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Mandioca vira alternativa no período de estiagem

por Redação Conexão Safra

em 04/11/2015 às 0h00

8 min de leitura

Mandioca vira alternativa no período de estiagem

O longo período de estiagem provocou alguns problemas para os produtores rurais, principalmente, os de leite. Com o pasto seco e o alto custo da ração, muitos tiveram que buscar alternativas para driblar o momento e conseguir produzir mais num período de baixa produção, e gastar pouco. Sim, é possível!

Os produtores de Cachoeiro de Itapemirim, Fabiano Carvalho de Rezende Filho e Marcos Zanivan encontraram na mandioca o que precisavam para suprir a alimentação das vacas com baixo custo e garantir aumento na produção de leite nos últimos dois meses, quando já não tinham outra fonte de comida para o gado.

A mandioca possui boas propriedades nutritivas e apresenta vantagens quando utilizada na alimentação das vacas. Ela substitui fontes de alimentos energéticos, tradicionalmente usados na alimentação animal. Além da raiz, a rama pode ser usada como fonte de energia e de proteína. O tubérculo é rico em vitamina A, C e do complexo B, e também tem boa concentração de minerais.

Com uma propriedade de 24 hectares dedicados ao leite, no Sítio Três Irmãos, localidade de São Simão, próximo à área urbana de Cachoeiro de Itapemirim, eles estão juntos na atividade desde março deste ano. Os produtores são associados da Cooperativa de Laticínios Selita, e recebem o acompanhamento do consultor tecnológico da Coopttec/Sebrae-ES, o zootecnista Rafael Rodrigues Duarte.

A ideia de introduzir mandioca na alimentação do gado veio através de outro produtor, que adotou o tubérculo na alimentação do gado. “Nos juntamos em sociedade em março, já no início do período de seca, e não tivemos tempo de nos prepararmos. Um colega nosso, também produtor, começou a alimentar o gado com a mandioca. Conversei com o técnico que nos acompanha para saber se poderíamos trazer a ideia para a nossa realidade, e ele disse que era um bom negócio ”, comenta Fabiano.

Fabiano é produtor de café e Marcos é funcionário público de Cachoeiro de Itapemirim. Eles começaram sem grandes perspectivas, mas esperam tornar o leite a principal fonte de renda das duas famílias. “Sabíamos que o início seria difícil, pois teríamos que investir
e o retorno iria demorar. Mas, a mandioca mudou isso. O custo é baixo e tivemos um aumento significativo na produção ”, disse Marcos.

O resultado dos produtores foi imediato. A produção evoluiu de 130 litros/dia em julho para 210 litros/dia em setembro, e por vaca de 12 litros/dia para 17.5 litros/dia no mesmo período, a partir do momento que passaram a usar a mandioca na alimentação. “Tínhamos outras fontes de alimentação, mas quando foi acabando tivemos que buscar alternativas. Dávamos soja e agora damos caroço de algodão. No momento, não estamos visando muito o lucro, porque o custo com alimentação é alto. Nosso lucro está nas vacas que estão ciclando, bonitas e reproduzindo ”, ressalta Fabiano.

“A tendência é que o leite seja a nossa principal fonte de renda. Estamos juntos há sete meses e já pegamos um período de seca. Além disso, tivemos problemas com lagartas. Estamos buscando melhorar sempre. Aumentamos a área de cana e estamos reformando
a área que estava ruim. Nosso problema hoje é que não temos água para irrigar ”, explica Marcos.

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Trabalho conjunto

Por falta de mão de obra, Fabiano ficou sem produzir leite durante muito tempo, até ter Marcos como sócio. Hoje, Marcos e a esposa, Marineuza Guioto Zanivan cuidam da produção. A ordenha é feita duas vezes por dia. Uma pela manhã e a outra no início da noite. “Isso aqui para mim é um hobby. Gosto demais de tirar leite. O Fabiano tinha a área, mas não tinha a mão de obra. Eu sou a mão de obra que não tinha área ”, frisa Marcos.

A mandioca foi essencial para a produção que eles têm hoje. O gado está em dia com a reprodução, com a condição corporal e produção de leite. “Não esperava produzir tanto e tão rápido. Não tenho a experiência do Marcos. Ele sabe o que está fazendo e gosta do que faz. Temos gado bom, mas com essa seca toda não esperava essa produção ”, completa Fabiano.

“A principal causa do aumento da produção é a mandioca. Hoje, 7% do custo da aliment ação vem dela e é muito baixo. ”

Os cuidados com o curral começam antes mesmo da ordenha. Marineuza é a responsável por deixar o local completamente limpo e em condições de produzir um leite com qualidade. A ordenha é mecânica e o leite é colocado em um tanque de expansão da propriedade, onde fica
armazenado até ser levado pelo caminhão tanque para a Cooperativa.

Desde o primeiro dia mandando leite para a Selita, os produtores estiveram preocupados com a qualidade e o leite é A desde então. Eles estão no programa Mais Leite, uma parceria da Selita com o Sebrae-ES e a Coopttec, que visa aumentar a rentabilidade do produtor, aumentando a produção de leite e auxiliando na gestão dos custos.

Diferencial é a mandioca


O zootecnista Rafael Rodrigues Duarte explica que a mandioca foi o grande diferencial na alimentação (ela) a responsável pelo aumento da produção. “Eles compraram a mandioca a R$ 0,15 o quilo in natura. O Fabiano ficou um tempo parado e não se programou para produzir comida. Eles estão sócios desde março, que já era final das águas e não tinha como fazer planejamento. A fonte de energia barata hoje é a mandioca e resolvemos testar. Alimentando com a mandioca conseguimos deixar o pasto descansar, e poupamos principalmente os piquetes,
que é a parte rotativa ”, comenta.

Segundo Rafael, quando acabar a mandioca o gado vai buscar a fonte de energia no pasto. “A mandioca é de baixíssimo teor de proteína e é fonte de energia. A qualidade do amido da mandioca é melhor que o amido do milho. Cerca de 2,5 quilos de mandioca equivalem a um quilo de fubá. Eles misturaram com ração comercial e capineira picada, que também pode ser cana ”, explica o zootecnista.




“A principal causa do aumento da produção é a mandioca. Hoje, 7% do custo da alimentação vem dela. O custo é muito baixo. A cana é fonte de fibra e energia e a mandioca de energia. A mandioca complementa a exigência de energia da vaca ”, frisa. Além da raiz, a parte de cima da mandioca, a rama, pode ser usada como silo, fornecida seca ou então innatura.

Na região sul, os produtores de mandioca estão concentrados em Presidente Kennedy, Itapemirim e Marataízes. O zootecnista disse que cerca de 15% dos produtores desses municípios já usaram o tubérculo na alimentação do gado.

“Os produtores pensam que tecnologia é colocar uma ordenhadeira mecânica ou peças feitas industrialmente na produção. Tecnologia é procurar conhecimento, por exemplo, a mandioca. Ela já é usada há muitos anos no Nordeste do país na alimentação de gado de leite e de corte. Por lá, é uma cultura comum. Fomos buscando alimentos alternativos para reduzir custos do produtor, que trabalha comuma margem baixa, e a mandioca é uma alternativa. Ela tem um amidomelhor que o do milho, com custo bem mais baixo. Com certeza ela é uma das saídas para diminuir os custos de produção ”, completa Rafael.





Informações

– a mandioca é uma raiz com alto valor energético (cada 100 gramas possui 150 calorias)
– possui sais minerais (cálcio, ferro e fósforo) e vitaminas do completo B
– possui uma casca fina na cor marrom, sendo que a parte interna é branca
– de janeiro a julho ocorre o período de safra da mandioca
– ela possui nomes diferentes em regiões do Brasil: macaxeira, aipim, castelinha, macamba, etc.
– a mandioca-brava é uma espécie que possui uma toxina e não deve ser consumida sem deixar o produto descansar.
– a farinha de mandioca é muito utilizada na culinária brasileira. A tapioca é produzida com a farinha de mandioca
– o polvilho também é produzido a partir da mandioca.

Mandioca

A mandioca é a terceira maior fonte de carboidratos (amilopectina e a amilose), e é um dos principais alimentos básicos no mundo. O Brasil ocupa a segunda posição na produção mundial, com 12,7% no total. O país possui aproximadamente dois milhões de hectares, com produção de 23 milhões de toneladas de raízes frescas da mandioca.

O Brasil é a terra natal da mandioca. Daqui, o tubérculo se espalhou por mais de 100 países. Sua importância era tanta nos tempos de colônia que o Padre José de Anchieta (canonizado São José de Anchieta em abril de 2014), a batizou como o ‘pão da terra’.


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