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Exposul Rural

‘A agricultura não vai parar’

"Entrevista com Wesley Mendes, presidente do Sindicato Rural de Cachoeiro de Itapemirim "

por Jornal Fato ES

em 27/03/2020 às 11h47

9 min de leitura

‘A agricultura não vai parar’

(Foto: *Arquivo/Fato)

 

Quando a crise do coronavírus obrigou ao isolamento social, eventos pra grandes públicos precisaram ser adiados. Isso interrompeu a contagem regressiva que já se fazia para a Exposul Rural, que, programada para abril, precisou ser adiada, para agosto.

E essa não foi a única mudança que a prevenção à Covid-19 obrigou no setor Agro, que se adapta à nova realidade e mantém a produção que faz abastecer supermercados e mercearias nesses dias de quarentena

Para falar sobre os percalços que a atividade agrícola tem passado e, felizmente, superado, o presidente do Sindicato Rural, Wesley Mendes, concedeu entrevista exclusiva ao Espírito Santo de FATO.

Nela, ele fala dos cuidados recomendados aos homens do campo para lidar com a pandemia, da preocupação com a colheita de café, que se aproxima, do funcionamento do Sindicato, entre outras coisas. Confira.

 

FATO – É preciso suspender os trabalhos no campo?

Wesley Mendes – Não. A agricultura não vai parar. Não houve nenhuma recomendação das autoridades de saúde em qualquer nível de governança, federal, estadual ou municipal de que as atividades rurais devem parar. Acho inteligente essa atitude porquê do trabalho da agricultura nesse momento, depende a continuidade do abastecimento nos supermercados e mercearias que estão operando. Se a agricultura parar agora, causa desabastecimento.

 

Alimentos podem ser contaminados?

O que a gente pede a todas as pessoas nesse momento, é que ouçam as autoridades sanitárias. Se a gente pegar um alimento in natura, os verdes, por exemplo, eles devem passar por um processo de higienização que você já faz normalmente na sua casa, de todos os dias. Nada muda nesse sentido. E claro, se vai comprar leite, compre industrializado e não in natura. Se vai comprar queijo, compre com selo de qualificação, que tem boas práticas de fabricação. Se vai comprar carne, compre a abatida em frigorífico credenciado pelo órgão de fiscalização do estado, que é o Idaf. Os fiscais do Idaf e Ministério da Agricultura continuam a fazer a mesma fiscalização que sempre fizeram para que os produtos cheguem com a qualidade que sempre chegaram à mesa do consumidor brasileiro.

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Como o setor agro está lidando com esse momento?

O setor agro lida com muita atenção para tudo que pode haver como consequência. Nesse primeiro momento, de combate ao coronavírus, estamos respeitando o afastamento social. O Sindicato Rural, por exemplo, que faz com que as pessoas transitem do campo até a cidade, para resolver seus problemas do dia a dia, funcionais e administrativos, está com a atividade paralisada. Todos os órgãos de estrutura da agricultura também estão com as atividades reduzidas ou completamente paralisadas. Estamos atentos e mostrando a todos os produtores rurais que é preciso que eles, agora, permaneçam nas propriedades rurais e venham à cidade o menos possível, para que não contribuam com o contágio do coronavírus.

 

Os produtores rurais já registram prejuízos com as medidas restritivas ao funcionamento do comércio?

Certamente há prejuízo na agricultura, como há no comércio ou indústria. Barreiras fechadas, cidades paradas, comércio vendendo menos, com certeza faz com que o agricultor também venda menos. Então, o prejuízo está sendo compartilhado com todos os outros segmentos que passam por esse momento de restrição do funcionamento. Se o comércio está fechado, há prejuízo sim para a agricultura, mas nem por isso vamos deixar de produzir. Até porque nosso negócio é a céu aberto. Então, a produção do leite, da olericultura, da carne, da suinocultura, da avicultura, enfim, continua normal nas comunidades rurais.

 

Qual o posicionamento do Sindicato em relação à mobilização de comerciantes quanto ao decreto que proíbe o funcionamento da maioria dos estabelecimentos por 15 dias?

O Sindicato Rural emitiu nota sobre isso, inclusive veiculada por esse jornal e site, onde deixamos claro que, em nenhum momento fomos consultados sobre o manifesto. Um ponto específico, que havia ali, em relação ao Sindicato, que era incentivar o diálogo com autoridades. Ora, me desculpem os outros segmentos, mas não encontramos nenhuma dificuldade de diálogo democrático e bem posicionado com nenhuma esfera de governança. Tanto no governo federal, estadual e municipal, temos conversado com todos e alinhado em cada um deles o posicionamento da Agricultura nesse momento. Não há por que tratarmos de um tema que, inclusive, nós não representamos. O Sindicato Rural represente produtores rurais. E é preciso dar legitimidade a quem representa os comerciantes, que é a Associação Comercial de Cachoeiro de Itapemirim.

 

Como tem sido a rotina do Sindicato. O atendimento presencial e o trabalho na sede continuam?

A rotina foi alterada. Também estamos cumprindo os decretos estadual e municipal para que não haja atendimento presencial. Isso faz com que a gente evite a circulação do produtor rural pela cidade. Estamos trabalhando em home office. Todos os nossos colaboradores estão trabalhando oito horas por dia nas suas casas, atendendo os produtores à distância e criamos toda uma estrutura de TI (tecnologia da informação) para que a gente pudesse fazer isso acontecer e estamos operando numa experiência nova e que tem dado resultado muito satisfatório neste momento.

 

O período de colheita do café se aproxima e é necessária muita mão de obra para o trabalho. Como será para fazer isso de forma segura nesses dias de pandemia em que é necessário evitar aglomerações?

A colheita do café é o momento que mais tem preocupado as autoridades do estado e a Federação de Agricultura do Estado do Espírito Santo, que tem tratado isso em nível estadual para que haja uma orientação única aos agricultores nesse momento. Existe toda uma questão trabalhista. Isso sim papel do sindicato orientar e proteger. Existe todo um perigo de infecção. Nós temos uma colheita de café que no Sul do Estado depende muito de mão de obra externa para que aconteça em tempo hábil. A colheita, geralmente, é feita com 30 a 40 dias, mas, talvez, tenha que ser estendida para 90 dias, para que se faça com mão de obra local. É preciso entender como vai haver o fluxo dessas pessoas. E aqui eu falo mais especificamente da colheita de café no norte do Estado, que recebe pessoas da Bahia e de Minas para apoiar a colheita, dado o grande volume de café produzido nessa região. A Federação de Agricultura do Estado está com o diálogo aberto com os órgãos governamentais, Secretaria de Agricultura e o comitê de combate ao Covid-19 do Governo do Estado, para que possamos dar orientação única a todos os agricultores e trabalhadores nesse sentido.

 

As feiras-livres também foram suspensas. Como ficam os que dependem da Agricultura Familiar?

Foram suspensas pode determinação da Secretaria de Agricultura de Cachoeiro de Itapemirim. Nós temos programas governamentais como o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e o CDA (Compra Direta ao Agricultor) e o próprio programa Tíquete-Feira, que também estão paralisados, até porque toda logística fica comprometida. Nesse momento, estou percebendo uma nova postura dos agricultores familiares, organizados na sua cooperativa, lançando mão da possibilidade de delivery. É um desses momentos em que a crise cria uma oportunidade. A gente sabe da dificuldade que os agricultores têm de eliminar o atravessador. Pois aí está uma boa oportunidade. Vejo que a agricultura familiar se mobiliza para fazer isso acontecer e entregar cestas nas casas das pessoas, até ajudando para que elas não circulem neste momento.

 

Uma das grandes preocupações dos últimos dias é com a produção de alimentos. Há risco de paralização por conta da pandemia?

A produção de alimentos, ela também, em alguns municípios, estados está sofrendo impacto, mas não há nenhuma perspectiva de desabastecimento neste momento, uma vez que os frigoríficos estão operantes, os laticínios estão operantes, as Ceasas estão funcionando normalmente, justamente para abastecer esses comércios que ainda estão abertos por orientação legal do Estado e do Município.

 

O principal evento Agro do Espírito Santo, a Exposul Rural, precisou ser adiado. Como será o processo para realizá-lo em outra data? Haverá prejuízo ao evento?

A Exposul Rural também precisou ser adiada. Vai acontecer em agosto desse ano ainda. Óbvio que um ano de planejamento, um ano de trabalho, de preparação para esta data de primeiro a cinco de abril, mas, infelizmente, nós também fomos atingidos pelo coronavírus. São mais de 300 empresas que também estão aguardando e operando. Por incrível que pareça, quando estendemos a data do evento, muito mais empresas estão procurando para participar da Exposul Rural, em qualquer período que ela for realizada. Isso é muito gratificante para o Sindicato Rural e tenho certeza que para a Prefeitura Municipal de Cachoeiro também, realizadora do evento junto conosco. Porque nos dá certeza que estamos no caminho certo. A Exposul Rural vai continuar se consolidando e esperamos que ela possa contribuir neste momento principalmente no pós-afastamento social, pós-isolamento, onde todos vão estar ávidos para vender e para comprar, fazer negócios e tocar suas vidas. E isso vai acontecer também na Exposul Rural. Então, estaremos prontos em agosto para atender pessoas e fazer com que a Feira aconteça ainda com mais grandiosidade de quando ia acontecer em abril.

 

Frases

“Do trabalho da agricultura nesse momento, depende a continuidade do abastecimento nos supermercados e mercearias que estão operando”

 

“Uma nova postura dos agricultores familiares, organizados na sua cooperativa, lançando mão da possibilidade de delivery. É um desses momentos em que a crise cria uma oportunidade”

 

“A colheita de café que no Sul do Estado depende muito de mão de obra externa. Geralmente, é feita com 30 a 40 dias, mas, talvez, tenha que ser estendida para 90 dias, com mão de obra local”

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