de 2,5 toneladas por hectare. A partir do sexto ano, sua produção chega a 10 toneladas. O rendimento médio é de 1.600 litros de azeite por hectare e o custo por hectare é de R$ 10 mil. Para os especialistas, além de altamente rentável, a olivicultura permite a diversificação agrícola e contribui para a geração de renda na propriedade.

“A olivicultura pode ser a redenção no desenvolvimento da agricultura de montanhas, dada a sua característica peculiar, que consiste no processamento da azeitona para produção de azeite. O cultivo de azeitonas também contribui na composição harmônica da paisagem e potencializa o turismo rural ”, avalia o chefe do escritório local do Incaper em Santa Teresa, Carlos Alberto Sangali.

Referência

O Sítio Monte Sião, de Nelmiro Broseghini, fica na localidade de Lombardia, na zona rural de Santa Teresa. Localizada acima de 800 metros de altitude, a propriedade recebeu 40 mudas há um ano e mantém também cultivos de pêssego, maçã e uva. Pelo pioneirismo, o sítio funciona como Unidade de Observação e jardim clonal das oliveiras.

As plantas estão em pleno crescimento. Alguns pés já chegam a dois metros e recebem cuidados constantes. De acordo com Broseghini, a oliveira é uma árvore muito resistente, longeva e apresenta alta capacidade de renovação. “Na Espanha, árvores centenárias são decepadas radicalmente. Ficam só os troncos, que rebrotam e voltam com força total. Estou estudando e lendo muito sobre o assunto ”, diz o agricultor.

Antes de iniciar a nova atividade, o agricultor conta que foi várias vezes aquele país conhecer as plantações e a fabricação de azeite. “O povo espanhol tem muita seriedade no trabalho com oliveiras. Diante da diversidade de produtores e indústrias, cada um procura fazer o melhor produto. Não podemos nos comparar com os grandes produtores europeus, mas devemos perseguir a qualidade na produção do azeite verdadeiramente extravirgem ”, avalia Nelmiro.

As chances do azeite “made in ES ” se destacar no mercado nacional são grandes. O Brasil produz apenas 2% do azeite consumido no país- com os maiores produtores situados em São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Nesse cenário, o Brasil importa 98% de todo seu consumo interno tanto de azeite, como de azeitona em conserva, movimentando mais de 1 bilhão de reais em toda cadeia. As informações são do International Olive Oil Council (Conselho Oleícola Internacional), referentes a 2015.

Broseghini afirma que, para o sucesso dos negócios, os produtores capixabas deverão prezar pela responsabilidade, seriedade e dedicação e ter o produto valorizado pelo consumidor. “Vamos acertando à medida que o consumidor nos sugerir. Ele será nosso termômetro para irmos corrigindo até alcançar um sabor ligeiramente amargo e picante, o que vai depender da variedade da azeitona ”, diz o aposentado.

Para o produtor Ruskim Júnior, proprietário rural em Santa Teresa, as expectativas em torno da atividade são grandes. Ele plantou 800 oliveiras há um ano em uma área de quatro hectares. “O que me fez entrar nesse ramo é a rentabilidade. Tudo indica também que a mão-de-obra seja menor. O único alerta que faço é em relação às formigas. Realmente, é preciso ter cuidados ”, disse Ruskim.

Já o agricultor Sebastião Boff, da localidade de Aparecidinha, no interior do mesmo município, decidiu investir na olivicultura neste ano. “Sou agricultor há 36 anos e recebi notícias do cultivo de oliveira no Estado. Vi nessa cultura uma grande oportunidade. Além do Incaper, também procurei informações na internet e vi que a cultura é realmente promissora. ”

União

A proposta do Incaper é incentivar e fomentar a olivicultura, viabilizando a aquisição de mudas e a elaboração de projetos de financiamento para alavancar a cultura. Além disso, irá contribuir na identificação de canais de comercialização para o azeite, de modo que os produtores obtenham maior remuneração.

“Orientamos tecnicamente os agricultores na realização dos plantios de oliveira e iremos contribuir para sua organização na formação de uma associação forte e na criação de uma cooperativa de caráter coletivo. Nosso objetivo é a produção de um azeite genuíno, com características edafoclimáticas, sociais e étnicas, evidenciando as montanhas capixabas. Esse azeite deve ter aroma e sabores diferenciados, de baixa acidez ”, destaca Carlos Alberto Sangali (Incaper).

Em setembro, na realização do Dia Especial de Olivicultura, em Santa Teresa, produtores tiveram acesso a mudas de qualidade superior e preços compatíveis e a informações sobre tecnologias de produção, planejamento da atividade, organização do produtor e processamento. A colheita de azeitonas será semelhante à do café, com o uso de derriçadeiras e peneiras.

Segundo o produtor Neumiro Broseghini, a estruturação da cooperativa é uma necessidade para fortalecer o grupo, que começou com 18 agricultores e já chega a 49. A ideia é construir a indústria de beneficiamento para produção de azeite em Santa Teresa, com a importação de equipamentos da Itália e da Alemanha. “O produtor já está ciente da importância da coletividade para o sucesso dos negócios ”, diz o aposentado.

A integração produtores x cooperativa x restaurantes locais é outro fator importante nesse projeto. “Nesse momento, além do fomento e orientação técnica, estamos envidando esforços para a elaboração da indústria de beneficiamento coletiva que será construída com recursos dos governos municipal, estadual e federal ”, afirma Sangali.

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