Ranicultura atrai produtores capixabas como uma boa opção de diversificação agrícola
Apesar da demanda de mercado da carne de rã, a atividade ainda é pouco conhecida no Estado. em 2016, os produtores participaram de um Workshop, promovido pelo Incaper, onde puderam trocar e compartilhar experiências da atividade
por Redação Conexão Safra
em 22/06/2017 às 0h00
8 min de leitura
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A ranicultura é uma atividade promissora no Espírito Santo e tem atraído produtores, que buscam uma opção de diversificação agrícola para suas propriedades. O Estado possui áreas propícias para a criação de rãs e tem todos os requisitos necessários para a criação comercial, o que torna a atividade rentável.
Segundo a coordenadora do programa de aquicultura e pesca do Incaper, Lucimary Ferri, são oito os produtores de rãs no Espírito Santo. “A produção de rãs, juntando os oito produtores, é de 1.350 kg por mês. Sendo que há um produtor começando na atividade, que terá a capacidade para 20.000 kg por ciclo, ou seja, duas vezes por ano ”, comenta.
A carne de rã é um produto de excelente qualidade nutricional, além da possibilidade da utilização dos seus subprodutos, como: o couro, usado como matéria-prima na produção de cintos, pulseiras, ornamentos do vestuário, bijuterias, carteiras, bolsas, sapatos e luvas, o fígado, usado na produção de patês, e a gordura, que vem sendo usado na indústria de cosméticos.
De acordo com o extensionista do Incaper, Rafael Vieira de Azevedo, é grande a procura de produtores por informações da ranicultura. “Tivemos o Workshop, que foi a primeira etapa, e uma forma de integrar esses produtores, que estão espalhados em vários lugares do Estado. Quando nos procuram, levamos até um ranário. Muitas pessoas não tem a mínima noção de como é ”, explica.
O mercado de rã, geralmente, é bom. No entanto, o setor foi atingido pela crise econômica. “A carne de rã é um produto caro e a produção é fácil de escoar, só que sentiu esse momento de crise e os produtores estão sentindo dificuldades para vender, mas é uma atividade rentável. O ranicultor gasta em média R$ 10 com cada quilo de rã, e vende no mercado entre R$ 30 e 35 ”, ressalta Rafael.
Segundo ele, após o workshop, a procura aumentou ainda mais. “São poucas as áreas no Estado que não comportam a produção. O nosso estado é propício para a atividade. O evento foi justamente para termos um diagnóstico da cadeia para elaborarmos as metas. Falta ainda união, uma associação e o abatedouro, mas estamos analisando para estabelecer metas ”, completa Azevedo.
Atualmente, Taiwan e China são os maiores produtores mundiais de rã. Nesses países, o sistema de criação é semi-intensivo, ou seja, os animais passam parte da vida em cativeiro, parte no ambiente. Neste contexto, o Brasil se destaca como maior produtor de rãs em cativeiro, sendo São Paulo e Rio de Janeiro os estados com maior número de ranários do país.
Atividade começa a ganhar força no sul do Estado
A criação de rã é uma atividade bastante sustentável e lucrativa para muitos produtores do Espírito Santo. Em Jerônimo Monteiro, a ranicultura aparece como excelente opção de diversificação agrícola na propriedade de Antônio Henrique Binoti. Desde 1999, trabalhando com a produção de café e com a atividade leiteira, ele apostou na ranicultura para aumentar a renda da família.
Para isso, ele está em fase de conclusão da instalação do ranário no Sítio Santo Antônio, na localidade de Jacutinga, onde mora com a esposa Maria José Breda Binoti. Nos fins de semana, ele conta com a ajuda do filho e sócio da atividade, o engenheiro florestal e professor universitário Daniel Henrique Breda Binoti.
“A atividade foi ideia do meu filho. Diz ele que rã não dá coice e seria melhor para trabalhar ”, brinca o produtor, que garante que jamais vai largar a atividade leiteira. “A ranicultura é um mercado diferente. Até então, não conhecíamos. A intenção era termos algo que gerasse uma renda maior e que fosse fácil de lidar. Tivemos até uma surpresa, pois pensamos que seria mais fácil ”, explica Daniel.
O investimento até agora com a atividade foi em torno de R$ 130 mil. “Não tínhamos a ideia de fazer algo tão grande. Minha empresa fez um empréstimo e entramos de sociedade com meu pai. Já tínhamos os poços aqui na propriedade, só abrimos um pouco mais. Depois tivemos um problema da falta de água, que não contávamos e tivemos que gastar mais uns 30 mil para cavar o poço. A estrutura ficou maior do que o previsto ”, explica o engenheiro florestal.
Para entender melhor a atividade, Antônio, com a esposa e o filho, visitaram um ranário no município de Ibiraçu. “Depois que fomos visitar, meu filho e o sócio da empresa dele viajaram para São Paulo, mas não sabíamos o que tinham ido fazer. Daí uns dias ele ligou avisando para arrumarmos um tanque, pois estava trazendo 1.000 girinos. A primeira coisa que pensei, foi: ‘enfiar onde’? Não esperávamos ”, lembra Maria José.
Segundo ela, os tanques foram colocados na porta de casa e todos os dias trocavam a água. “Fomos aprendendo devagar. Pensei que ia ficar só nos mil girinos, mas eles começaram crescer. Arrumaram uma lona e fizeram igual piscina, e passaram as rãs para lá. Quando eu ia trocar a água, aproveitava para ensinar os bichinhos comer. Me diverti muito ”, conta Maria José.
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Matrizes
Não demorou muito e começaram com a produção de girinos. “Foram para São Paulo e trouxeram cinco casais de matrizes, e colocaram no poço. Depois falaram que iam construir os dois galpões, mas acabaram fazendo três. Ainda sem conhecer bem o assunto, começamos a pesquisar e participamos do workshop em Vitória, promovido pelo Incaper. E foi excelente, pois trocamos experiência com outros produtores ”, continua Antônio.
Hoje, eles tem aproximadamente 200 matrizes, que ficam em um poço para desovarem. “O nosso dia começa cedo. Meu marido vai para o curral e vou para o ranário. Troco a água e dou ração para as rãs no poço. Olho se tem desova e levo para o galpão. O mais difícil é fazer a coleta da desova. E depois é só continuar tratando.
Todo dia tem que ir lá, é um ser vivo ”, explica Maria José.
O processo de produção até a venda, dura em média oito meses. “Os ovos são colocados em caixas pequenas durante uma semana, até a eclosão, depois vai para a caixa maior e fica até começar a nadar e comer. Depois de 60 dias, vão para a caixa maior, e depois para o tanque de metamorfose, onde ficam de três a quatro meses. Depois vão para parte do engorda, e ficam quatro meses até sair para venda ”, continua Maria José.
A base da ração é de peixe carnívoro. “A ração é de peixe carnívoro. Quando ainda estão nas caixas menores, se alimentam com a água do poço que vem com microrganismo. No tanque maior já começamos a jogar ração, uma mais forte. Na engorda, usamos uma com mais porcentagem de proteína. A nossa maior dificuldade é a falta do abatedouro ”, completa Antônio Henrique.
Norte do Estado também é destaque na ranicultura
O norte do Espírito Santo a ranicultura também está presente como principal atividade de produtores em cidades como Linhares, Ibiraçu e João Neiva. Além da troca de experiência com os produtores do sul, eles vendem a produção é vendida para abatedouros de São Paulo e Minas Gerais.
Na localidade de Lagoa Nova, em Linhares, o ranicultor João Ailto Dal’Col está na atividade desde 2013. “Um rapaz daqui da cidade trabalhava com ranicultura, e parou. Ele me ofereceu os equipamentos e vi na atividade uma oportunidade de aumentar a renda da propriedade ”, comenta ele, que também produz pimenta do reino.
Apesar de estar no Brasil desde 1935, a atividade é pouco conhecida. “A literatura sobre a ranicultura ainda é pobre. Somente as primeiras matrizes vieram do norte-americano, e o material genético de hoje é remanescente daquela época. Não é uma atividade fácil e não temos muitas informações ”, continua Dal’Col.
João Ailto não trabalha com a produção de girinos. “Quando comecei, fui a São Paulo e comprei 10 mil imagros, que são as rãs de até 50 gramas. Depois comprei em Minas Gerais. Faço a engorda e vendo. Já andei fazendo umas matrizes e alguns girinos, mas tivemos um problema com a seca. As rãs são sazonais e tive problemas nesse período ”, comenta.
Ele possui tanques de fibras e trabalha com o sistema de recirculação da água. “Renovo a água dos tanques três vezes por dia. Uma grande dificuldade é não termos no mercado uma ração específica para rã. Alimentamos com ração de peixe carnívoro, que tem uma média de 40 a 48% de proteína na composição ”, ressalta o ranicultor.
Toda a produção de Dal’Col vai para abatedouros do Rio de Janeiro e São Paulo. “Envio uma média de 1.500 rãs para abate por mês. Vendo o quilo (rã viva) por R$ 12. O produtor que quer entrar hoje nessa atividade deve pesquisar o mercado, para saber se tem condições de absorver. É, uma atividade rentável. Sobrevivemos com ela. A ranicultura não me deu prejuízo nesse ano ”, completa João Ailto.
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