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Pipericultura

Plantar pimenta-do-reino no tutor vivo é mais barato e ecológico

por Embrapa

em 18/04/2025 às 5h10

7 min de leitura

Plantar pimenta-do-reino no tutor vivo é mais barato e ecológico

Foto: Ronaldo Rosa

Ao usar gliricídia, espécie de árvore leguminosa, como tutor vivo para o crescimento da pimenteira-do-reino, pesquisadores confirmaram que o sistema reduz em até 46% os custos de implantação por hectare, consome metade da água usada no modelo tradicional e ainda melhora a qualidade do produto.

Esses resultados estão publicados nos mais recentes estudos conduzidos pela Embrapa que consolidam o sistema de produção sustentável de pimenta-do-reino na Amazônia, e que será apresentado na Jornada pelo Clima, na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas 2025 (COP 30), em novembro deste ano, em Belém (PA).

A técnica, chamada de “sistema de produção da pimenta-do-reino em tutor vivo”, substitui as tradicionais estacas de madeira por plantas da gliricídia, que oferece suporte à pimenteira-do-reino e, ao mesmo tempo, contribui para a fixação de nitrogênio do ar, sequestro de carbono e o enriquecimento do solo. Segundo a Embrapa, o sistema combina aumento da produtividade com práticas sustentáveis e já é adotado em diversas regiões produtoras do Pará.

O trabalho da pesquisa, realizado na região nordeste do estado do Pará, comparou o comportamento de seis clones (cultivares desenvolvidas pela pesquisa ou cultivadas pelos produtores de pimenta-do-reino) nos dois diferentes sistemas de cultivo: em estacão de madeira e em tutor vivo de gliricídia. Foram avaliadas a viabilidade econômica das lavouras irrigadas, redução de custos, eficiência do uso da água e da energia, qualidade do produto final e o impacto ambiental do cultivo nos dois sistemas.

A pimenteira-do-reino é uma planta trepadeira e precisa de um tutor para o seu crescimento. O uso de estacas de gliricídia como tutor vivo (suporte) é uma alternativa aos pipericultores devido ao baixo custo e às dificuldades de aquisição de estacão de madeira, geralmente confeccionado com espécies das chamadas “madeiras-de-lei” (acapu, maçaranduba, jarana, entre outros) que se encontram em condição de esgotamento.

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O uso do tutor vivo de gliricídia na pimenta-do-reino vem sendo adotado no Pará desde 2004, mas a expansão se deu a partir de 2014 com o aumento do preço do estacão de acapu e suas restrições legais e que causam grande impacto ambiental” conta João Paulo Both, analista da Embrapa Amazônia Oriental (PA).

O segmento produtivo, no entanto, como explica o especialista, ainda carecia de informações mais precisas sobre irrigação, espaçamento, nutrição, manejo e outros fatores de produção das cultivares de pimenteira-do-reino nesse tipo de tutor para a consolidação de um sistema de produção sustentável.

Mais economia para o produtor

Do ponto de vista econômico, o trabalho avaliou os custos de implantação de um hectare de pimenta-do-reino nos dois sistemas de produção para cada cultivar, e ainda o custo do sistema de irrigação. Um dos resultados é a redução em 46% no custo total de implantação de um hectare de pimenta-do-reino em tutor vivo de gliricídia quando comparado ao estacão de madeira (tutor morto). Para implantar um hectare de pimenta em estacão de madeira o produtor precisa desembolsar R$ 59.313,00 enquanto que um hectare em tutor vivo de glirícidia custa ao produtor R$ 32.038,00.

“O elevado preço das estacas de madeiras praticados no estado do Pará foi o principal fator para a diferença nesse custo de implantação. O preço da estaca de madeira chega a R$ 25,00 enquanto que o valor mais alto encontrado para o tutor vivo de gliricídia foi R$ 5,00 a unidade”, relata Both. Para implantar um hectare de pimenta no espaçamento de fileiras duplas (2,20m X 2,20m X 4,00m) são necessários 1.500 estacões.

Com o tutor vivo de gliricídia, os custos de implantação diminuem significativamente, permitindo que os produtores utilizem esses recursos para adotar tecnologias como a irrigação, essencial em períodos de déficit hídrico”, destaca Both.

Foto: Ronaldo Rosa

 

Custo da irrigação cai pela metade

A demanda hídrica nos dois sistemas de plantio também foi avaliada pelos pesquisadores. A pimenteira-do-reino na gliricídia demanda menos água que no estacão de madeira. Comparando o mesmo sistema de irrigação em duas linhas, o cultivo no tutor vivo consumiu cerca de quatro litros de água por planta por dia, metade da demanda observada no cultivo tradicional.

Em um cenário de mudanças climáticas com a redução de chuvas e ampliação dos períodos secos, essa diminuição na demanda hídrica sinaliza um ponto positivo de adaptação às mudanças do clima”, afirma o pesquisador da Embrapa Oriel Lemos.

A redução em mais de 50% no custo da irrigação também é um ponto positivo do cultivo em tutor vivo. Considerando o valor tarifário de energia no estado do Pará, o sistema de irrigação com a gliricídia teve custo anual de operação de cerca de R$ 1.413,50 por hectare (ha), enquanto a irrigação no sistema de tutor morto foi R$ 3.324,00/ha/ano.

Conservação de recursos florestais

A economia de água tem relação direta com os impactos ambientais do uso do tutor vivo nas lavouras. A sombra parcial da gliricídia reduz a perda de água por evaporação e a biomassa incorporada ao solo, proporciona o aumento da retenção de água e adição de matéria orgânica. “A gliricídia, que é uma leguminosa, fixa nitrogênio no solo e ajuda a melhorar suas propriedades físicas e químicas”, afirma Lemos.

O pesquisador explica que a biomassa gerada nas podas da gliricídia é utilizada como cobertura e adubação orgânica, promovendo maior retenção de nutrientes no solo e fixação de nitrogênio atmosférico. O trabalho aponta uma redução em até 30% no uso de adubos químicos nos plantios quando comparado ao sistema tradicional com tutor morto.

“Uma das importantes contribuições desse sistema também é a conservação de recursos florestais uma vez que o tutor vivo diminui a dependência de madeira comercial para os estacões e consequentemente a manutenção da biodiversidade local”, destaca o pesquisador.

Pimenta-do-reino com mais qualidade e valor de mercado

Os trabalhos avaliaram também a qualidade da pimenta-do-reino produzida em tutor vivo de gliricídia e um dos principais resultados foi a maior densidade do produto final. Both explica que a densidade do produto é uma análise fundamental para precificar a pimenta e classificá-la para exportação, já que é uma commodity. “Quanto mais pesado o grão, maior é o valor pago ao produtor”, pontua.

O Brasil utiliza três parâmetros de densidade e o uso do tutor de gliricídia apresentou efeito positivo na densidade dos frutos, com tendência a aumentar a frequência nas classes de maior densidade. “Os grãos produzidos nesse sistema são frequentemente maiores e, portanto, com maior densidade”, esclarece o analista.

Outros pontos evidenciados no trabalho são os parâmetros físico-químicos de qualidade da pimenta-do-reino, especialmente o teor de piperina. “A piperina é o composto bioativo majoritário da pimenta-do-reino e é identificada como um dos principais alcaloides responsáveis pela pungência, ou seja, o ardor do produto”, explica a pesquisadora da Embrapa.

No conjunto das seis cultivares analisadas, o teor de piperina foi cerca de 14% maior sob as condições de cultivo no tutor vivo de gliricídia em comparação ao sistema tradicional de tutor morto (estacão de madeira).

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