pube
Geral

Cultivos que valem ouro

por Redação Conexão Safra

em 15/04/2016 às 0h00

15 min de leitura

Cultivos que valem ouro

Gengibre, caca u e pimenta-do-reino se destacam na geração de divisas do agronegócio ca pixaba e mostram que a diversifica ção pode ser sinônimo de riqueza

As oscilações de preço e o mercado tradicional inflacionado costumam premiar alguns produtos agrícolas como recordistas da cotação nos principais postos de abastecimento do país. Em um dos casos de maior repercussão, em 2014, o Brasil viu o tomate valer “ouro ” para, em março deste ano, amargar a primeira colocação entre os alimentos com a maior redução de preços (21,22%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- IBGE).

No Espírito Santo, pelo menos três produtos vêm mantendo bons preços e animando os produtores. É o caso do gengibre, do cacau e da pimenta-do-reino. Enquanto os primeiros contribuíram em 2015 para o Produto Interno Bruto- PIB estadual, a pimenta-do-reino é uma
das atividades agrícolas de maior rentabilidade e tornou o Estado o segundo produtor e exportador nacional. No ano passado, o preço do quilo atingiu a faixa dos R$ 30.

A pimenta-do-reino continua sendo um dos principais destaques positivos da pauta de exportações capixaba. De acordo com Aureliano Nogueira da Costa, gerente de Agroecologia e Produção Vegetal da Secretaria de Estado da Agricultura- Seag, o produto seguiu
aproveitando o bom momento do dólar e o aumento do preço médio internacional. Na contramão do que foi observado em outros produtos, a pimenta-do-reino registrou sucessivas altas no preço médio internacional (de US$ 8,24, em 2014, para US$ 9,13 o quilo, em 2015).

No ano passado, as exportações de pimenta-do-reino geraram uma receita cambial de US$ 108 milhões, um expressivo aumento de 46,8% em relação ao valor exportado em 2014. O volume das exportações também cresceu significativamente: um aumento de 32,5%, com comercialização de 11,8 mil toneladas em 2015.

Na terceira colocação entre os produtos da pauta de exportações, o gengibre ocupa um espaço importante na diversificação de culturas da região serrana. O Estado é o maior produtor e exportador nacional da raiz, com um produto reconhecido nacional e internacionalmente
pelo excelente padrão comercial. O maior polo de produção fica nos municípios de Santa Maria de Jetibá e Santa Leopoldina. A região montanhosa, com altitude média de 600 metros, é retalhada por pequenos sítios onde o café se destaca como a cultura mais importante.


Segundo o coordenador do polo de gengibre, João Paulo Ramos, extensionista do Instituto Capixaba de Assistência Técnica, Pesquisa e Extensão Rural- Incaper, no ano passado mais de mil produtores colheram cerca de 10 mil toneladas. O mercado interno absorve 20%, e o restante vai para a Europa e Estados Unidos. Mais recentemente, os produtores de Santa Leopoldina procuraram o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas- Sebrae/ES com o objetivo de conseguir apoio para o fomento e desenvolvimento da atividade.




ALTERNATIVA PARA MANTER BOM PREÇO DO CACAU

O cacau também é destaque na cadeia produtiva capixaba, mas as exportações da sua amêndoa e dos produtos derivados apresentaram redução tanto em volume quanto em divisas em 2015, segundo a Seag. No ano passado, foram exportadas 3,9 mil toneladas contra
5 mil toneladas em 2014. A receita cambial obtida com as exportações do produto também caiu, de US$ 26,8 milhões, em 2014, para US$ 20,7 milhões, em 2015.

As plantações de cacau ocupam cerca de 23 mil hectares com produção aproximada de 4.600 toneladas por ano. O maior produtor é o município de Linhares, que concentra perto de 90% da área total. De acordo com o Incaper, a atividade cacaueira está presente em 48 município de norte a sul do Estado.

Agregar valor para aumentar o lucro e promover a redenção da cacauicultura capixaba estão entre as metas dos produtores para colocar a fruta na ponta da cadeia produtiva. A devastação das plantações pela doença vassoura de bruxa, há 15 anos, provocou um espírito de união entre os produtores, fortalecendo
a atividade. Assim, surgiram a Associação dos Cacauicultores de Linhares- Acal, com importante papel político na região, e, mais recentemente, a Cooperativa dos Produtores de Cacau do Estado do Espírito Santo- Coopercau.

Segundo o presidente da Coopercau, Emir de Macedo Gomes Filho, a diretoria da Nestlé se reuniu com a cooperativa e demonstrou interesse em comprar toda a produção da Coopercau, prestar assistência técnica e ainda pagar prêmio por qualidade aos cooperados. “Eu já estou fazendo chocolate com minhas próprias
amêndoas. Acredito que o caminho para o lucro passa pela agregação de valor ao produto. Nosso objetivo é transformar as fazendas de cacau em fazendas de chocolate ”, afirma.

Outra boa notícia é o apoio da Prefeitura de Linhares, que vai doar um terreno para a construção da sede da cooperativa. “Estamos avançando e fazendo progressos. ”

Na região sul capixaba, o cacau já está sendo uma nova alternativa de receita, mas, para Emir, falta apoio dos governantes. “Eu acredito que, com determinação dos produtores e apoio do poder público, podemos colocar a cacauicultura no patamar de onde nunca deveríamos ter saído, novamente como produto tipo exportação, gerando riqueza, empregando e preservando o meio ambiente ”, finaliza o produtor.

Para Emir, o preço médio atual da saca, R$ 630, embora satisfatório, ainda não é suficiente para cobrir os investimentos depois da vassoura de bruxa, entre eles o sistema SAF, em consórcio com a seringueira. E com a pior seca dos últimos 40 anos no Estado, a quebra de produção foi grande, mas as expectativas são boas.
“Os especialistas dizem que até 2020 teremos um déficit de 1 milhão de toneladas. Quem atravessar a crise
sobreviver vai ganhar dinheiro mais adiante ”, anima-se. A safra principal começa em setembro.

O cacau mantém o preço da saca satisfa tório, mas ainda não é suficiente para os produtores cobrirem os investimentos demandados pela varredura da vassoura de bruxa

Delimitação das áreas com cacau

Técnicos da Comissão Executiva da Lavoura Cacaueira- Ceplac, Gerência de Desenvolvimento da Região Cacaueira no Espírito Santo- Geres e do Incaper e o Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Espírito Santo- Geobases vão delimitar as áreas de cultivo de cacau na forma de cabruca, sistemas agroflorestais e de áreas pouco sombreadas no Estado.

Mesmo que no Espirito Santo ocorram espécies nativas em situações de cabruca com alta heterogeneidade em estrutura, segundo o gerente da Ceplac no Estado, Francisco Neto, a concentração do território em cultivos de cacau e o histórico de acompanhamento dessas lavouras pela instituição vem conferir aos seus técnicos, estabelecidos por décadas na região de Linhares, um domínio de experiência que os faculta identificar a localização das lavouras de forma especialmente assertiva por observações de fotos aéreas e imagens orbitais.

Segundo o diretor presidente do Incaper, Wanderley Stuhr, essa capacidade cognitiva dos servidores da Ceplac é muito valorizada neste trabalho, notadamente nas situações em que as fotos apresentam áreas de lavouras com um padrão pouco perceptível por usuários que detém pouca experiência no assunto.


Os técnicos envolvidos enfatizam que, com os dados na interface geográfica do Geobases, serão evitados gastos com atividades de levantamento, cadastro e de manutenção de banco de dados geoespacializados no assunto, pois as informações serão tratadas em uma única base geoespacial dentro do Sistema Integrado,
que é flexível a receber aprimoramentos na linha do tempo.

Para o analista de geoprocessamento, Fernando Soares de Oliveira, da Unidade Central de Gestão do Geobases, a localização geográfica dessa cultura poderá ser compartilhada via uma Interface geográfica a ser acessada no Geobases.


Negócio &lsquo,apimentado&rsquo, em São Mateus

pube

Quem imaginava que um dos motivos que levaram ao descobrimento do Brasil, há mais de 500 anos, tornaria o Espírito Santo o segundo em produção e exportação do país? Nos últimos anos, a pimenta-do-reino se consolidou como uma opção de diversificação agrícola no norte do Estado e alcançou o mercado internacional com preços sempre em alta, animando produtores e empresários do setor.

Também conhecida como pimenta-da-&Iacute,ndia, a pimenta-do-reino vem de uma planta trepadeira, originária daquele país, sendo a mais comum e importante das especiarias. Nos séculos 15 e 16, ela motivou viagens entre Europa e &Aacute,sia para sua importação pelos europeus, entre elas, a comandada por Pedro &Aacute,lvares Cabral, que desembarcou no Brasil, em 1500. Na Roma antiga, o produto chegou a ser empregado em certas ocasiões como moeda.

E parece que a prática se reflete entre os descendentes de imigrantes italianos estabelecidos aqui há mais de 120 anos. Eles estão entre os maiores produtores de São Mateus, município que mais produz no Brasil. O município já corresponde à 50% da produção capixaba e concentra mais de 65% da área cultivada.

“A transação é rápida. Coloco a pimenta no saco para vender o dinheiro já está no bolso ”, diz o pipericultor Leonidas Stelzer Zanelato, do distrito de Nestor Gomes, a 40 km do centro de São Mateus.

O presidente da Cooperativa dos Produtores da Bacia do Cricaré- Coopbac,
fundada em 2005, Erasmo Carlos Negris explica que isso acontece devido ao dinamismo do mercado da pimenta-do-reino. “A liquidez é rápida. Colhe-se e vende-se praticamente ao mesmo tempo ”, destaca.

A pimenta-do-reino vem se consolidando como o terceiro produto de exportação do agronegócio estadual. Em fevereiro deste ano, a cooperativa realizou suas primeiras exportações de pimenta-do-reino. Um contêiner foi vendido para o mercado europeu e outro, para a &Aacute,frica, num total de 41 toneladas do produto. A
diretoria da Coopbac não divulgou o valor da transação comercial.

Segundo Negris, a perseverança dos cooperados e a necessidade de vender diretamente no mercado externo resultou na busca pelo nicho comercial de exportação.

“O crescimento das lavouras no norte do Estado permitiram um estoque regulador inédito no ano passado, por isso tivemos condições de fornecer produto ao mercado externo. A cooperativa está pensando no amanhã, em trazer estabilidade para os seus cooperados. A confiança deles na condução dos negócios
pela diretoria é fundamental nesse processo, de total aprendizado ”, ressalta o presidente da Coopbac.

A cooperativa já negocia a venda do terceiro contêiner. “Com a Coopbac, é possível dizer: sou exportador de pimenta-do-reino porque eu sou a cooperativa. O produtor está sentindo a diferença de fazer parte disso ”, destaca.


Qualidade

Negris e outros 165 cooperados estão focados na qualidade e devem colher 500 toneladas na próxima safra, o equivalente a 10% da produção mateense. Para identificar uma pimenta-do-reino de qualidade, basta verificar se ela está branca ou clara por dentro. Nessa condição, ela conserva todos os seus óleos, e é garantia de um bom condimento e um fantástico conservante natural.

Nessa busca pela qualidade, a tecnologia aplicada ao conilon e a estrutura física usual dessa cafeicultura dão suporte para otimizar a produção de pimenta-do-reino. É o caso dos terreiros de cimento ou suspenso com sombrite para secar os grãos.

também o uso do secador de fornalha indireta, que tira o contato do produto com a fumaça. A opção por essa via acompanha a tendência do mercado, em especial o europeu. “A Coopbac quer que os cooperados encampem essa ideia para todos manterem a qualidade do produto. ”

Negris é uma liderança no distrito de Nestor Gomes, onde mais de 300 famílias de seis assentamentos rurais mantém milhares de pés de pimenta-do-reino em produção. A área aumentou em quase 60% de 2014 para 2015, crescimento já verificado este ano.

A vantagem está nos plantios que dispensam grandes espaços e facilmente adaptáveis em pequenas propriedades, o que favorece a inclusão produtiva, econômica e social das famílias do campo. De cultivo bastante manual, o papel feminino é de extrema import&acirc,ncia na pipericultura, uma vez que são mais cuidadosas ao selecionar e colher as sementes nos pés.





Variedades mais produtivas nas lavouras

A opção por variedades mais produtivas e resistentes a doenças estão fazendo a diferença nos cultivos de pimenta-do-reino de São Mateus, no norte do Estado. Os produtores apostam no conhecimento prático e nos resultados de pesquisas para introduzirem espécies que garantam menores gastos menores e colheitas mais fartas.

Ao lado da Cingapura e da Bragantina, as mais comuns, vem mostrando excelentes resultados a Kottanadan do Broto Roxo. Os plantios foram iniciados há cerca de três anos e se destacam pelas plantas de porte médio e pela alta produtividade, além da produção precoce, com cachos surgindo a partir dos seis meses. No último ano, ganhou força a Kattanadan do Broto Branco, fruto de uma pesquisa do Comitê Gestor da Pimenta-do-Reino através de edital da Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo- Fapes. Enquanto a variedade do Broto Roxo produz um quilo de pimenta seca no pé, a mais recente pode chegar até a dois quilos. “É praticamente um carro de Fórmula 1 entre as variedades de pimenta-do-reino ”, compara Erasmo Negris, presidente da Coopbac.

Os irmãos José Cleber (54) e Leonidas Stelzer Zanelato, de 45 anos, dedicaram uma área de uma das propriedades, às margens da BR-381 no trecho entre São Mateus e Nova Venécia, para a novidade. Eles e outros dois irmãos cultivam quase 100% dos 12 alqueires de terra da família divididos entre pimenta-do-reino e café conilon. Só de pimenta são 50 mil pés, a maioria da variedade Bragantina.

Para Leonidas, a quantidade de cachos da Kattanadan de Broto Branco é surpreendente e chama a atenção a cobertura quase completa da planta sobre as estacas de eucalipto usadas no cultivo. “A única preocupação ainda é o estresse hídrico, que causa o aborto dos cachos ”, diz o produtor, sócio-fundador da Coopbac.


A questão climática ainda é o grande gargalo da pipericultura, avalia o presidente da cooperativa, Erasmo Negris. Cultura típica de clima quente e úmido, a pimenta-do-reino se desenvolve bem em altitudes de até 500 metros, temperatura média entre 23&ordm,C e 38&ordm,C e umidade relativa entre 70% e 88%. Embora o clima
e o solo sejam favoráveis, a longa estiagem compromete a irrigação.

Os produtores apostam no conhecimento prático e nas últimas pesquisas para introduzirem espécies que garantam gastos menores e colheitas mais fartas

Cooperativismo fortalece negócio familiar

A exemplo de muitos pipericultores, os irmãos Leonidas e José Cleber Zanelato viveram os altos e baixos da atividade mais tradicional de São Mateus. Eles afirmam que a conquista de melhores preços (atualmente entre R$ 20 e R$ 25) e a independência em relação aos atravessadores só foi possível com a cooperação. “O cooperativismo está no nosso sangue ”, afirma Leonidas, diretor operacional da Coopbac.

outros três filhos do casal Evanize Stelzer (67) e Ignácio Zanelato, falecido há três anos, são todos técnico-agrícolas de formação. Para ele, isso facilitou o ingresso no cooperativismo. “Se tornar cooperativista fica mais fácil para profissionais com nossa experiência, diferente de quem não tem esse conhecimento ”, disse o produtor.

A família participou da cooperativa Veneza e hoje, por meio da Coopbac, adquire insumos a custo mais baixo e vende toda sua produção de pimenta-do-reino. Em 2015, os produtores chegaram a comercializar o quilo a R$ 30. Mas essa história de sucesso não foi assim no início.

De acordo com Erasmo Negris, presidente da Coopbac, há cinco anos o valor do quilo era de R$ 5 e encontrar parcerias parecia missão impossível. “Já teve ocasião de propormos a meeiros secar pimenta e dividir o lucro e ainda assim eles não toparem, tamanha a falta de perspectiva com o produto ”, afirma.

E quando o negócio dá certo, são comuns a especulação e o surgimento de aventureiros. No entanto, o produtor Leonidas Zanelato destaca o alto investimento e a tradição que a cultura da pimenta-do- -reino demanda. “Não é atividade para aventureiros. A pimenta é uma incógnita, mas se não fosse ela, estaríamos falidos ”, diz.

Há 50 anos no lido com as lavouras de pimenta-do-reino, a matriarca Evanilze Stelzer faz uma comparação curiosa. “No início dos plantios, era igual cuidar de um jardim, mas numa proporção maior. ” A agricultora engrossa o coro dos filhos, que consideram o produto o novo “ouro ” do norte. “Se não fosse a pimenta, não sei como seriam nossas vidas. ”

Ranking da pimenta-do-reino

Produção mundial – O Vietnã é o maior produtor mundial, seguido por Indonésia, &Iacute,ndia e Brasil.

Produção nacional –
Destacam-se como produtores os Estados do Pará, Espírito Santo e Bahia. Em média, o Brasil produz 40 mil toneladas de pimenta- do-reino por ano, quase 90% colhidas no Pará.

Maiores consumidores
– Os maiores consumidores da pimenta-do-reino brasileira são os Estados Unidos e a União Europeia.



Clique aqui e receba as principais notícias do dia no seu WhatsApp e fique por dentro do que acontece no agronegócio!