Geral

Programa para produção de sementes é destaque na floresta nacional de Pacotuba

"O objetivo do ""Sementes de Flona de Pacotuba"" é contribuir como banco de sementes florestais de espécies nativas para a restauração de regiões degradadas no sul do estado"

por Redação Conexão Safra

em 29/08/2017 às 0h00

8 min de leitura

Por Guilherme Gomes

Nós estamos vivendo um momento de diminuição crescente das áreas florestais. No último ano, 29 mil hectares de Mata Atlântica foram desmatados, segundo estudo recente da SOS Mata Atlântica. No Espírito Santo, houve um acréscimo de 116% em relação ao período anterior, com a perda de 330 hectares.

Pensando na necessidade de conservação e recuperação dessas áreas, a equipe da Floresta Nacional (Flona) de Pacotuba, em Cachoeiro de Itapemirim, em parceria com a concessionária de água do município, iniciou em 2015 o Programa “Sementes da Flona de Pacotuba ”. O objetivo é produzir e servir como banco de sementes florestais de espécies nativas para a restauração de regiões degradadas no sul do Estado.

Trata-se de um procedimento que visa localizar e identificar árvores adultas no interior da floresta e acompanhar seu desenvolvimento para posterior colheita de sementes, que por sua vez, serão utilizadas na produção de mudas. “A ideia é que, ao escolher árvores em uma floresta para produção de sementes, possamos contribuir para a reestruturação de ambientes com maior biodiversidade para realizar de maneira eficiente os serviços ambientais de que tanto necessitamos. Assim, o ‘Sementes’ tem tudo a ver com a existência da Flona, que é uma unidade de conservação de uso sustentável cujo objetivo é compatibilizar a conservação da natureza com o uso direto de parcela dos seus recursos naturais. Além disso, um dos objetivos de criação dessa unidade é justamente servir como banco e oferta de sementes florestais de espécies nativas para poder recuperar a região ”, explica a bióloga e coordenadora do programa, Aline Lobato.

Em sua primeira fase, o Programa Sementes da Flona de Pacotuba fez a identificação e a marcação de 450 árvores matrizes de várias espécies, algumas tidas como prioritárias dentre elas o Jequitibá Rosa, árvore símbolo do Espírito Santo, Farinha Seca, Peroba Amarela, Cajá mirim, Angico Curtidor, Sapucaia, Vinhático, Gonçalo Alves, entre outras. As atividades auxiliarão a futura prática de colheita de sementes e permitirão o monitoramento da produção e da qualidade das sementes, contribuindo para a conservação da biodiversidade na região.

“Fizemos as escolhas baseadas em uma lista das espécies de árvores existentes na Flona. Inicialmente foram escolhidas vinte espécies prioritárias com variadas funções ecológicas: com frutos para atrair fauna, espécies ameaçadas de extinção, espécies endêmicas e também de crescimento rápido e que poderão ser usadas para recuperação de áreas no interior e entorno da unidade de conservação futuramente ”, diz a bióloga.


Foto GUILHERME GOMES

CAPACITAÇÃO PARA IDENTIFICAR ESPÉCIES EM CAMPO

A Flona de Pacotuba possui uma área de 449,44 hectares de Mata Atlântica, preservando a biodiversidade e contribuindo para a conservação de espécies silvestres do sul do Espírito Santo. Além de espécies da flora da região, a floresta guarda representantes da fauna, como a jaguatirica, o macaco bugio, a mãe-da-lua-gigante, o sapinho de chifre, entre outros.

Fotos VICTOR SARTÓRIO

No início do Programa, a equipe da Flona abriu um curso de capacitação para orientar e formar uma equipe para marcação das árvores matrizes. Foram 21 alunos capacitados, em sua maioria estudantes dos cursos das áreas ambientais da região. Durante o curso, além de assimilarem conhecimentos básicos sobre produção de sementes florestais,eles construíram de forma participativa o roteiro para trabalho de marcação de árvores matrizes, contribuindo diretamente para o avanço do programa e, posteriormente, auxiliaram na marcação e organização de um banco de dados com informações gerais das espécies, como altura, diâmetro, localização, status de conservação, entre outras características.

ESTUDOS SOBRE DESENVOLVIMENTO DAS MATRIZES FLORESTAIS

Atualmente, o Programa “Sementes da Flona de Pacotuba ” encontra-se em sua segunda fase, que consiste no acompanhamento da fenologia das espécies marcadas. Em linhas gerais, é o estudo de como a planta se desenvolve ao longo de suas diferentes fases: germinação, emergência, crescimento e desenvolvimento vegetativo, florescimento, frutificação, formação das sementes e maturação.

Os estudos fenológicos ganharam especial importância na última década devido ao seu papel relevante no manejo e conservaçãode vegetações nativas. A fenologia contribui para o entendimento da regeneração e reprodução das plantas, da organização temporal e dos recursos dentro das comunidades, das interações planta-animal e da relação da história de vida dos animais que dependem das plantas para alimentação. Também é importante para a compreensão da estrutura dos ecossistemas florestais.

Segundo a coordenadora do programa, a fase atual é de extrema importância para o futuro do programa. Com os dados obtidos até o momento, através de pesquisas na literatura e observações iniciais em campo, já existe um calendário com a previsão de frutificação de algumas espécies.

E na medida em que os estudos avançarem, será possível trabalhar com a expectativa de produção e organização do arranjo produtivo das sementes. Aline afirma que gerar dados para subsidiar a colheita de sementes florestais pode garantir parcerias de instituições, viveiros e iniciativa privada, todos juntos articulando para as sementes virarem mudas e as áreas plantadas se tornarem florestas funcionais.

DESAFIOS E OPORTUNIDADES

O desafio para a produção de sementes é enorme. Vai desde o trabalho de marcação de matrizes e capacitação de coletores até a adequação de viveiros na legislação vigente para produção de sementes florestais. Tudo isso diante de um cenário crescente de desmatamento e da necessidade de recuperação de áreas.

“Uma das primeiras perguntas que fazemos ao pensar em recuperar uma área é sobre a quantidade de mudas. Mas devemos também nos perguntar: Qual a origem das sementes que deram origem a essas mudas? Como as florestas de nossa região podem contribuir para a recuperação dessas áreas de maneira efetiva? Como podem ser manejadas de forma sustentável e oferecerem oportunidades de renda para quem as conserva em suas propriedades, por exemplo? Que oportunidades de negócios sustentáveis podemos desenvolver? Produção de mudas, sementes para artesanato, alimentos? São algumas dessas perguntas que nos motivam e precisamos cada vez mais do apoio das instituições de ensino e pesquisa e sociedade para acharmos o melhor caminho. ” afirma a bióloga Aline Lobato.

RESULTADOS POSITIVOS COM EXPERIMENTO EM LINHARES

Por Leandro Fidelis

Em outra Floresta Nacional (Flona) localizada no Estado, a de Goytacazes, &agrave,s margens da BR-101, em Linhares, áreas abertas nas décadas de 1970 e 1980 para plantios isolados de cacaueiros, hoje inexistentes, estão sendo recuperadas com espécies nativas da Mata Atlântica.

São oito áreas, totalizando 73 hectares, que receberam cerca de 150 mudas de ipês, jacarandás, sapucaias, jequitibás, embaúbas entre outras espécies em 2011. Segundo o gestor da Flona de Linhares, Leony Oliveira (foto), a iniciativa foi financiada pela Petrobras e os plantios já mostram pleno desenvolvimento.

“O resultado já é evidente, basta comparar fotos antigas e perceber o desenvolvimento nos últimos seis anos, inclusive de sub bosques com plantas maiores fazendo sombra sobre as menores ”, destaca Oliveira.

FIBRIA IMPLANTA MAIS DE 5 MIL HECTARES DE &Aacute,REAS PROTEGIDAS NO ES

Uma iniciativa desenvolvida pela Fibria vem contribuindo para ampliar a cobertura florestal nos estados em que atua, entre eles o Espírito Santo. A empresa desenvolve, desde 2010, um dos maiores programas de Restauração Ambiental conduzidos pelo setor privado no Brasil.

Nos últimos sete anos, foi realizada a implantação de mais de 20 mil hectares de áreas de restauração no país, sendo 5,6 mil hectares somente no Espírito Santo. A meta da empresa é alcançar o patamar de 40 mil hectares implantados até 2025. No Espírito Santo, até o momento foram contemplados os municípios de Aracruz, Conceição da Barra, Fundão, Jaguaré, Linhares, Montanha, Mucurici, Pinheiros, Rio Bananal, São Mateus, Serra, Sooretama e Vila Valério.

O Programa de Restauração Ambiental em terras capixabas emprega diferentes técnicas: plantio de mudas de espécies nativas, plantio consorciado de nativas com eucalipto, condução da regeneração natural, isolamento e controle de espécies exóticas e invasoras.

No Espírito Santo, foi priorizada em 2016 a metodologia da condução da regeneração natural e o volume de plantios de nativas foi menor que o previsto. Segundo a analista de Meio Ambiente Florestal da Fibria, Tathiane Sarcinelli, isso se deu em função da seca prolongada na região da Unidade Aracruz (ES, BA e MG) nos últimos dois anos.

A restauração traz inúmeros benefícios ambientais, sociais e econ&ocirc,micos. Dentre os serviços ambientais destaca-se o controle da erosão, o controle da proliferação de pragas e doenças, a regulação da disponibilidade de água e do microclima regional, a melhoria da qualidade do ar, ganhos de biodiversidade e outros benefícios para a sociedade.

Sair da versão mobile