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Mulheres no campo: cultura e tradições na agricultura familiar

Dona Flora Milbratz, de Governador Lindemberg, trabalha há décadas com a criação de galinhas...

por Redação Conexão Safra

em 12/03/2015 às 0h00

5 min de leitura

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Dona Flora Milbratz, de Governador Lindemberg, trabalha há décadas com a criação de galinhas


As mulheres desempenham um papel muito importante no processo de desenvolvimento sociocultural e econômico no meio rural. Além de participar diretamente das atividades agrícolas ou não, elas contribuem decisivamente para a manutenção de tradições da agricultura familiar, como a criação de pequenos animais, cultivo de plantas medicinais e preservação de sementes.

De acordo com a socióloga do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), Vanessa Borges Justino, a mulher no meio rural possui importante papel na permanência de tradições da agricultura familiar. “Se considerarmos que, além dos bens materiais, outros tipos de bens, como os simbólicos, são transmitidos de uma geração a outra, verificaremos o papel crucial desempenhado pela mulher na dinâmica dessas famílias, não somente como elemento da produção ou do trabalho, mas também como guardiãs e transmissoras privilegiadas de valores e costumes ”, explicou.

Ela também disse que nas comunidades rurais, a mulher constitui o pilar da vida familiar e doméstica, cabendo-lhe diversas responsabilidades nos domínios da educação dos filhos, dos proventos da família e da gestão da vida doméstica.


Avicultura caipira: mulheres que buscam soberania alimentar e autonomia no campo

Entre as atividades agrícolas que são protagonizadas por mulheres está a criação de pequenos animais, como a galinha caipira. De acordo com a pesquisa realizada em 2010 pela médica veterinária do Incaper, Marcia Guelber Sales, em 65 famílias de agricultores familiares no Espírito Santo, um total de 122 pessoas dedicavam-se à avicultura. Desse total, 42% eram mulheres. “Em 36% das propriedades, a gestão do trabalho com avicultura envolvia mulheres e 31% era feita apenas por elas ”, disse Marcia.

Ela explicou que, embora a criação de galinhas muitas vezes ocupe toda a família, percebem-se diferentes intensidades de ocupação de gênero e geração, segundo as características do sistema de produção avícola. “Quanto mais voltada para o autoconsumo e para a geração de pequenas rendas, maior é a participação e a gestão feminina na avicultura caipira, sobretudo devido à preocupação e ao cuidado com a alimentação da família ”, disse Marcia.

A criação de aves também está relacionada às iniciativas de busca de emancipação de grupos de mulheres, através das experiências de produção comercial, das vendas diretas de excedentes em feiras livres e orgânicas ou através do emprego dos ovos e carne de frango nas agroindústrias de pequeno porte de panificação e massas, como macarrão e capelete.

De acordo com a agricultora de Vila Valério, Irene Hertel, que começou a criação de galinhas em 2008, a avicultura é uma atividade que proporcionou a diversificação de atividades na propriedade rural. “Nossa família só mexia com café. Mas eu queria uma atividade que desse renda toda semana. Por isso, iniciei a criação de galinhas e o plantio da horta. E sou eu que trabalho com essas atividades na propriedade da família ”, contou Irene. A agricultora possui cerca de 500 galinhas. A carne e os ovos são vendidos na feira do município, o que proporciona um retorno semanal de renda.

Irene afirmou que a criação de galinhas proporcionou a ela independência financeira. “Desde que comecei a criar galinhas adquiri independência financeira. Não preciso mais pedir dinheiro para o marido para cortar o cabelo, por exemplo. Claro que o dinheiro é para a família toda. Mas quem tem esse controle sou eu ”, disse Irene.

Para a agricultora de Governador Lindenberg, Flora Milbratz, de 71 anos, a criação de galinhas faz parte da sua vida na roça. “Sempre tive criações de galinha. Cheguei a ter 250. Hoje tenho cerca de 130. Nunca comprei ovos e nem carne de galinha no supermercado. Sempre tenho para colocar na mesa da família. Os meus cinco filhos sempre me pedem ”, falou Flora.

Ela disse que as mulheres têm um grande cuidado com as criações no meio rural. “Eu me dedico mesmo à atividade. Sou apaixonada pelo que faço. Converso com as galinhas, também é uma forma de passar o tempo. Meus filhos costumam dizer que eu fico muito presa em casa por causa das criações. Mas o que eu faria sem elas na roça? ”, comentou Flora.


Criações saudáveis

As mulheres no meio rural contribuem bastante para garantir a qualidade dos alimentos. “Podemos considerar que as mulheres, em seu trabalho silencioso, são as que melhor podem cuidar da qualidade dos alimentos que consumimos, pois o papel primordial da avicultura caipira é a produção do autoconsumo e de excedentes para a comercialização a uma população que cada vez mais demanda frangos e ovos saudáveis e produzidos de forma mais natural ”, afirmou a veterinária Marcia Guelber Sales.

Para as mulheres e pessoas idosas, a ocupação na avicultura pode significar uma oportunidade de agregar valor aos produtos da propriedade, através de sua transformação em carne e ovos para a produção de fartura na mesa e de renda para a família.


Ações de incentivo à avicultura caipira

O Incaper tem incentivado a criação de galinhas caipiras nas unidades de produção familiar. Para isso, realizou o I Encontro Capixaba de Avicultura Caipira, em Cachoeiro de Itapemirim, em 2014. Além disso, por meio do projeto “Um novo olhar sobre os sistemas tradicionais: inovação e socialização de tecnologias para a transição agroecológica da produção animal ”, aprovado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo (Fapes) em 2014, será feito o resgate e incentivo às formas tradicionais de manejo da avicultura caipira, com vistas à produção sustentável e agroecológica. Também será implantado um Núcleo de criação da galinha caipira naturalizada e um Laboratório de Bioinsumos e homeopatia na Fazenda Experimental do Incaper de Linhares. A previsão é de haja a capacitação de 20 técnicos, 200 agricultores e 120 estudantes em avicultura e apicultura agroecológica através de cursos, palestras e estágios.


Fonte: Incaper




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