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Crise do gengibre faz nascer nova cooperativa de produtores nas Montanhas do ES

Com foco em sustentabilidade e na valorização da agricultura familiar, a CoopGinger reúne 50 cooperados

por Leandro Fidelis

em 24/08/2023 às 6h56

5 min de leitura

Crise do gengibre faz nascer nova cooperativa de produtores nas Montanhas do ES

(*Fotos: Leandro Fidelis- Imagens com direito autoral. Proibida reprodução sem autorização)

O gengibre está sempre sujeito às oscilações do mercado. No Estado maior produtor brasileiro e maior exportador mundial, 2020 foi um ano positivo, seguido de outro nem tanto. No ano passado, a alta dos insumos e do frete impactou o comércio da raiz na região produtora compreendida entre Domingos Martins, Santa Leopoldina e Santa Maria de Jetibá, que concentra 80% da produção nacional e onde a caixa já chegou a ser vendida a R$ 150.

Atualmente, o agricultor está praticamente pagando para trabalhar. Enquanto o preço da caixa de aproximadamente 14 kg é de R$ 20 a R$ 25 (contra os R$ 100 em 2021), o custo de produção fica entre R$ 35 a R$ 40. E devido ao baixo consumo interno, a saída é o comércio internacional da raiz. No entanto, os pedidos, antes de dez a 15 contêineres, minguaram a no máximo três e só foram realizados a partir de maio. Até agosto, a exportação reduziu mais que a metade, ao mesmo tempo em que a produção aumentou.

É nesse contexto que surge, em novembro, a Cooperativa dos Produtores de Gengibre da Região Serrana do Espírito Santo (CoopGinger). Com foco em sustentabilidade e na valorização da agricultura familiar, a jovem entidade reúne 50 cooperados, que produzem 400 toneladas por mês. Apesar da crise mundial- reflexo da guerra na Ucrânia e também da pandemia-, o grupo continua de mãos dadas na busca por melhores condições de vida e trabalho.

A primeira reunião da CoopGiner ocorreu em julho de 2021. Em setembro, 33 sócios-fundadores realizaram a assembleia de constituição da cooperativa, com sede em Caramuru de Baixo, zona rural de Santa Leopoldina. Dois meses depois, a CoopGinger se tornaria pessoa jurídica para atuar num mercado que, em 2020, gerou fluxo financeiro de R$ 47 milhões na sua região de atuação.

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“Ansiamos que esse mercado melhore e a gente consiga comercializar logo. Com a crise mundial, o produtor não está tendo o retorno necessário para investir no plantio”, declara Leonarda Plaster, primeira presidente eleita da cooperativa, otimista com a mudança de cenário nos próximos dez meses.

Mesmo com todos os desafios dos primeiros meses de atuação da CoopGinger, o grupo está otimista com a possibilidade de dias melhores e busca fortalecer a união pelo sucesso da cooperativa.

Desde os primeiros encontros, a CoopGinger contou com a assessoria do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) e da União Nacional das Cooperativas de Agricultura Familiar e Economia Solidária (Unicafes). Os sócios foram instruídos sobre o cooperativismo e gestão por meio de cursos de capacitação. Para muitos, foi o primeiro contato com o movimento econômico e social baseado na doutrina da colaboração.

“Na região tem a cooperativa de crédito (Sicoob), mas não de produtores. Agora, nossos cooperados estão conhecendo, se familiarizando e gostando da ideia. Eu mesma não sabia todos os benefícios do cooperativismo, de unir forças, como estou conhecendo agora. E vejo a quantidade de vantagens de trabalhar juntos”, diz Leonarda Plaster.

Produtora e advogada, Leonarda recorreu a todos os elementos para respaldar a recém-formada cooperativa e gerar credibilidade junto ao mercado para, consequentemente, firmar contratos. O carro-chefe da CoopGinger é o gengibre, mas a entidade está apta a atuar no comércio de outros produtos agrícolas. “Contamos com assessorias contábil, jurídica e de logística e exportação, bem como com parcerias no mercado interno e no exterior. Temos contato e apoio direto do Ministério de Agricultura, que está nos auxiliando para começarmos a exportar gengibre”.

Logística inviável 

Em regra, a exportação do gengibre para Estados Unidos e Europa é feita através de contêineres refrigerados. O porto mais próximo é o de Sepetiba, no Rio de Janeiro. Depois, outras opções seriam os portos de Santos ou Salvador, porém o custo com a logística torna inviável quaisquer transações no momento.

De acordo com Leonarda Plaster, não foi somente o valor do frete marítimo que aumentou, mas principalmente o do frete rodoviário no Brasil. O alto custo para escoamento do produto fez os agricultores buscarem outras alternativas de renda na propriedade. Muitos adiaram a colheita da raiz e optaram por outras culturas, como cará, inhame, açafrão e batata-doce.

“Estamos sem chances de competir com o mercado internacional. O custo da logística no processo de exportação aumentou de forma excessiva, principalmente o frete rodoviário no país. O gengibre é um produto da economia estadual. Se tivéssemos apoio do governo através de políticas públicas, facilitaria um pouco essa questão”, relata.

A alta do frete também afetou a exportação do baby ginger, um gengibre de formato menor só produzido de janeiro a março. Por ser perecível, o baby ginger só pode ser transportado por via aérea.

Outro ponto fundamental para a cadeia do gengibre funcionar é o escoamento local do produto no meio rural. Para Leonarda, a solução seriam a pavimentação e a manutenção das estradas para melhorar o acesso tanto para o recolhimento do produto nas propriedades como também e, principalmente, aos contêineres nos packing house.

“Temos localidades onde não é possível a chegada do contêiner para retirada do gengibre. Sem contar as dificuldades do processo no trânsito local, mais precisamente no Centro de Santa Leopoldina, com vias estreitas e não estruturadas para o fluxo desses veículos em sentidos opostos. Em um trecho de aproximadamente 300 a 400 metros, às vezes temos atraso de horas até a liberação do fluxo do trânsito”.

Leonarda Plaster é uma das três mulheres atualmente à frente de cooperativas agro no Estado.

*Continua nesta terça-feira (30)

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