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Evair Vieira de Melo, presidente do Incaper

Ele se tornou referência de inovação em qualidade de café arábica no sul do estado no final dos anos 90 e hoje, à frente da instituição, colhe bons frutos. (Com informações de Luiza Fecarotta / Folha de São Paulo)

por Redação Conexão Safra

em 31/01/2014 às 0h00

7 min de leitura

Evair Vieira de Melo, presidente do Incaper

Filho de agricultor, Evair Vieira de Melo nasceu em Conceição do Castelo, no sul capixaba, em abril de 1972. Conheceu energia elétrica aos 15 anos. Falou ao telefone pela primeira vez aos 18. Nem sequer viu a Copa de 82, a de 86 ouviu pelo rádio.

Hoje, é um dos provadores de café mais respeitados do Brasil e o único juiz que vai, todos os anos, avaliar os grãos mais caros do mundo na Indonésia – o kopi luwak.

Há cem anos, sua família trabalha no cafezal. Seu avô materno ainda é vivo. Tem 92 anos e é analfabeto, “”só saber ler carta de baralho e nota de dinheiro””.

Quando jovem, Evair estudava à noite, depois de caminhar seis quilômetros, com a mochila nas costas, seis para ir, seis para voltar. Pagou a faculdade de administração com pães e biscoitos que sua mãe fazia e ele vendia.


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Curiosamente, a vida de Evair é marcada por casualidades. “É a mão de Deus sobre a minha vida, não tem outra explicação e sou muito grato por isso ”.
Em 1997, ganhou uns trocados para encher o tanque da Brasília de seu pai e se mandou para uma festa de agricultores em Castelo. Foi se esconder da chuva em uma barraca e esbarrou, acidentalmente, num sujeito que viera de São Paulo para dar cursos de qualidade de café na região, Odilon Americano Rodrigues Alves.

“Um amigo da minha família me convidou para acompanhar o Sr. Odilon nos cursos e eu topei.
Foram
17 cursos em toda a região. A partir do 15º curso eu mesmo já ministrava os encontros e assim, casualmente, virei instrutor do Senar ”, explica Evair. Começava assim sua caminhada no mundo do café.


“Eu tinha ouvido falar que o provador de café era o cara. Com o incentivo do sr. Odilon parti em busca de informação.
Estudei e pratiquei muito e tive a sorte de ter um talento diferenciado para isso. Isso aconteceu eu 97, numa época em que as provas de café eram feitas a portas fechadas, apenas dentro do Centro de Comércio do Café. Foi tudo muito intenso e rápido. Participei da mudança de tudo o que envolvia informação sobre o negócio do café e de repente, virei referência de inovação no estado, concedendo entrevistas para veículos de comunicação, uma verdadeira revolução ”, comenta Evair.

“Nessa mesma época, nem sabia nem de quem se tratava, mas fui anfitrião do fotógrafo Sebastião Salgado, num ensaio de cafezais brasileiros, que me rendeu 45 dias de viagem. Uma experiência que marcou a minha vida ”, diz. Vale lembrar que Sebastião Salgado é um fotógrafo brasileiro reconhecido mundialmente, que já publicou 10 livros. Suas exposições foram realizadas em cerca de 50 países.

Evair recebeu vários convites e se transferiu para o sul de Minas Gerais, para o município de
Carmo do Rio Claro. Ele foi “cavucar ” o que de bom se podia extrair de cafés da Zona da Mata, de péssima fama, na época.

Retornou para Venda Nova do Imigrante pouco tempo depois, em 98. Montou o Centro de classificação e degustação de café. Deu consultorias, e ganhou o mundo. Passou a publicar artigos científicos, participar de provas no Brasil e no exterior, tornando-se um dos principais degustadores de café do Brasil.
Estudou análise sensorial de água, de fruta, de arroz, de chá, de vinho, de perfume, de carro! E ainda hoje, mesmo à frente do Incaper (Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural
) participa de provas profissionais de café em que, em um dia, chega a avaliar 1.200 xícaras. “”Precisa ter equilíbrio emocional e estar bem fisicamente em dia de prova””, relata.

Mas no auge de todo o movimento sobre qualidade de arábica entre os produtores rurais , em 1999, Evair encaminhou duas amostras do café de uma propriedade de Brejetuba e outra de Manhuaçu, no leste de Minas, para uma grande empresa italiana compradora de café. Eles alegaram que não compravam café do Espírito Santo e nem da zona da mata mineira porque consideravam que as regiões não apresentavam bebida de boa qualidade, apenas conilon e bebida dura. “Com muita insistência e perseverança insisti para que provassem as amostras. Seis meses depois entraram em contato conosco para formalizar a primeira compra.
A partir daí não pararam mais de comprar nossos produtos,
ao mesmo tempo em que o Espírito Santo intensificou os programas de qualidade do café capixaba. Valeu a pena insistir ”, conta Evair.

Evair costuma dizer que a novidade do café arábica no Espírito Santo nos últimos 20 anos causou uma verdadeira revolução social no interior. Surgiu uma vasta cadeia em busca pela qualidade e isso se refletiu na aquisição de equipamentos de alto desempenho, desenvolvimento de associações e cooperativas, concursos de qualidade de café, surgimento de cafeterias.

E justifica, “ninguém falava de café de qualidade, bebida fina, café gourmet e de repente, com a busca pela qualidade, e um vasto programa de orientação aos produtores, injetou-se no mercado capixaba mais de 100 milhões de reais por ano. Isso é o maior programa de política social que o governo poderia fazer. De distribuição de renda, e renda imediata e descentralizada, porque se pagando mais pelo café, mais dinheiro circula no interior, e em todos os municípios. Veja o exemplo de Brejetuba, por exemplo. Pode-se considerar um aumento de circulação de 40 milhões de reais apenas em uma safra. Isso é dinheiro que passa a circular no comércio e gera emprego e renda para o município. Ficamos muitos anos no interior perdendo renda, em todas as culturas. E trabalhar a qualidade é a saída para o ganho real do produtor ”.

Toda a experiência positiva do arábica está sendo aplicada ao conilon. O estado está passando por um grande programa de qualidade do cultivo. Em 2009 essa trajetória foi iniciada com a realização das campanhas. Evair relata que mais uma vez, que quando ninguém falava em qualidade de conilon, o Incaper incentivava os produtores a desenvolver suas lavouras com altos padrões de qualidade. “O que parecia absurdo passou a ser uma realidade, demos um tratamento diferenciado ao conilon, debatemos, discutimos, fizemos escola de degustação, concursos e demos a ele um tratamento aquilo o que de melhor ele tinha. Estamos lançando este ano, em junho, duas novas qualidades de café conilon, as duas primeiras variedades lançadas no mundo em que o sensorial também foi critério para a seleção.



Evair Vieira de Melo nasceu em Conceição do Castelo, no dia 02 de abril de 1972. É casado com Lícia Caliman e pai de dois filhos, Arthur (06) e Sarah (04). Graduado em Administração de Empresas pela Faculdade de Ciências Contábeis e Administrativas de Cachoeiro de Itapemirim (Facacci) e técnico agrícola formado pelo Ifes, campus Alegre. Pós-graduado em cafeicultura pela Universidade Federal de Lavras (MG) e pós-graduando em gestão de projetos pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Foi secretário de Agricultura de Venda Nova do Imigrante por dois mandatos e diretor técnico da Cooperativa dos Cafeicultores das Montanhas do Espírito Santo (Pronova). É diretor-presidente do Incaper desde abril de 2009.

Ele é consultor das associações americana, européia e japonesa de Cafés Especiais. Coordenou o
Prêmio de Qualidade de Cafés Especiais &ndash, arábica e robusta &ndash, da Indonésia e diversos concursos de qualidade de cafés em Minas Gerais, Paraná, Bahia, além do Prêmio de Qualidade de Café das Montanhas do Espírito Santo, entre outros como o Conilon em são Gabriel da Palha.


Incaper

A assistência técnica e extensão rural são temas considerados de extrema relev&acirc,ncia para o desenvolvimento da agricultura nacional. No Espírito Santo, o órgão governamental responsável pelos serviços no setor rural é o Incaper, o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural.

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