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Cultivar produtos agrícolas com práticas sustentáveis, respeitando o meio ambiente e de forma justa e economicamente viável é um desafio ao setor agrícola. Entretanto, para os produtores e trabalhadores rurais integrantes do sistema Fairtrade (Comércio Justo), esses são assuntos básicos e necessários para a produção de cafés, laranja, cacau e tantos outros.
E cada vez mais em evidência em todo o mundo, ações de mitigação aos impactos climáticos na produção agrícola têm sido estimuladas, principalmente este ano, em que o Brasil recebe a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, a COP30.
Assuntos que serão debatidos na COP30, que será em novembro, na cidade de Belém, no Pará, já são praticados por produtores (as) e trabalhadores (as) do Comércio Justo em todo o mundo, incluindo o Brasil. Atualmente, cerca de 10 mil famílias de pequenos(as) produtores(as) e trabalhadores(as) agrícolas que cultivam café, laranja, mel, castanha de caju, limão, manga, mamão, uva, soja, ervas finas e especiarias – em 47 associações e cooperativas de pequenos produtores e em fazendas integrantes do Comércio Justo – recebem os benefícios do Fairtrade, e têm na essência da produção agrícola os cuidados com o meio ambiente.
E para divulgar o Comércio Justo e quais são os benefícios para os produtores e consumidores, anualmente são promovidas uma série de atividades nos países produtores, como o Brasil, e nos principais países consumidores, em sua maioria integrantes do continente europeu.
Um exemplo ocorre anualmente em maio, durante o Mês do Comércio Justo, que este ano teve como tema: “Sou Agente de Transformação Fairtrade”. A intenção é entrelaçar diversas ações realizadas durante a campanha a atividades promovidas pelas Organizações de Pequenos Produtores (OPPs), com apoio da Associação das Organizações de Produtores Fairtrade do Brasil (BRFAIR) e da Coordenadora Latino-americana e do Caribe de Pequenos (as) Produtores (as) e Trabalhadores (as) de Comércio Justo (CLAC).
Ampliação de mercado – Gestora de mercado da CLAC no Brasil e responsável pelo projeto “Mercado Sul-Sul”, Débora Rabelo destacou ações voltadas a fortalecer o comércio Faitrade na América Latina e no Caribe e gerar negócios aos produtores membros da CLAC, seja em mercados locais ou regionais.
“A intenção é fomentar esse selo no mercado e mostrar ao consumidor a importância de se consumir um produto dentro dos padrões Fairtrade. São produtos de qualidade, com responsabilidade social e ambiental e que permitem que as famílias produtoras vivam de forma digna em suas propriedades”, enfatizou.
Débora informou que a CLAC e a BRFAIR estão desenvolvendo uma série de ações para apoiar as OPPs certificadas como treinamento e aberturas de mercados. “Estamos fazendo campanhas em supermercados para mostrar ao consumidor a qualidade dos produtos e tudo que ele carrega, todos os atributos envolvidos. Estamos ampliando esse mercado no país, inclusive com plataformas importantes e que podem ser um canal de distribuição importante”, contou.
Entre os atributos atrelados a esses produtos, Débora Rabelo ressaltou as questões sociais e ambientais. “Os produtos certificados Fairtrade carregam uma responsabilidade muito grande, pois tudo é produzido dentro de padrões de responsabilidades ambientais internacionais. Então, quando eu consumo um produto Fairtrade, eu estou contribuindo com os produtores a realizarem ações para mitigar as crises climáticas, por exemplo”, detalhou a representante da CLAC.
Parte do valor pago a esses produtos Fairtrade são direcionados às OPPs para realizarem junto aos seus produtores e nas comunidades, ações sociais e ambientais. Outra campanha em andamento é o “Pratique Fairtrade”, voltada para que o consumidor entenda que ele consumido esses produtos, ele está também contribuindo para que os produtores tenham uma vida mais digna e consigam manter em suas propriedades práticas ambientais.
Cidades e universidades são referência em Comércio Justo
Outro exemplo de iniciativa que visa fortalecer o Fairtrade no Brasil é o projeto “Cidades Latino-Americanas pelo Comércio Justo”. No país, quatro cidades brasileiras têm esse título: Boa Esperança, Poço Fundo e Santana da Vargem, em Minas Gerais; e Muqui, no Espírito Santo. A cidade mineira de Nova Resende está no processo de reconhecimento.
Já a Universidade Federal de Lavras (UFLA) e a Universidade Federal de Viçosa (UFV), ambas de Minas Gerais, são reconhecidas, no Brasil, como “Universidades pelo Comércio Justo”. O reconhecimento existe em diversos países da América Latina e Caribe desde 2015. No Brasil, as ações contam com o apoio da BRFAIR, em parceria com a CLAC.
Durante o ano, e principalmente durante o Mês do Comércio Justo – que anualmente ocorre em maio – são realizadas degustações de café, ações sociais, ambientais e de conscientizações quanto aos benefícios do Fairtrade.
Na Cooperativa de Cafeicultores do Sul do Estado do Espirito Santo (Cafesul), que fica no município de Muqui, a gerente administrativa e agende de desenvolvimento humano da organização, Natércia Bueno Vencioneck Rodrigues, destaca a transformação ocorrida nas propriedades e na cidade após a cooperativa ser certificada Fairtrade e também com o reconhecimento de Cidade Latino-Americana pelo Comércio Justo.
“Como todo o trabalho do Comércio Justo é sustentado pelo tripé de sustentabilidade, que integra o social, econômico e ambiental, as necessidades vão sendo atendidas, seja junto aos cooperados e também nas comunidades”, informou. Natércia destacou que a Cafesul é reconhecida no município com ações promovidas durante todo o ano.
Um exemplo foi durante o Mês do Comércio Justo, quando as ações foram ainda mais intensificadas. Uma das atividades foi a participação à campanha “Faça Bonito”, em prol da proteção das crianças e adolescentes. “Muitas de nossas ações são realizadas em parcerias com entidades no município, como as que atendem idosos e crianças e moradores menos favorecidos e, com o prêmio que é pago pelo consumidor que compra os produtos certificados, conseguirmos promover ações o ano inteiro”, enfatizou.
Estudantes – Em Boa Esperança (MG), a Cooperativa Dos Costas realizou esse ano uma caminhada ao redor do lago da cidade, com o objetivo de mostrar a força e os benefícios do Comércio Justo. Ainda foi servido um café da manhã com produtos locais, aferição de pressão e outras atividades para a comunidade.
Eliana Reis, coordenadora do Comitê Gestor do Comércio Justo de Boa Esperança e representante da cooperativa Dos Costas, destacou que o município foi reconhecido como Cidade pelo Comércio Justo em 2017. Segundo ela, desde então foi iniciado um trabalho com estudantes de escolas públicas, por meio do projeto “Da Escola a Natureza Praticando o Comércio Justo”.
“Anualmente atendemos 350 crianças e adolescentes de escolas públicas do município, com um trabalho de conscientização e valorização dos produtos locais, sobre a preservação da natureza e sobre o consumo de produtos orgânicos. Desde que iniciamos esse projeto, o Comércio Justo cresceu muito na cidade. Atualmente a Cooperativa Dos Costas possui 263 produtores certificados Fairtrade, todos conscientes sobre as práticas do Comércio Justo”, destacou.
Após fortalecer as diretrizes do Fairtrade entre os produtores, o Comitê Gestor resolveu fortalecer o Comércio Justo com ações voltadas à população do município. “Precisamos dos consumidores apoiando e comprando os produtos locais. Assim, os produtores terão uma renda maior e a economia local gira. Em 2022 criamos o selo do Comércio Justo, pois muitos comerciantes gostariam de participar do movimento. É preciso cumprir 10 critérios, baseado no Fairtrade, para ter o selo. Atualmente 12 comércios participam, pois cumprem uma série de regras ambientais, sociais e econômicas”, explicou Eliana.
Em Santana da Vargem, o Comércio Justo chegou em 2003, quando a Cooperativa de Pequenos Agricultores de Santana da Vargem (Coopasv) ainda era uma associação. De lá para cá, muitas transformações ocorreram por meio do Fairtrade, como explica a gerente geral da cooperativa, Beatriz de Souza Pereira, a Bia.
“Antes os agricultores eram meeiros e arrendatários, e hoje são proprietários de terra, cultivando e vendendo os seus cafés Fairtrade para o mundo. Realizamos inúmeras ações, entre elas algumas voltadas à educação, em que trazendo os estudantes para dentro da cooperativa para eles conhecerem o nosso trabalho. Também fomentamos associações de recicláveis e de feirantes. Fazemos ainda ações na comunidade, mostrando os benefícios do Comércio Justo para os produtores e para a sociedade”, disse ela.
O que é o Fairtrade (Comércio Justo)
O Comércio Justo é um movimento social e econômico, cujas experiências pioneiras datam do final de 1940 como respostas alternativas ao modelo de comércio convencional. Visando promover relações comerciais mais justas, contribuir para a melhoria das condições de vida e trabalho de produtores e trabalhadores, e conscientizar sobre o papel do consumidor na escolha por produtos certificados, o Fairtrade é um sistema de garantia que assegura o cumprimento dos critérios pré-estabelecidos pelo movimento.
A Fairtrade International (FI) é uma organização internacional que engloba diversos agentes envolvidos e define as normas para todo o sistema. As organizações de produtores, os exportadores e os importadores são monitorados e certificados. Os produtos resultantes desse sistema recebem a marca “Fairtrade”.
A CLAC e BRFAIR são instituições que representam e apoiam as organizações certificadas, tendo como amplitude de atuação a América Latina e Caribe, e Brasil respectivamente.




