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Concurso de qualidade de café

Concurso de qualidade de café abrem novas oportunidades para produtores da região, Nos últimos 200 anos, o agricultor aperfeiçoou o plantio

por Redação Conexão Safra

em 27/02/2015 às 0h00

7 min de leitura

Concurso de qualidade de café abrem novas oportunidades para produtores da região

Nos últimos 200 anos, o agricultor aperfeiçoou o plantio de café pelas montanhas da região. Estudos sobre a terra, novas metodologias para plantar e colher garantiram uma tecnologia única, que inclusive é exportada para outros países. Mas, os longos anos de tradição na produção cafeeira não despertaram no cafeicultor as “malícias ” comerciais do setor.
Em sua grande maioria, as “fazendas ” produtoras do café de montanha no Entorno do Caparaó são compostas por famílias de pequenos produtores, em áreas onde o cultivo cobre em média entre cinco e sete hectares. E esse negócio de família foi culturalmente enraizado em formato “jibóia ”, ou seja, o trabalho gera receita em grande volume por cerca de três a quatro meses, obrigando cafeicultor a gerenciar esta receita nos oito meses seguintes.
Assim como a jibóia passa um longo período digerindo a sua presa, o cafeicultor cuida carinhosamente do cafezal durante meses para assegurar uma boa colheita no ano seguinte. São dias e dias labutando sobre um sol ardente e severo, mas que garantem pés de café verdes, fortes e saudáveis. Segurança de bons frutos e bom mercado.
Longe dos plantações o café tornou-se commodity. Ganhou as mesas do mundo com seus blends, qualifications, unique flavors and specials quality. Passou a movimentar um mercado bilionário, porém que puniu parte mais sensível de toda a cadeia, o produtor. Enquanto o produtor ainda ama o cultivar, o café agora é “businness, is money ”.
Nos dois últimos anos esse cenário ficou ainda mais evidente para o produtor regional. Em 2013, diante da grande oferta do grão, a desvalorização do produto chegou ao extrema realidade não cobrir o custo de sua produção. Em 2014, sob os efeitos do El nino, o pouco volume de chuvas influenciou a qualidade da safra. O mercado agora tem preço, o cafeicultor não tem o produto. Um ciclo severo, que mergulhou o produtor em dívidas. Segundo levantamento do CNA e Ministério da Agricultura em dezembro de 2013 o valor da dívida superava os R$ 180 milhões.
Qual a saída?
A resposta parece estar vindo la do alto da serra, da serra do Caparaó, lá no alto no Ninho da Águia. Se o café virou businnes, porque não fazer com busine
,s ,s um bom café?
A virada de mesa do café de montanha começou com o paulista Claytom Barossa Monteiro. Clayton deixou de lado a agitação do mercado da capital paulista para ajudar a família do interior de Minas a cultivar café. Habituado as rotinas do mercado moderno, o cultivo tradicional do café regado a muito trabalho e pouco dinheiro assustou. Porém, como o próprio costuma contar, o que mais trouxe espanto foi a hora de consumir o café na mesa, pois o produtor vendia o melhor café e consumia o café ruim.
Ao inverter esse conceito, Clayton começou a desbravar um novo caminho para a cafeicultura regional. Afim de obter um produto de maior qualidade para consumo próprio, ele buscou aprimorar o tratamento dos grãos em pequenas quantidades, o resultado começou a chamar a atenção dos técnicos da Emater-MG que o convidaram para participar de um concurso de qualidade. A primeira experiência não rendeu frutos, mas grandes aprendizados.
No ano seguinte, ele corrigiu todos os erros cometidos na experiência anterior e não parou mais de evoluir, após conquistar um dos primeiros lugares no concurso estadual de qualidade um novo mercado se abriu, o mercado dos cafés especiais. E o trabalho não parou por aí, nos últimos quatro anos a fazenda Ninho da Águia vem disputando concurso por todo o Brasil, expondo a qualidade do café das montanhas do Caparaó, qualidade reconhecida a poucos dias como o Melhor Café do Brasil. Título conquistado no último dia 18 de setembro durante a Feira Internacional do Café, em Belo Horizonte.
Os bons resultados obtidos pela Ninho da Águia inspiraram os demais produtores de Alto Caparaó e o Governo local tratou de incentivar a iniciativa promovendo o 1º Concurso de Qualidade de Café de Alto Caparaó.
A surpresa com o número de participantes só não foi maior do que a surpresa com as notas obtidas no concurso. Ao todo 56 produtores inscreveram-se para concorrer em um concurso organizado com muito rigor e altíssimo nível de avaliação. Contando com dois dos maiores avaliadores de café do mundo, assegurando resultados inquestionáveis.
Apesar das últimas conquistas Clayton destaca que as recentes conquistas atraíram as atenções para região e a realização de concursos regionais são um passo importante para novas oportunidades. “A gente faz um trabalho buscando valorizar o produto da região inteira. Não adianta ter um ou dois produtores fortes e a região não ter força. Então, fazer esse concurso é a melhor maneira de demonstrar que existem vários cafés de qualidade na região. Principalmente para o pequeno produtor agregar valor ao seu café, ter preços melhores, fazer negócios melhores e ter sucesso com a sua lavoura ” destaca o Clayton.
Em uma escala de avaliação onde 70 é muito bom, 80 é excelente e 90 excepcional, os oito finalistas provaram que melhor café do Brasil parece realmente morar em Alto Caparaó. Todos os finalistas obtiveram avaliação acima de 80 pontos, ou seja cafés especiais e de altíssima qualidade.
Como produzir café especial?
Alexandre Nascimento, produtor, apreciador de cafés especiais e proprietário da cafeteria Cacau Bandeira, explica que diferentemente do que muitos produtores pensam, o mercado de cafés especiais não espera 20, 30, 50 sacas de café especial, classificado com mais de 80 pontos. Muito pelo contrário, o mercado especializado, principalmente as cafeterias buscam por microlotes de cafés com sabores exclusivos.
Um café com avaliação acima de 90 pontos por exemplo, é considerado raro e o valor do quilo desse café no mercado pode passar de R$ 140,00. Esses cafés são comprados através de leilões, onde os compradores geralmente são as cafeterias especializadas. Os vencedores do 10º Concurso de Qualidade dos Cafés de Minas Gerais, edição 2013, promovido pela Emater, chegaram a vender a saca de café por mais de R$ 1.5 mil (um mil e quinhentos reais).
Café Ninho da Águia, o melhor café do Brasil
Alexandre Nascimento da Cacau Bandeira, apreciador e comerciante de cafés especiais
A visibilidade proporcionada pelos concursos
Um antigo jargão do marketing diz, “quem não é visto, não é lembrado ”. E nada melhor para dar visibilidade ao café das montanhas, que os concursos de qualidade.
Os especialistas do mercado de cafés especiais estão cada vez mais presentes nesses eventos para buscar contato com os produtores, buscando fornecedores de grãos de alta qualidade. E não apenas o vencedor dos concursos são contemplados, mas sim todos os participantes. Os concursos de cafés trazem acima de tudo, uma oportunidade para fazer negócios, aproximar do comprador em potencial, exibir a qualidade dos cafés e porque não atrair investidores.
“Os concursos regionais de qualidade de café, vêm valorizar o produtor, a qualidade do café da região, mostrar acima de tudo que a região produz cafés de excelente. E principalmente, mostrar para o próprio produtor que o café dele é excelente ” destaca o gerente regional da Emater-MG R&ocirc,mulo Mathozinho.
Mathorzinho alerta ainda, que o produtor não deve desistir após a primeira participação, sendo ela vencedora ou não. Os resultados de um concurso demonstrarão onde e como o produto pode ser melhorado. “O concurso de qualidade de café é apenas o ponto de partida, pois vamos usar o resultado desse concurso obtido esse ano para orientar esses cafeicultores que participaram, o que conseguiram onde erraram, para não cometer no próximo ano e virem com um produto ainda melhor ” ressaltou Mathozinho.
O Gerente da Emater alertou ao produtor para que fique atento aos concursos municipais, pois eles são muito importantes e funcionam como uma seletiva para concurso regional que será realizado no fim de novembro em Manhuaçu. “A Emater promove um concurso regional que envolve 24 municípios, onde os vencedores desse concurso com final em novembro, concorreram também no prêmio estadual de qualidade do café ”.
Por Ana Priscila , do site Minas Notícias

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