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Felipe Masid

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A Cafeicultura Fluminense e seus Cafés mais que especiais…

por Felipe Masid

em 19/11/2023 às 14h29

6 min de leitura

A Cafeicultura Fluminense e seus Cafés mais que especiais…

O mercado consumidor fluminense desconhece a qualidade dos produtos cultivados e beneficiados no Estado do Rio de Janeiro. É uma prática bem comum percebermos as pessoas à nossa volta valorizando produtos produzidos em outros estados, talvez pelo seu pioneirismo na divulgação de seus produtos e difusão no mercado interno, ou pela falta da divulgação dos nossos, porém, o Estado produz excelentes Cafés especiais, doces de frutas, cachaças, chocolates artesanais, queijos e outros produtos.

Aqui o foco será nos Cafés Especiais 100% arábica, que vem ganhando destaque e reconhecimento no mercado nacional e internacional, sendo cultivados principalmente na Região Noroeste do Estado, que há algumas décadas vem aumentando seus cafezais nos relevos e nas pastagens degradadas daquela região, com destaque para municípios de Varre Sai e Porciúncula. Atualmente, aproximadamente 80% do café produzido no Estado é da Região Noroeste.

 

Essa visibilidade começou a ser alcançada pela promoção dos Concursos de Cafés Especiais do Estado do Rio de Janeiro nos anos de 2018 e 2019, quando o Noroeste surgiu no cenário da cafeicultura estadual como produtor de cafés especiais, ou seja, excelentes bebidas com pontuações acima de 80. Pelas características do relevo da região, a colheita não é mecanizada trazendo todo um cuidado e um conceito humanizado em todo o processo, desde a colheita até o momento da torragem. Todo esse cuidado faz com que a qualidade dos cafés especiais flumineneses seja percebida por qualquer pessoa, independente de expertise na área, através do olfato, pelo aroma envolvente; visualmente, pela coloração uniforme do grão, que dá aquele tom de cor de chocolate; e pelo sabor diferenciado, sem o amargor característicos dos cafés comuns de torragem escura. Assim, os cafés especiais possuem maior valor agregado e maior atratividade aos produtores rurais que escolhem esta cultura.

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Existe um grande movimento formado por muitas personalidades jurídicas envolvidas, trabalhando em conjunto para a melhoria de qualidade do café fluminense, intensificado no ano de 2014, em esforços mútuos entre o Ministério da Agricultura – MAPA, SEBRAE, EMATER-RIO e ASCARJ, através de programas de consultorias técnicas focado na produção de cafés especiais, o que mudou o cenário das bebidas de café do estado, deixando de concorrer com cafés de outras regiões do país pelo preço, passando a concorrer em um nicho de mercado que preza a qualidade. Esse movimento continuou com o Projeto de Fortalecimento da Cadeia Produtiva do Café no Noroeste Fluminense, abarcando novos parceiros como a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária, Pesca e Abastecimento – SEAPPA, a PESAGRO-RIO, as Prefeituras da região através da criação de programas específicos e mostras de cafés especiais, além do apoio técnico e financeiro do Banco Mundial através do Rio Rural. Todos esses esforços ocasionaram um aumento expressivo da produtividade, e elevou a região.

O Café Iranita é um case de sucesso que pode ser citado como exemplo, produzido em lavouras sustentáveis em Purilândia, 2º distrito de Porciúncula / RJ, Noroeste Fluminense, com altitude que varia entre 400 a 600m.
A propriedade nasceu em 1993, e leva o nome de Sítio Iranita, da família de produtores rurais formada pela Agrônoma Ana Regina Rocha Ribeiro Majzoub, e seu marido Suhail Majzoub, que ressaltam: “cuidamos dos nossos cafés como bebês, desde a colheita no pé, com tecidos que evitam que o fruto caia no solo, passando pela separação e seleção manual dos melhores grãos, a secagem em terreiro suspenso, a análise sensorial para a formação de lotes e ligações entre eles, classificação em Gourmet, Especial ou Microlote, até o momento de levá-los ao processo de torragem”. O Café Iranita recebeu diversas premiações, como, o 1° lugar Prêmio Estadual Sebrae Mulher de Negócio (2017), 1° lugar Prêmio Mulheres do Agro pequenas propriedades (2018), 1° lugar Prêmio Rio produtivo Sebrae (2018), 1° lugar Rio Coffee Nation como Melhor Café Torrado para espresso (2021), e o 3° lugar no Rio Coffee Nation (2021), sendo conduzido à uma nova prova Internacional na França, em 2022, como desdobramento do prêmio recebido em 2021.

Um assunto importante para o café da Região do Alto Noroeste é o processo de Identidade Geográfica – IG, que já possui trabalhos em andamento com a parceria do SEBRAE, EMATER-RIO, IFES Maracanã RJ , IFES Alegre Es, IFES Bom Jesus RJ e MAPA, movimento iniciado pela Associação dos Cafés Especiais do Alto Noroeste ACEAN-RJ, que lançará sua marca coletiva em breve. O processo de concessão do IG através do INPI é um processo composto de metodologia específica e estudos bastante detalhados, mas que visa o reconhecimento apontando o diferencial da região, onde predomina a agricultura familiar, e maior produtora dos cafés do Rio de Janeiro.

Outra região de produção cafeeira no Estado é o Vale do Café, que reúne 14 municípios localizados no Vale do Paraíba Fluminense, na Região Sul fluminense, que recebeu essa denominação por ter sido a maior região produtora e exportadora de café no Brasil no século XlX. Porém, após a interrupção da produção cafeeira por parte da maioria das propriedades rurais no início do século XX pela adaptação à pecuária Leiteira, a região perdeu o status de maior produtor de cafés do Estado para a Região Noroeste. À partir de 2016, com o fomento de ações na região por iniciativa do SEBRAE, alguns proprietários rurais participaram do Projeto de Reintrodução do Plantio de Cafés na região, que atuou de forma integrada ao Turismo Histórico Cultural Cafeeiro, resgatando a cultura cafeeira no Vale do Café, sempre com foco nos cafés espciais.

Além destas, a Região Serrana do Estado também abriga o cultivo de cafés especiais, ainda em menor escala que a Região Noroeste, contando nos Municípios de Bom Jardim, Cantagalo, Carmo, Cordeiro, Duas Barras, Petrópolis, São José do Vale do Rio Preto, Santa Maria Madalena, Sumidouro, Teresópolis e Trajano de Moraes.

Embora a produção de nosso estado seja pequena quando comparada ao total da produção nacional, existe um processo de melhoria contínua, proporcionando aos produtores um ciclo virtuoso de conscientização e investimento sistêmico em conhecimento e tecnologia para produzir um grão de nível superior, buscando levar até o consumidor um produto diferenciado, seja para exportação ou consumo interno. Desta forma, fica a dica para o empreendedor de cafeterias, bares e restaurantes, de buscar os melhores cafés produzidos dentro do nosso Estado, assim, fomentando a economia fluminense e oferecendo um produto exclusivo e de extrema qualidade para seus clientes.

Felipe Marinho Masid, Especialista em Gestão de Agronegócios pela UFRRJ
Administrador de Empresas, Gestor de Projetos, Gestor Público – Diretor Geral de Administração e Finanças da SEPLAG. Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão.

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