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Hepatite B lidera número de casos no Espírito Santo; saiba como se prevenir

por Assessoria de imprensa Ales

em 17/07/2022 às 13h42

9 min de leitura

Foto: arquivo/Agência Brasil

Dos 175 casos de hepatites virais registrados entre 1º de janeiro e 23 de junho deste ano no Espírito Santo, 122 são do tipo B (HBV), o que corresponde a quase 70% das notificações no estado. Apesar de não ter cura, a hepatite B pode ser prevenida.

A transmissão da doença ocorre por meio do sangue, saliva e fluidos genitais; por isso, é considerada uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST). Estudo que avaliou 587 portadores crônicos de HBV acompanhados no Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes (Hucam) aponta que a transmissão vertical e intrafamiliar é a principal responsável pelos casos registrados no Espírito Santo.

A médica e professora do Departamento de Clínica Médica da Ufes Tânia Queiroz Reuter Motta, uma das autoras da pesquisa, explica sobre essa forma de transmissão. “A doença é passada da mãe para o filho durante a gravidez ou no parto. Essa é uma das principais razões para o Espírito Santo apresentar mais casos de hepatite B do que os outros estados. Aqui temos cerca de três vezes mais do que a prevalência nacional da doença, que é de 0,5% da população”, afirma.

Por isso, o pré-natal seguro ajuda a mitigar o problema. “Antes, não era obrigatório testar a grávida para HIV, hepatites B e C, sífilis. Agora o teste é feito no primeiro e no último trimestre da gestação para evitar a contaminação vertical”, destaca.

O estudo mostrou, ainda, que o genótipo A do vírus da hepatite B é o mais prevalente no estado. O genótipo é uma variante viral, sendo o tipo A encontrado com mais frequência no norte da Europa, América do Norte e África Subsaariana. A prevalência do genótipo A no Espírito Santo “pode ser resultado da população africana trazida durante o período colonial da escravidão (século XVI) e da população de imigrantes europeus, principalmente italianos (no século 19 e início do século 20)”, aponta o artigo.

Os microssistemas propícios à contaminação, com muita aglomeração de pessoas e compartilhamento de agulhas – como a população em situação de rua, usuários de drogas e apenados – também colaboram para a transmissibilidade.

O vírus HBV é potencialmente mais infeccioso que os da hepatite C e do HIV, mas pode ser evitado especialmente por meio da vacinação, uso de preservativo nas relações sexuais e não compartilhamento de seringas, agulhas, material de manicure e pedicure, além de outros instrumentos perfurocortantes ou objetos de higiene pessoal que possam ser meios de disseminação da doença.

Evolução

Na maioria das vezes o próprio sistema imunológico combate espontaneamente a infecção causada pela hepatite B até seis meses após o início dos sintomas, que podem se manifestar por meio de cansaço, enjoo, febre baixa e dor abdominal. Quando isso não ocorre, a infecção é considerada crônica e não tem cura, sendo possível apenas o controle por medicação via oral, uma vez por dia, durante toda a vida.

Com o tratamento, a qualidade de vida do paciente fica preservada. “Não é necessária nenhuma restrição. A pessoa vive normalmente. Só não pode fazer uso abusivo do álcool, mas isso é uma recomendação para a população em geral. O álcool é um acelerador da doença”, observa Tânia Reuter.

Vale destacar que nem todo mundo precisa de tratamento farmacológico para a hepatite B. A médica explica que, em cerca de 2% dos casos, a doença regride espontaneamente: “Há também as pessoas que têm o vírus, mas a doença não evolui. São portadores com a doença inativa. Nessa situação, o portador do vírus só faz atendimento ambulatorial e consulta semestral.”

A indicação de tomar ou não a medicação levará em conta a carga viral, a atividade inflamatória e o grau de fibrose no fígado. A cada consulta a necessidade de medicação é reavaliada com base nesses três fatores.

A falta de tratamento, por outro lado, gera graves consequências e a doença pode progredir para cirrose hepática (ainda que a pessoa não consuma álcool) ou para o câncer de fígado.

Vacina contra a hepatite B

A vacinação é a melhor forma de prevenção contra a hepatite B. Conforme informações disponibilizadas no site do Ministério da Saúde, o imunizante é aplicado em três doses. A primeira é logo após o nascimento. A segunda com 1 mês de vida e a terceira aos 6 meses. A pessoa fica, assim, protegida para o resto da vida, sem necessidade de dose de reforço. Para os adultos que não se vacinaram na infância, são três doses com intervalo de 30 dias entre a primeira e a segunda dose e de 180 dias entre a primeira e a terceira dose.

Hepatite

A hepatite é a inflamação do fígado que pode ser causada por vírus, mas também por uso de alguns remédios, álcool ou drogas, assim como por doenças autoimunes, metabólicas e até genéticas. As hepatites virais podem ser causadas pelos vírus A, B, C, D (Delta) e E.

Conforme dados da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), entre os anos de 1999 e 2021, foram confirmados 16.333 casos de hepatites virais no Espírito Santo. Uma média de 742 registros ao ano. Desses, 2.653 (16%) foram causados pelo vírus da hepatite A, 8.852 casos (54%) pelo vírus da hepatite B e outros 4.828 (30%) pelo vírus da hepatite C.

Entre 1999 e 2021, o estado não teve casos de hepatites D e E. O motivo, conforme a Sesa, é que “a hepatite Delta não é endêmica no estado e não tivemos casos com confirmação sorológica nesse período. Houve casos esporádicos de hepatite E no Brasil até meados da década de 90 (nenhum no Espírito Santo)”.

Sintomas

Uma das características mais marcantes da pessoa com hepatite é a icterícia, que consiste no amarelamento da pele e dos olhos. Outros sintomas comuns são mal-estar, náuseas e vômitos, urina escura e fezes esbranquiçadas.


Entretanto, nem sempre as hepatites apresentam sintomas. Por isso, são doenças com alto risco de evolução. Podem, inclusive, tornar-se crônicas, gerando danos mais graves ao fígado como cirrose e câncer.

A Sesa alerta que a chance de progressão para insuficiência hepática é maior em indivíduos imunossuprimidos e em pessoas com doença prévia do fígado.

Por isso, é importante ir ao médico regularmente e fazer os exames de rotina. A doença pode ser detectada por meio de testes rápidos para os tipos B e C, disponíveis no sistema público de saúde. Já a hepatite A é uma doença diagnosticada pelo exame anti-HAV IgM, realizado em sangue obtido por punção venosa.

Veja onde fazer testes de hepatites B e C, sífilis e HIV no Espírito Santo

Tratamento

A hepatite A é uma doença aguda e seu tratamento se baseia em dieta e repouso. A melhora costuma acontecer em algumas semanas. Após a contaminação, a pessoa adquire imunidade e não terá uma nova infecção.

Como as hepatites B e D não têm cura, devem ser controladas com medicação. Diferente da hepatite B, que deve ser controlada por medicação oral diária pelo resto da vida, a hepatite D é tratada com remédio aplicado semanalmente durante um ano.

Já a hepatite C é tratada com medicamento por via oral durante 12 semanas e tem uma chance de cura de 95%.

Formas de transmissão

A hepatite D é transmitida da mesma forma que a B. Já o tipo C tem como principal meio de infecção o contato sanguíneo. Assim como ocorre no caso da hepatite B, é possível também – porém com menos frequência – a contaminação durante a gravidez e parto pelos vírus C e D. Trata-se da chamada contaminação vertical.

As hepatites A e E, por sua vez, têm suas causas diretamente relacionadas às condições de saneamento básico e de higiene. A contaminação é fecal-oral, ou seja, acontece por meio de água ou alimentos contaminados.

Cabe ressaltar que a transmissão por meio de transfusão de sangue ou hemoderivados é atualmente considerada rara em razão da melhoria das tecnologias de triagem de doadores e sistemas de controle de qualidade mais eficientes.

Campanha

Ao longo deste mês, em razão da campanha Julho Amarelo, de conscientização sobre as hepatites virais, a Sesa prestará apoio aos municípios participando de fóruns de capacitação de profissionais de saúde e incentivando campanhas de testagem rápida da população, bem como distribuição de materiais educativos e preservativos.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estabeleceu 28 de julho como Dia Mundial de Luta contra as Hepatites Virais, mesma data definida no calendário oficial para marcar a luta contra a doença no Espírito Santo.

Prevenção

A vacina é uma forma de prevenção contra as hepatites do tipo A e B. Vale destacar que quem se vacina para o tipo B se protege também da hepatite D. As vacinas estão disponíveis gratuitamente no SUS. Para os demais tipos de vírus não há vacina.

O imunizante contra hepatite A é oferecido no esquema de uma dose para crianças de 15 meses a 5 anos incompletos (4 anos, 11 meses e 29 dias). Além disso, a vacina está disponível nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (Crie), no esquema de duas doses – com intervalo mínimo de 6 meses – para pessoas acima de 1 ano de idade com determinadas condições de saúde, como quem vive com HIV ou com doença que reduz a imunidade.

Tânia Reuter ressalta que o Espírito Santo, junto com Amazonas e Paraná, foi pioneiro na vacinação contra a hepatite. “Começamos a vacinar cerca de 1 ano antes do restante do país”. A razão, explica, é que os três estados lideravam os casos da doença. A médica destaca, ainda, a eficácia da vacina. “Ela é altamente eficaz, da ordem de 99,7%.”

Segundo dados da Sesa, a cobertura vacinal em 2021 atingiu 77,79% para a proteção Penta (que imuniza contra hepatite B, difteria, tétano, coqueluche e Haemophilus influenzae) e 75,31% de imunização contra a Hepatite A.

Onde buscar ajuda

A Sesa orienta que pessoas com casos não graves devem buscar tratamento nas unidades básicas de saúde. Casos mais severos, com apresentação vômitos persistentes, dor abdominal intensa, coloração amarelada de pele e mucosas, febre por mais de três dias, tontura, falta de ar e sonolência, são direcionados aos pronto atendimentos.

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