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Marataízes: a pérola capixaba do abacaxi

por Redação Conexão Safra

em 10/02/2015 às 0h00

8 min de leitura

Marataízes: a pérola capixaba do abacaxi

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Os produtores do município estimam uma colheita de mais de 50 milhões de pés de frutos durante o período de safra, que começou no fim de agosto e termina no mês de dezembro

Alissandra Mendes

O abacaxi transformou o município de Marataízes na ‘Pérola Capixaba’ e o fruto hoje, é o responsável por 70% da renda da cidade do litoral sul do Espírito Santo. O cultivo começou na localidade de Jacarandá e foi descoberto pelos primeiros habitantes, que logo começaram a comercializar o fruto, que seguia de trem para Cachoeiro de Itapemirim.

O fruto é tão importante na cidade que ganhou uma festa, que já faz parte do calendário oficial de eventos do município, e acontece ano a ano para celebrar o início da safra, que começa no mês de agosto e segue até o mês de dezembro. O abacaxi ‘pérola’ é comercializado para o Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

De acordo com dados da Associação de Produtores de Abacaxi de Marataízes (Aspama), a estimativa é que neste ano a safra seja de mais de 50 milhões de pés do fruto. “Esse ano está muito bom para todos os produtores e a safra está dando para atender o mercado ”, comentou o presidente Adriano Silva.

A Aspama tem hoje em torno de 2.150 associados, beneficiando mais de seis mil famílias, e compreende os municípios de Marataízes e Itapemirim. “O município de Marataízes arrecada mais de R$ 100 milhões por ano com o abacaxi. O fruto movimenta mais a economia do que os turistas, que visitam nossas praias ”, explicou Adriano.

O abacaxi está saindo das propriedades no valor de R$ 1,50. “Tivemos prejuízo no ano passado, pois a produção foi muito grande e não teve o mercado suficiente e com isso, muitos produtores amargaram um prejuízo. Nesse ano, o mercado está tão bom que muitos estão antecipando a colheita e a expectativa é muito boa em torno das vendas ”, afirmou o presidente.

A Associação foi criada em 2007 com o objetivo de auxiliar os produtores da região. “Oferecemos cursos aos produtores, principalmente sobre técnicas de segurança para evitar acidentes durante a colheita e elaboramos um jingle ‘abacaxi de Marataízes’, que já ficou conhecido por onde passam os carros com o som. Além disso, criamos a Festa do Abacaxi, para festejar a colheita e onde os produtores podem expor e vender seus produtos ”, ressaltou.

Legenda 01: Alissandra Mendes
Adriano Silva é o presidente da Associação de Produtores de Abacaxi de Marataízes e está no segundo mandato


Colheita só uma vez no ano

A polpa do abacaxi de Marataízes tem duas características: amarelada ou amarelo-pálida, ou massa amarela e massa branca, por isso, é chamado de pérola. O sabor é doce e ideal no preparo de: doces, sorvetes, balas, tortas, bolos, sucos ou, simplesmente, saborear o fruto.

Mas, o que ninguém imagina é o trabalho para plantar e cultivar o fruto. “Geralmente, o plantio começa em fevereiro e seis meses depois, começa a colheita, que só acontece uma vez por ano. Depois, os pés são retirados para começar um novo plantio no ano seguinte. O custo do produtor com cada pé de abacaxi é de R$ 0,78, além do aluguel das terras, que na grande maioria, são arrendadas ”, explicou Adriano.

Ele também é produtor e contou que começou na atividade ainda criança com o pai. “Eu nunca imaginei fazer dinheiro com o abacaxi. Hoje, tudo que tenho veio do cultivo do fruto. Tento ensinar aos meus filhos tudo que aprendi com meu pai. O abacaxi é a principal fonte de renda da minha família. É uma atividade difícil, como todas as outras atividades rurais, mas compensa ”, disse.

Há quatro anos, Adriano esteve visitando uma propriedade no Pará, o maior estado produtor do abacaxi ‘pérola’ do Brasil, e trouxe inovações e experiências para compartilhas com os produtores de Marataízes. Uma delas é cobrir o fruto antes da colheita com jornal para evitar a queima solar do fruto ou a escaldadura.

Esse é um problema no fruto decorrente da exposição anormal de uma de suas partes à ação dos raios do sol. Ocorre no período próximo da colheita, quando o abacaxi se torna mais sensível e é mais intensa quando o fruto tomba para um lado. Isso pode causar perdas de até 70% na produção. Desta forma, é necessário que os frutos sejam protegidos nessas épocas.

“Cobrindo o fruto com o jornal conseguir diminuir e muito esse problema e deu certo. A ideia foi passada para todos os produtores e hoje, quase todos usam esse método antes da colheita. Outro fator é evitar colher o abacaxi antes da hora, pois assim, conseguimos deixá-lo com menos acidez ”, completou Adriano.

Legenda 02: Alissandra Mendes
Marataízes é o maior produtor de abacaxi da variedade ‘pérola’ do Espírito Santo e o quarto maior do Brasil


Cuidados com a plantação têm que respeitar a segurança

O controle químico, pelo uso de agrotóxicos, é uma das medidas de controle de pragas e doenças. Antes de utilizar agrotóxicos na lavoura, o produtor deve consultar um profissional habilitado, pois ele indicará outros métodos de controle de pragas e doenças, de forma a evitar ou reduzir o uso de agrotóxico, o que é bom para o ambiente, para o produtor e também para o consumidor.

“O fruto é lavado com água e agrotóxico cinco vezes, a última é feita 100 dias antes da colheita. Não existe o risco de contaminação, mas o produtor deve adotar algumas medidas de segurança, como: usar roupas adequadas, botas, avental, luvas impermeáveis, e o mais importante, máscara ou respirador ”, explicou o presidente da Aspama.

O uso correto de agrotóxicos implica em conhecer o produto, sua forma de utilização, os equipamentos de proteção individual, o pulverizador, o modo de preparo da calda e de limpeza do equipamento após o uso, o descarte das embalagens e os primeiros socorros.

Legenda 03: Alissandra Mendes
O produtor deve usar os equipamentos de proteção individual ao fazer a aplicação de agrotóxicos na plantação




Abacaxi ‘pérola’

Suas plantas possuem hábito de crescimento ereto, folhas com espinhos e pedúnculo longo. Os frutos têm forma cônica, a polpa é branca, suculenta e pouca ácida. Têm boas características organolépticas, sendo os mais apreciados para o consumo in natura, porém sendo menos adequados para a indústria. Possuem certa toler&acirc,ncia a cochonilha e alta susceptibilidade a fusariose.

A planta possui porte médio e crescimento ereto, é vigorosa, com folhas com cerca de 65 cm de comprimento e espinhos nos bordos. O pedúnculo do fruto é longo (em torno de 30 cm). Produz muitas mudas (5 a 15) presos ao pedúnculo, próximos da base do fruto, o qual apresenta forma cônica, casca amarelada (quando maduro), polpa branca, sucosa, com sólidos solúveis, sendo agradável ao paladar. O fruto pesa de 1,0 kg a 1,5 kg, possui coroa grande e tem sido pouco utilizado para a exportação in natura e industrialização sob forma de rodelas. Apresenta toler&acirc,ncia à murcha associada à cochonilha Dysmicoccus brevipes e é suscetível à fusariose, doença causada pelo fungo Fusarium subglutinans.


“Não sei o que faria sem o abacaxi ”

Há mais de 50 anos na atividade, o produtor de abacaxi Antônio Deolindo, 71 anos, está próximo de se aposentar e disse que não sabe o que irá fazer longe da produção do fruto, que se tornou a principal fonte de renda de sua família. “Vivo para produzir o abacaxi. É trabalhoso, mas tenho prazer em fazer o que faço ”, comentou.

Mas, nem sempre o abacaxi fez parte da vida do produtor. “Eu era pedreiro. Ganhava pouco, o suficiente para sustentar minha família. Conheci o abacaxi e vi que poderia ganhar mais e dar uma vida melhor para minha esposa e meus filhos. Arrendei a terra e passei a plantar e colher. Hoje, vendo minha produção para Minas Gerais e Rio de Janeiro ”, explicou Antônio.

Neste ano, ele plantou 30 mil pés de abacaxi. “Sou um pequeno produtor. Toco a propriedade com a ajuda de um dos meus filhos e quando a roça está boa, me deixa com um lucro bom. Produzir o abacaxi é correr risco de ter uma safra boa em um ano e outra ruim no ano seguinte. O produtor não pode desanimar ”, afirmou.

“Sou muito satisfeito na atividade. Plantar e colher o fruto do abacaxi é uma arte. Nunca me arrependi de ter trocado de atividade, fiz o que era para ser feito em minha vida ”, completou Antônio.

Legenda 04: Alissandra Mendes
O produtor Antônio Deolindo, de 71 anos, trabalha há 50 anos plantando e colhendo abacaxi, em Marataízes



Venda direta garante maior lucratividade aos agricultores

Kátia Quedevez

Muitos produtores de abacaxi atuam nas duas pontas da cadeia produtiva: eles participam desde o plantio até a comercialização do fruto.

Encontramos o produtor Sebastião Romário de Oliveira vendendo abacaxi em Guaçuí, município da Região do Caparaó. Como muitos produtores do litoral, ele percorre o estado para comercializar o produto diretamente para o consumidor, sem a interferência de intermediários.

“Sou produtor da localidade de Lagoa Dantas, em Marataízes, mas a venda em outros municípios é mais vantajosa. A gente planta e vende para o lucro ser maior. Trazemos o produto diretamente para os consumidores. O abacaxi na nossa vida é herança de família. Herdei do meu avô, meu pai continuou o plantio e nós, que somos a terceira geração, mantivemos a atividade ”, disse Romário.

Legenda 05: Kátia Quedevez






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