Projetos melhoram a qualidade do leite e mudam a vida de produtores
Através das consultorias, os produtores mudaram as técnicas utilizadas na atividade leiteira, o que garante o aumento da produção com baixos custos
por Redação Conexão Safra
em 21/06/2017 às 0h00
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As cooperativas de laticínios do Espírito Santo têm investido cada vez mais na melhoria da qualidade do leite de seus cooperados. De norte a sul, os diversos programas desenvolvidos tem mudado a vida de muitos produtores, que passaram a ser exemplos pelo rápido resultado conquistado ao longo dos últimos anos.
Nas cooperativas do sul do Estado: Colamisul, em Mimoso do Sul, e na Colagua, em Guaçuí, o projeto recebe o nome de ‘Mais Leite’. Na Selita, em Cachoeiro de Itapemirim, o ‘Projeto 120’ é oferecido aos cooperados. No norte do Estado, a Veneza, em Nova Venécia, o projeto é chamado de ‘Leite Certo’.
Mesmo com diversos nomes, o objetivo é o mesmo: aumentar a produção de leite dos pequenos produtores com custos baixos, sempre aproveitando o que os cooperados têm nas propriedades, sem fazer grandes investimentos.
A base da maioria dos produtores atendidos pelos programas é a agricultura familiar. São histórias de superação e determinação de cooperados, que tiram o sustento da família da atividade leiteira. A produção de leite ganhou espaço e permanece como a principal fonte de renda de muitas dessas famílias.
‘Morar na roça era nosso sonho’
No Sítio Lindo Vale, na localidade de Patronato, em Mimoso do Sul, vive um casal que experimenta uma nova fase da vida. O laticinista aposentado Luiz Gonzaga Soares Martins e a esposa, a professora aposentada Jane Lúcia Muri Martins, procuraram e encontraram no campo o que buscavam há anos: descanso, tranquilidade e fonte de renda.
Há sete anos, ele trocaram o município de Guaçuí por Mimoso do Sul. “Não foi fácil. Era um sonho do Gonzaga e eu embarquei com ele. Tentamos comprar um sítio em Guaçuí, mas não dava certo. Tentamos também em Patrimônio da Penha, mas não deu certo. Meu pai faleceu e deixou de herança essa propriedade para mim e minha irmã. A parte que herdei era lá nos fundos e não chamou tanto a nossa atenção. Como não conseguimos no Caparaó viemos dar uma olhada na propriedade para tentarmos bolar uma estratégia para nos mudarmos ”, conta Jane.
Eles então, construíram uma casa na parte da propriedade que Jane tinha herdado. Depois de um tempo, a irmã vendeu sua parte, e Jane e Gonzaga se mudaram para a casa principal do sítio. “Meu marido trabalhou em empresas de laticínios, polpa de frutas, foi gerente da cooperativa em Guaçuí e é técnico agrícola, mas não tinha vivência na roça. Eu fui me apaixonando aos poucos e hoje, até converso com as vacas. Meu pai era assim e descobri que tenho muito em comum com ele ”, continua.
Jane conta que nada foi difícil e eles encararam tudo como um desafio diferente de vida. “Começamos com gado de corte. Depois fomos comprando de leite. O Gonzaga não tinha destreza de tirar leite na mão e compramos uma ordenha. Não demoramos e descobrimos o programa ‘Mais Leite’, da Colamisul, e aos poucos, fomos melhorando ”, ressalta a professora.
Segundo ela, a ideia de morar na roça era para fazer algo que oferecesse prazer, mas que também tivesse um retorno financeiro. “Tirávamos uns 40 litros por dia. Hoje, já chegamos a 200, em dois anos de projeto. Aumentamos a quantidade de vacas e melhoramos a qualidade. Estamos com um lote de inseminação. Superamos as expectativas ”, comenta.
Determinação
Jane garante que após 32 anos em sala de aula, se sente à vontade na roça. “O lado professora encerrei no dia que aposentei, foi uma promessa que fiz a mim mesmo. A vontade de aprender, absorver o conhecimento dos outros e saber filtrar, nos fez crescer muito. Um mérito do programa é a interação com os outros produtores. A troca de experiências ”, garante o casal que está junto há 39 anos.
Passar pelo longo período de estiagem não foi fácil, mas eles conseguiram driblar a situação. “Temos duas nascentes na propriedade e pedimos um amigo para fazer um projeto. Plantamos mais de mil árvores, fizemos a proteção de uma e a outra deixamos do mesmo jeito. É tudo bem pequeno. E plantamos muitas frutíferas, que mudaram a cara da propriedade ”, completa.
O casal é acompanhado pelo técnico da Colamisul, o engenheiro agrônomo Guilherme de Andrade Werneck, que destaca a paixão do casal pela propriedade e pela atividade leiteira. “Eles são apaixonados pela atividade. Quando começaram no programa, a propriedade era relativamente pequena, e a área que eles tinham destinado para a pecuária leiteira era menor ainda. À princípio, não mudamos o rebanho. O propósito do programa é se virar com o que se tem. Fizemos reformulação nos piquetes, e ele fez as correções, adubações e já nesse início aumentou o leite 50%. Mas, logo surgiu a necessidade de mudar o rebanho ”, conta Guilherme.
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O engenheiro agrônomo ressaltou que eles estão em processo de melhoramento genético do plantel, dentro de um planejamento proposto. “Fizemos um plano de trabalho de cinco anos, no qual atingiram as metas anuais. Hoje, a nossa meta para 2018/2019, é em torno de 300 litros de leite ”, continua.
Para finalizar, Guilherme frisou que o casal é exemplo para outros produtores pela dedicação no que fazem. “São muito determinados. Conseguem ter retorno financeiro em uma pequena propriedade. O nosso propósito é renda ao produtor. Eles entendem que a propriedade é uma empresa e precisa ter uma gestão. Eles são empresários do leite. A Colamisul busca incentivar esses pequenos produtores que querem crescer ”, completa.
‘Me aposentei e continuo na roça’
As histórias de superação dos produtores rurais sempre estão ligadas a importantes mudanças de atitude e de gerenciamento. Por isso, os projetos são fundamentais nesse contexto. O cooperado da Colamisul, Amado Castilho, conheceu o programa ‘Mais Leite’ há um ano, quando começou na atividade leiteira. Após 63 anos trabalhando com café, ele quis diversificar a atividade.
O trabalho no Sítio Cascatinha, na localidade de Água Limpa, em Mimoso do Sul, é dividido com a esposa Cleuza Fernandes Castilho, e com os filhos Abílio e Cleimair. “Tirava 60 litros por dia. Hoje, já estamos em 150, mas quero chegar a 300 ou mais. Isso só em um hectare. Alimentação é só na ração, as vacas não vão ao pasto. Agora estou aumentando a área para 2,5 hectares ”, conta Amado, que ressalta que gosta muito da roça. “Me aposentei e continuo trabalhando na propriedade. Não é uma serviço igual antes, mas estou sempre em atividade ”, diz.
Além de Abílio e Cleimair, o filho mais velho do casal, Guilherme, também trabalhava na propriedade. Em janeiro deste ano, uma fatalidade marcou a vida da família Castilho. Guilherme levou um choque elétrico enquanto trabalhava na perfuração de um poço artesiano, e faleceu.
Da tragédia, o casal e os dois filhos tiraram a força para continuar a trabalhar. “Onde ele está, acredito que está olhando pelo nosso serviço. Ele trabalhava comigo, nesse dia estava de folga e foi lá em Kennedy ajudar a cavar um poço e levou um choque. Não é fácil superar, mas ouvi uma coisa uma vez que tem me dado força: não perdi um filho. Perdemos um filho quando ele se perde na vida e nas drogas. O meu, morreu trabalhando, e quando morreu Jesus o pegou pelas mãos ”, emociona-se.
Cleuza, também emocionada, revelou um pedido do filho. “Ele sempre falava que quando fôssemos contar nossa história em uma revista, que o chamasse, pois queria sair também. Infelizmente, não está mais aqui conosco, mas está presente em nossa história e nossa vida. Ele está sempre conosco. Meu choro não é de tristeza, é de felicidade. Minha família tem força e apoiamos um ao outro. A fé nos faz ser assim ”, continua.
O casal contou que tem orgulho em ter os filhos trabalhando na propriedade. “Fico feliz que estejam aqui. Conheço história de pai, que tinha os filhos todos na roça, e quando se foi, os filhos abandonaram a propriedade. Dou total liberdade aos meus filhos. Eles não falam em sair daqui. Tenho vontade que eles fiquem perto de mim ”, frisa Amado.
Bons resultados
O veterinário Raul Monteiro Bertonceli, que acompanha Amado no projeto ‘Mais Leite’, ressaltou que um dos principais motivos do bom resultado da propriedade foi trabalhar com a eficiência. “Ele é uma referência em Mimoso na área de café, e agora está sem tornando no leite, com essa preocupação de manter o padrão de qualidade e produtividade dos animais. A economia do café com leite funciona muito bem para ele ”, conta.
Raul ressalta ainda que o produtor mantém um gado com a genética muito boa. “Ele consegue colher três roças de milho por ano, com uma produção de 150 toneladas de silagem. Produz alimento de qualidade e isso faz com que ele tenha a melhor média de produção por vaca da cooperativa. A média dele pulou de 60 para 140 litros/dia. O planejamento é entre 300 e 400 litros/dia. Quando ele percebeu que a atividade era rentável, ele separou outra área de um hectare e meio e plantou milho. A expectativa é chegar a 350/400 já no próximo ano ”, continua o veterinário.
Uma das soluções encontradas para acabar com o estresse dos animais foi a construção de camas individuais para as vacas. “Quando chegamos aqui, percebemos que as vacas estavam com problema no local de dormir, embora bem alimentadas, isso estava causando estresse. Pensamos em adaptar uma estrutura simples e funcional. Pesquisamos e chegamos à conclusão que com a palha de café, que ele já tem aqui, daria para montar o estábulo, que são os dormitórios das vacas. O objetivo do programa é pegar o que tem na propriedade e tentar aproveitar para reduzir os custos ”, finaliza Raul.
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